2. Moletom

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 Uma garoa fina caia quando Brian chegou em casa. A rajada de vento que entrou junto dele anunciou sua chegada. Encontrou Marise e Melissa bebendo chá na cozinha.

— Eu já estava perguntando por você — disse Marise, assim que Brian apareceu. — Está tudo bem, meu filho?

 Brian já esperava que sua mãe fosse perceber que algo estava errado. Marise nunca deixou passar qualquer aspecto estranho na aparência dele.

— Eu só... Estou com dor de cabeça — mentiu ele. — Vou me deitar um pouco.

— Claro — disse Marise segurando a xícara perto dos lábios. — Eu arrumei seu quarto hoje mais cedo.

— Obrigado. Vejo vocês mais tarde — Brian saiu, surpreso por saber que seu quarto não tinha sido transformado em um depósito.

 Marise ficou compassiva, olhando para pela janela.

— Você acha que eles se encontraram? — perguntou Melissa, quebrando o silêncio.

— Sim, eu vi o carro dele estacionado quando saímos.

— Você vai contar para ele que o Tobias está...

— Não — Marise a interrompeu. — Ele já está lidando com muita coisa. Vamos esperar um pouco.

 Melissa concordou e Marise de um sorriso fraco antes de beber um gole do seu chá.

 Ao abrir a porta do quarto, Brian foi tomado pela mesma sensação nostálgica de antes; aquele costumava ser seu abrigo quando Vincent chegava bêbado em casa. Mas não era mais o mesmo lugar. A cama estava arrumada com um lençol azul que combinava com os travesseiros. Não havia cortinas nas janelas, nem tapete no chão. Seus pôsteres foram tirados da parede mas a marca da cola ainda era visível — e Brian imaginou Vincent os arrancando, enfurecido. Ele precisou balançar a cabeça para que quele pensamento se esvaísse. 

 O guarda-roupas continuava na parede em frente à cama mas estava velho. Brian se aproximou dele e o abriu. Estava vazio  — com exceção dos cabides. Porém encontrou algo no fundo de uma das gavetas. Era um moletom acinzentado com uma mancha amarelada no capuz e as iniciais da escola onde estudou. O moletom de Tobias.

 Sentou-se na cama com o peso das lembranças o atingindo como um raio. Era engraçado como um simples objeto podia desencadear tantas emoções. Lembrou da primeira vez em que viu Tobias, há exatos nove anos atrás. 

"Parece que você terá um vizinho novo", comentou seu amigo, Eric, naquela ocasião. Os dois estavam na frente da casa de Brian quando um carro estacionou do outro lado da rua e um garoto que parecia ter sua idade e uma mulher loira saltaram de dentro dele.

"Parece que ele não tem força, isso sim",  disse Brian que observava o garoto enquanto ele tirava caixas de dentro do porta-malas e levava para dentro da casa. 

 Brian sorriu ao lembrar do quão desajeitado Tobias estava naquele dia e da caixa se abrindo e derrubando seus livros no gramado. 

"Nós deveríamos ajudá-lo", Eric disse e Brian pensou que ele tivesse feito uma pergunta até ver o amigo atravessando a rua. 

 "Isso sempre acontece comigo",  dizia Tobias quando Brian se aproximou. Eric equilibrou nos braços o máximo de livros que pôde, e os colocou em outra caixa. Tobias agradeceu, um pouco sem jeito, e se apresentou para Eric. 

"Você tem uma biblioteca?!", Eric brincou e Tobias pareceu não entender o sarcasmo.

"O suficiente para fazer um nerd. Você vai ser meu vizinho?".

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