Capítulo 12

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A cidade acordou num glorioso dia de verão. No início, ninguém notou nada de errado. A verdade é que, nos dias seguintes, ávidos jardineiros surpreenderam-se com a aparição precoce de campânulas-brancas e narcisos. 

Mas ninguém falou muito sobre isso. A fofoca da cidade se concentrou no súbito desaparecimento do farmacêutico. A princípio, muitos dedos apontaram para o sr. Dass, mas depois, quando um policial veio de Minehead numa bicicleta, muitas coisas interessantes foram encontradas na despensa nos fundos da loja. De repente, homens envergonhados estavam se empenhando em ser gentis com o pai de Armand, enquanto as senhoras de cara azeda diziam, sobre o sr. Mitchell, que Elas Sempre Souberam. 

***

Era a tarde do último domingo do verão. Kate acabara de terminar de ajudar a mãe a esticar uma rede para dormir no jardim. 

— Bom, querida, tem uma vista tão linda — dissera a mãe antes de fechar os olhos e adormecer. 

Armand espichou a cabeça por sobre a sebe. 

— Oi — disse. 

Kate acenou para ele. 

— Nem parece verdade — comentou o menino. — Realmente vai ter aula amanhã. 

— É mesmo — riu Kate. — Pensa só. Se não fosse por mim, nunca mais haveria escola. Ah. — Fez uma careta. — Gostaria de não ter dito isso em voz alta. 

— Talvez não seja tão ruim — sugeriu Armand. — Pode ser que as pessoas até falem comigo agora. Já que não acham mais que meu pai é um envenenador. 

— É verdade — admitiu ela. — Isso põe meus problemas em perspectiva. Vou acrescentar isso à lista. 

— Faça isso — disse ele. — Se ajudar. 

Ficaram parados olhando um para o outro durante um minuto. 

— É uma tarde bonita — comentou Armand. — A gente pode fazer ­alguma coisa. Sabe, dar uma boa olhada no museu. Algo inesperado e sem propósito. 

Kate sorriu. 

— Sim — respondeu. — Eu gostaria disso. 

— Bom, só se estiver aberto. 

— Vou perguntar ao Barnabas. 

Kate não vira o Curador por vários dias. Ele estivera fora. Correu para o lado do jardim, passando pela mãe que suavemente roncava, e se esgueirou pela sebe. 

O jardim de Barnabas estava vazio, a grama cozinhando sob o sol da tarde. O velho casarão estava silencioso. Ela o rodeou até os fundos e viu que a tenda de listras coloridas ainda estava lá. Uma aba estava aberta. 

Ela a ergueu e se espreitou no interior. 

A pequena cabana estava vazia, mas um cheiro pairava no ar. O cheiro da terra após a chuva. Farejou-o e, de algum modo, estranhamente, soube que nunca mais veria o misterioso Barnabas. 

Saiu da cabana e algo se moveu no canto de seu olho. Virou-se, ainda a tempo de vislumbrar a cauda de um gato desaparecendo na sebe. Era cinza. 

O coração aos saltos, pensou em ir atrás dele, mas então o sino na bicicleta de Armand a chamou. Ela correu pelo jardim até a rua. 

— Venha — disse Kate. — Só temos mais uma tarde. Vamos aproveitá-la ao máximo. 

E assim fizeram.

Quando Cair o Verão & Outras HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora