3. Cidade pequena

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 Alguns feixes de luz entraram quando amanheceu e Brian se virou na cama. Havia colocado uma cortina na janela mas ela não fora suficiente para bloquear a luz do sol. Abriu os olhos e encarou o teto com a cabeça no travesseiro. Que horas tinha ido dormir? Ele passou madrugada a dentro pensando em tudo o que aconteceu naquele dia. O reencontro com Tobias, com Vanessa... Tudo o atingiu como uma pesada onda. 

 Levantou-se, um pouco resistente, enquanto se dirigia ao banheiro. Lavou o rosto, escovou os dentes e deu uma ajeitada no cabelo bagunçado. Podia sentir o silêncio que era uma novidade naquela casa. Quando Vincent estava vivo — e ele morava ali — a tv da sala sempre estava ligada em volume alto e sempre havia um amigo de Vincent presente. 

 Agora, o único som que Brian podia ouvir era o de seus passos enquanto ia até a cozinha. 

— Mãe? — ele chamou quando se aproximava mas não obteve resposta. Chegou à cozinha e encontrou um bilhete sobre a mesa. 

 Estou na igreja e Melissa saiu com as amigas. Tem dinheiro no balcão, vá ao mercado e compre o que quiser.  

Mãe.

 Brian olhou para o relógio pendurado na parede. Era 15 horas. Estava desacostumado a dormir tanto assim mas estava ciente do motivo. Olhou para os pés e percebeu que estava descalço, usando apenas meias, e voltou ao seu quarto para calçar um tênis antes de sair.

 Quando abriu a porta e saiu, Brian não conseguiu evitar não olhar para a casa de paredes brancas do outro lado da rua. Parecia quieta e vazia. Ele agradeceu em silêncio por não ter visto ninguém enquanto descia a rua. 

Chegou ao mercado 15 minutos depois. Até aquele breve passeio foi mais revigorante do que permanecer em casa remoendo tudo que acontecera. "Será que ele ainda morava lá? Ou estava visitando a mãe?", pensou Brian enquanto se dirigia até a sessão de frios. 

 Pegou o suficiente para um café da tarde e colocou em sua cesta. Estava indo para para a fila quando ele o viu. Merda!

 Eldorado era uma cidade pequena, ele sabia disso, mas estava sentindo como se ela fosse uma lata de sardinhas. Fechou os olhos por um momento enquanto pensava no seu próximo passo. Por obra do destino — ou simplesmente azar — não haviam outros caixas abertos, então ele seria obrigado a ficar na mesma fila que Tobias. Respirou fundo e caminhou até a fila que se resumia a um casal de homem formado por um homem e uma mulher, uma senhora e Tobias junto de sua mãe. Para completar a infelicidade ele teria que ficar atrás dos dois. 

 Enquanto caminhava ele considerou a hipótese de voltar e esperar até que eles fossem embora. Mas isso seria tão ridículo que ele se sentiu envergonhado só por pensar em fazer algo assim. Ele não precisava se esconder. Precisava?

 Se aproximou fingindo conferir os itens em seu cesto, o coração acelerando a cada passo. Tobias estava de costas mas Helena falava algo com ele. Brian questionou quanto tempo teria que ficar de cabeça baixa quando decidiu olhar para cima. E Tobias olhou para trás.

 A troca de olhares durou meio segundo mas foi o suficiente para que Brian tivesse algo semelhante a uma crise de ansiedade e vira-se para trás, chocando sua cesta com o carrinho de uma mulher que tinha parado atrás dele — e ele não percebera.

 Se Brian queria passar despercebido, agora todos olhavam em sua direção. 

  — D-desculpa — disse para a mulher.

— Você vai continuar na fila? — ela perguntou e Brian sentiu uma gota de suor em sua testa. Ele não sabia o que fazer.

— Sim.

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