Capítulo 11

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O mundo recomeçou. 

Kate estava na plataforma em cima do farol. Uma faixa de céu azul-claro raiava entre as nuvens. O sol estava quente contra a pele gelada. Ela sentou. 

Pés retumbaram pelos degraus metálicos e Armand surgiu correndo para ajudá-la. Atrás dele veio Barnabas, segurando algo nos braços. Primeiro, ela pensou que fosse um casaco. Depois, entendeu. 

Era o corpo do gato cinza. 

— Ah! — disse Kate. Correu em direção ao Curador. — Faça alguma coisa! — gritou. Ele balançou a cabeça, tristemente oferecendo-lhe o volume que carregava. 

Ela embalou o gato nos braços. Os olhos dele se abriram, trêmulos. 

— Ah — suspirou o bichano. — Olá. — Tentou lamber uma pata, mas desistiu e piscou para a garota. — Está gostoso e quentinho aqui. Finalmente. 

Kate ergueu o olhar. A faixa de céu azul se espalhava. As nuvens fugiam às pressas, como que envergonhadas. 

Um raio de luz solar desceu, reluzindo no cata-vento. 

— O inverno acabou — disse Barnabas, triste. — O sol está saindo. 

— Estou vendo. — O gato esforçou-se debilmente para roçar no queixo de Kate. Desistiu. 

— Então, é assim que é a morte. Eu ficava imaginando. Interessante. — Os bigodes se contraíram. — Pode me colocar sob o sol, por favor? Eu gostaria de sentir o calor. 

Kate fez o que ele pedia, estendendo as mãos o máximo que pôde. 

— Gostoso — murmurou o gato e bocejou. 

— Não! — soluçou a menina. 

— Receio que sim — disse o bichano. — Estou tão cansado. Terrivelmente cansado. 

As pálpebras tremeram e se fecharam de vez. O gato cinza ronronou por algum tempo; depois, silenciou. 

Kate segurou o volume imóvel até os braços doerem. Depois, Barnabas tomou-o gentilmente dela. 

— Sinto muito — disse ele. 

Kate esfregou o nariz, depois foi até a grade. 

— Cadê o sr. Mitchell? — perguntou. 

Armand apontou. O velho estava lá, desafiadoramente no chão. 

— Façam como quiserem! — rugiu. — Daqui eu não saio. 

Barnabas foi até a grade e olhou para baixo. 

— Menininhos — bradou — não devem brincar com brinquedos que não são deles.

— Não sou menininho — replicou o sr. Mitchell, orgulhoso. 

— Ah, é, sim — disse Kate. — Você envelheceu, mas nunca cresceu. É uma pena. Desperdiçou sua vida. 

— Suba aqui — incitou-o Barnabas. — Este mundo está se dissolvendo e nós vamos para casa. O topo do farol é o único ponto seguro.

— Seguro? — gritou o velho. — Até parece. Vou ficar aqui. 

— Não pode fazer isso! — disse a garota. — Ainda há tempo! O Senhor do Inverno se foi. O verão está voltando. 

— Não acredito em você. — Ele foi desafiador. — Vou ser jovem outra vez! Ele não pode ser derrotado por uma menina idiota. 

Nesse ponto, Kate decidiu que realmente não lhe importava o que acontecesse a ele. — Vou ficar aqui — repetiu o sr. Mitchell. 

Enquanto falava, figuras surgiram pelo mar. Figuras espectrais com rostos jovens. Vestiam uniformes e marchavam silenciosamente em direção à costa. 

— Viu só? — riu Milo. — Estão todos voltando para casa. Todos os meus amigos. Vamos todos ser jovens para sempre! Finalmente consegui o que quero. 

Enquanto falava, uma fenda ecoou pelo mar. As figuras fantasmagóricas desapareceram quando o mar se partiu em dois, a água jorrando de um zigue-zague, icebergs desabando em direção ao porto. As paredes tremeram com o impacto e o farol se inclinou num ângulo alarmante. De fato, pensou Kate, se você estiver no topo de um farol, qualquer ângulo que não seja perpendicular é alarmante

— Depressa! — gritou Barnabas. — Segurem na grade! Isto está prestes a ficar muito excitante. 

O farol se inclinou, caindo em direção ao sol, que, de repente, vinha em direção a eles muito rápido.

Quando Cair o Verão & Outras HistóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora