luto

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Eu demorei pra postar, porque fiquei triste com o capitulo. Eu chorei, quase desisti de seguir o que a historia depois de completa estava pedindo.... Me xinguem, mas não me matem. Foi difícil pra eu concluir esse capítulo.
     Helen dos Santos.

Não force...
Não obrigue...
Espere....
Tudo tem um propósito...
Tudo tem um tempo certo...
Hoje você pode não entender...
Mas a dor te fará mais forte...
Deixe as lágrimas cairem...
E um dia entenderá, que apenas um coração parou de bater.

A vida real não é igual ao conto de fadas, onde você completa 18 anos, encontra seu príncipe derrota a madrasta má e parte com seu amado num cavalo branco e.... The End, viveram felizes para sempre.
Essa história de A Cinderela, branca de Neve, a Bela e a Fera, João e Maria, eu já conheço, mas na realidade, não funciona assim.
Eu queria amar Gustavo mais do que amigo, mas isso não aconteceu. Eu queria formar uma familia, mas não se trata de quereres se trata de lição.
E eu nunca, nunca, tive tanta vontade de desistir como agora.
Do dia 17 ao dia 23 foi uma rotina básica hospitalar.
Eu tive alta no dia 19, mas fui incapaz de ir pra casa.  Eu esqueci que tinha acabado de passar por um parto de cesariana e ficava em uma dieta regada a café, comidas de sei la onde e dormia no banco da sala de espera do hospital. Eu simplesmente queria estar ali. Ate me deixAvam tomar banho ali rapidinho, pois acho que iria acabar sem banho também.
Dia 24 às 7 da manhã muita coisa mudou.
O pediatra, dr Luiz Guilherme, me chamou ao seu consultório, na verdade, chamou os pais de Edward.
----Ele está muito fraquinho. Creio que ele não resistirá.
----- E o que posso fazer pra ajudar??
----Orar.
-----Então eu quero pegar ele no colo.
Se eu ia perdê-lo que ao menos, eu sentisse o calor da sua pele mais uma vez e ouvir o barulhinho de seu coração e que ele sentisse que eu o amo, e sempre e pra sempre o amarei.
Gustavo e eu vestimos a roupa apropriada para entrar na neonatal e la estava meu pacotinho.
Quando ouviu minha voz, momentaneamente ele abriu seus olhinhos e um meio sorriso eu tenho certeza que vi.
Sentei na poltrona que tinha ali, abri aquela blusa que estava vestindo e o aconcheguei, no calor do meu corpo.
"Um dia e o tempo voou, você já é, e os olhos ainda não abriu
São 2 e eu te amo, mas você ainda é pequeno demais, viu?
3 dias e o tormento, aquele sofrimento, não queria que pudesse sentir.
Mas acalme o coração, jaja você sai daqui.
Não me importo com o trabalho e nem com a vida de despesas, só por favor fique aqui.
E se por um acaso, tu não tiver meus olhos, saiba que pra sempre eu vou te amar.
Se foi tempestade, todo medo, não tive arrependimento eu só te quero pra mim, eu ainda não te tenho inteiro, não te conheço direito, mas eu posso te ouvir.
E quando minha barriga foi crescendo, mesmo não estando linda, eu só queria te conhecer.
Meu amor descansa um pouco que pra sempre eu amo você.
4 dias se acalme, mamãe tá chegando, só quero poder te abraçar.
O quinto passou rápido e sua roupinha era toda azul.
E quando chegou o sexto, todo mundo viu, que você estava mais fortinho.
No sétimo tinha plaquinha com seu nome, vem papai pegar seu menininho.
Se é tempestade todo medo, não tive arrependimento, mas quero te tirar daqui, eu ainda não te tenho inteiro, não te conheço direito, eu só quero te ouvir.
E quando minha barriga foi crescendo, mesmo não estando linda, só queria te conhecer.
Fecha os olhos e fica bem quietinho, pois mamae, ama você.
Oitavo dia aguenta, mamãe tá chegando, só quero poder te abraçar.
No nono veio a pressa, a dor, o choro, perdoa a mamãe não poder te salvar.
E por mais uns anos, ainda vou fazer planos, achando que você está aqui.
E eu vou acordar, bem de madrugada, pensando que ainda está aqui.
O seu primeiro passo queria que fosse no meu abraço, pra te segurar quando cair, mas no final do dia, só os 9 meses e 9 dias que te tive será capaz de me ajudar a dormir.
Hoje tudo é tempestade, sofrimento, pois eu não te tenho aqui.
Você se foi e me deixou aqui, mas ainda seu choro na minha cabeça eu posso ouvir.
E quando minha barriga foi secando, e o tempo foi passando, eu só queria te ver.
Descansa em paz pequeno Edward, para sempre mamãe vai amar você.
Descansa em paz pequeno Edward, mamãe sempre vai amar você."
E assim após 9 dias, 216 horas, 12.960 minutos e 777.600 segundos, minha vida virou de cabeça pra baixo.
Assinar o atestado de óbito, foi a missão mais difícil que eu fiz na vida.
A versão da música oração do bebê que eu tinha feito sobre uma mamãe feliz, se perdeu, então quando eu o peguei no colo, essa outra surgiu e eu a cantei pro meu pequeno Edward com todo o amor e emoção que eu possuia em meu coração.
E quando eu disse descansa em paz ele abriu seus olhinhos uma última vez e parou de respirar.
Eu queria gritar, quebrar todo o hospital e pensar que tudo isso não passa de um pesadelo inútil.
Não, isso é apenas parte da vida real.
Eu já me perguntei umas mil vezes porque eu não fui levada ao invés de meu bebe.
Eu que sou pecadora, já vivi longos 24 anos que so serviu pra ferir as pessoas.
Talvez eu tenha nascido pra ter um Edward apenas por pouco tempo na vida, é o segundo que perco.

Enquanto eu não cheguei em casa, consegui, digamos que manter a pose.
Eu me sentia quebrada, destruída, vazia por dentro.
Eu já não sentia nada.
E sabe o que é pior?
A vida estava me esperando pra seguir seu percurso.
A parte mais difícil do meu dia alem de ver Edward partir pra sempre, foi chegar em casa sem ele, apenas com a bolsa da maternidade.
Seu lado do quarto estava a espera dele, tudo que preparei com tanto amor.
Eu não sabia quando as lágrimas chegaram, mas elas estavam descendo como as cataratas de Nicarágua, mas não emitiam um único som, eu só percebi que não estava sozinha, quando Gustavo me abraçou.
Seus olhos estavam vermelhos de chorar e sua voz rouca.
-----Força menina.
Olhei pra ele como se não o conhecesse.
----Nosso acordo chegou ao fim Gustavo, já pode ir.
----Do que você está falando?
-----Você não está vendo? Não tem bebê____ Eu me sentia derrotada, não consegui me importar com a dor dele que também achou que levaria pra casa um bebê que por sinal nem era dele.----Nosso acordo vinha dele, agora não tem porque ficar aqui.
-----Evlyn isso é um absurdo, não isso é uma loucura. Você precisa de mim.
-----Não Gustavo, o que eu preciso é sofrer em paz. Eu quero ficar sozinha. Eu não preciso de piedade.
Eu gritava como uma histérica, como se assim minha dor fosse diminuir. E acho que Gustavo percebeu que nesse momento não adiantaria argumentar comigo.
Os dias foram passando e eu não conseguia comer, não conseguia dormir, escovar os dentes e nem tomar banho.
Meu seio vazava e doía, porque meu corpo parecia não  entender que meu Edward morreu.
Eu não sei ao certo quantos dias se passaram, mas acordei no hospital aparentemente de banho tomado e senti muita, mas muita raiva.
-----Mas que merda está acontecendo aqui???
Imediatamente apareceu uma enfermeira.
-----Seu esposo chegou em casa e te encontrou desmaiada então ele te trouxe pra cá, demos uma injeção de dipirona pra abaixar a febre e cabergolina para secar o leite.
-----E quem autorizou?
----Seu esposo.
-----Eu não tenho esposo, não tenho um filho e não me deixam morrer em paz. Nem pra isso eu sirvo? Pra morrer?
-----Me desculpe senhora.
E aplicou outra injeção que tenho certeza ser um calmante do tipo mata leoa.
Quando acordei novamente Gustavo estava ao meu lado.
-----Posso saber, como você entrou na minha casa?
Ele ficou claramente envergonhado.
-----Você nunca que atendia eu, aí arrombei a porta. Você tava caida no chão com uma febre alta, delirando alguma coisa e desmaiou. O que você tava tentando com aquilo tudo?
-----Eu não tenho mais motivos pra viver. Acho que já aguentei minha cota de dor por uma vida.
----No fim Evlyn tudo fica bem, você sabe disso. Você sempre recomeça. Saindo daqui vamos a igreja, você conversa com o pastor, se quiser viajamos, vamos a praia, te convenço a beber água de coco.
-----No momento não quero nada disso.
-----Você não pode ficar sozinha Evlyn, pensa bem, se você ta passando por isso tudo é porque Deus te escolheu e sabe que você aguenta.
-----Eu fiz as escolhas erradas, e estou pagando pelas consequências.

Eu não sei que raio de tempo de aceitação e esse, só sei que não consigo olhar no espelho e enxergar esse vazio que tomou conta de mim, me sinto como se tivesse em um mar, onde não tenho forças para chegar até a areia e vou afundando e afundando.

-----Eu conversei com o médico e ele disse sobre você ir num psicólogo, porque as vezes alguém que não está envolvido, consegue te ajudar melhor.
-----Tá bem.
Eu não queria argumentar meus motivos para querer sumir do mapa.
Eu cheguei a 85 kgs na gravidez e em 2 semanas já perdi 20.
Lembra da vizinha que comentei, bem o nome dela e Helena. Ela começou a me visitar depois que tive alta, as vezes penteava meu cabelo me contando alguma coisa, que não ficou na minha cabeça, sobre sua vida.
Outras vezes, pedia pra eu cuidar do seu menininho mais novo pra levar a mais velha a sorveteria.
Helena tentava trazer algum sentindo a minha vida.
-----Evlyn, o que pretende fazer com as coisas de Edward?
---- Não sei Helena.
-----Que tal doar?
-----É uma boa ideia.
E eu sorri, como raramente acontecia.
Um dia estávamos vendo o filme O Rei Leão com as crianças, a menininha Natália, chegou bem perto de mim, com seus lindos cabelos loiros e olhos azuis tão inocentes e me perguntou:
-----Tia, pra Indie o pequeno menino moleu?
Natália me chamava de tia Indie, e meu filho de pequeno menino.
Sem reação tentei responder a pergunta.
-----Não.
Ela não se deu por satisfeita e pos a mão na minha barriga.
----Ele ta aqui tia?
----Não, pra tia Indie, ele está aqui___apontei pro meu coração----E aqui____ pus a mão na cabeça.
Respondi com uma careta provavelmente terrivel tentando não chorar, mas foi o melhor que consegui pra convencê-la que estava tudo bem a pergunta dela.
As vezes e difícil lidar com a sinceridade de uma criança, mas me fez clarear as ideias.

Os amores da minha vida(concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora