O Gino's era o melhor café da cidade. Desprezava viajantes que vinham à procura de cafés da manhã reforçados e presunto fatiado. Preferia aposentados ranzinzas, bolinhos de queijo e fofocas. Em qualquer dia da semana, estava cheio de clientes que se queixavam alegremente às garçonetes sobre velhas rixas e ossos cansados. Mas agora estava vazio.
A porta estava entreaberta. Uma faixa de neve abrira caminho para o interior. Kate varreu-a para fora antes de fechar a porta firmemente. Fez Armand sentar-se a uma mesa com uma flor artificial. Entregou-lhe uma revista dobrada, depois foi para a cozinha lutar com o forno a gás. Alguns minutos depois, trouxe duas canecas de sopa e um pouco de pão velho, mas nem tanto.
Por alguns momentos, os dois ficaram sentados, bebendo e fitando um ao outro.
— Hum — disse Kate.
Armand soprou a sopa.
— Você causou tudo isso? — exigiu saber.
Ela se espantou.
— Hã, não — respondeu. — Pensei que tivesse algo a ver com você. Quero dizer, por que outro motivo estaria aqui?
— Isso é o que eu pensava sobre você — replicou Armand. Encontrou um frasco de pimenta e deixou o conteúdo cair em cascata na caneca.
— Como pode tomar sopa assim? — riu Kate.
— É bom — respondeu ele. — Então, não foi você?
— Um gato assumiu a responsabilidade — contou ela em tom distraído. — O que é ridículo. Mas conhece o gato que pertence ao curador do museu? Está aqui. E... falou comigo... ou, pelo menos, achou que falou e... — Sua voz sumiu. — Passe a pimenta, sim?
Armand fez o frasco de molho deslizar pela mesa até ela.
Continuaram bebendo a sopa. Lá fora, mais neve caía.
— Acho que estamos presos aqui — explicou o menino. — Tentei chamar a polícia, mas os telefones estão mudos.
— Imagino que sim. — Kate acabou com o último pedaço de pão. — Poderíamos tentar andar até a estrada principal. Mas acho que estamos presos mesmo. Tem algo errado com o mundo.
— O gato disse o que está acontecendo? — perguntou Armand.
— Um pouco. — Ela explicou sobre a pintura e o anel que o animal havia encontrado. — Estou imaginando se estamos aqui porque... — pensou um pouco — ambos tocamos a pintura.
— Então, aquele terceiro objeto... em algum lugar lá fora tem uma mulher com uma chave?
— Acho que sim — disse Kate. — Precisamos começar a procurar. Quando você terminar a sopa.
***
Foi assim que encontraram Milo. Uma criança pequena e loira, usando nada mais além de calções de banho. Soluçava alto.
— O que há com os meninos neste lugar? — Kate se permitiu suspirar. — Passam o tempo todo chorando?
— Se ele não chorasse tão alto, a gente não o teria encontrado — afirmou Armand.
— É verdade — admitiu ela.
Milo estava encurvado na varanda do salão de boliche. Aninhado em seus braços havia um cãozinho de ar infeliz.
— Não gosto de cachorro — anunciou Kate.
— Prefere gatos — explicou Armand.
— Ah — fungou Milo. As lágrimas do menino pingavam na pele do cão, que as lambia, com uma expressão perplexa.
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Quando Cair o Verão & Outras Histórias
Mystery / Thriller"Quando o verão acabar, o Senhor do Inverno surgirá..." No vilarejo costeiro de Watchcombe, a jovem Kate está determinada a aproveitar o máximo sua última semana de férias de verão. Mas quando ela descobre uma misteriosa pintura com o título de 'O...