Depois de uns bons minutos a observá-lo e ouvi-lo sabia que ele me fazia lembrar alguém. A resposta foi difícil de encontrar mas finalmente sabia quem.
O meu melhor amigo do infantário e da primária!
As expressões faciais, a voz (apesar de um pouco diferente por causa da adolescência) ... era praticamente tudo igual!!Depois de uns bons minutos a fazer-lhe perguntas não podia estar mais certa que era mesmo ele e não sabia se lhe devia dizer quem sou.
Toda a gente pensou que eu morri numa viagem de carro com os meus pais quando estava no 3º ano. Não conseguia imaginar nenhum cenário positivo se lhe contasse que estava viva. Pensava que poderia ficar traumatizado, chatear-se e simplesmente sair sem nunca mais me dizer nada, começar com imensas perguntas por duvidar... tudo menos bons cenários. No fundo eu compreendo, se do nada após anos um rapaz chegasse ao pé de mim e dissesse que era o meu melhor amigo que eu achara estar morto eu realmente não sei como imaginaria. Se bem que me consigo imaginar a dizer "pois bem, e eu sou o pai natal, prazer e adeus." Sim eu sei... provavelmente não seria a melhor resposta a um assunto tão sério como este, mas eu também nem sempre reajo muito bem a assuntos sérios. Fosse como fosse não sabia o que fazer e sinceramente não era um assunto do qual gostaria de falar e andar a responder a 1001 perguntas.
*É melhor não tocar no assunto...*
Nick: O que se passa? Estás calada à imenso tempo...
Jane: A sério? Nem reparei *fiz um sorriso forçado*
Nick: Estás a esconder-me algo ou é impressão minha? Está tudo bem? Como me disseste podes ser sincera comigo.
Jane: Não te preocupes, deve ser mesmo só impressão tua.
Nick: Não... não me parece, mas isso resolve-se.
Ele começou a fazer-me cócegas e eu comei a chorar de tanto rir. Já não aguentava mais.
Nick: Saudades de fazer isto com a minha melhor amiga...Sabes, às vezes sinto saudades dela. Dela e de tantas outras coisas que simplesmente não voltam mais... Mas às vezes olho para o céu e deixo-me sorrir porque sei que algures lá em cima ela está segura e a olhar por mim...tal como o meu pai.
Deixei de ouvir completamente o que ele dizia. Só conseguia pensar *Estás a brincar comigo?? Tu leste-me a mente ou quê? *
Sentia que precisava de pelo menos 24horas para interiorizar tudo e conseguir perceber o que fazer quanto a ele. Estava totalmente chocada com tudo, afinal de contas não esperava reencontrar o meu melhor amigo.Permaneci em silêncio
Nick: Desculpa, nem sei o que me deu para falar disto. Tens mais que fazer do que me ouvir falar das minhas coisas. *fez um sorriso forçado*
Jane: Não tem mal nenhum achas?! Podes falar à vontade. Fala-me dela. Como é que ela morreu?
Nick: Ela morreu num acidente de carro com os pais. Ela era única sabes... Era com ela que ria, chorava, me divertia, desabafava... ela era tudo para mim e sinceramente não merecia o que lhe aconteceu. Nós passávamos tardes e tardes em casa dela a brincar ou então na minha. Viviamos na mesma rua e os nossos pais conheciam-se também já antes de nós existirmos. Quando o meu pai faleceu ela apoiou-me de uma forma inexplicável. Pareciamos dois pequenos adultos. Por vezes eu pensava para mim que ela seria a mulher com quem casaria um dia.
*Não sei ao certo quando nem o porquê mas corei*
Tenho mesmo de começar a controlar-me ou a minha capacidade de transparência ainda me vai lixar a vida.
A verdade é que as palavras dele deram-me a volta à cabeça, acabando por me tocarem com força no coração. Eu sei, muito lamechas, mas o que quero dizer é que senti um aperto estranho no coração.
Não sabia bem o porquê do aperto. Talvez saudades daqueles tempos, talvez tristeza por relembrar o incidente, talvez pelo pensamento dele acerca de nós... já só lhe queria contar tudo e abraçá-lo.Nick: Já vi muita gente reagir de formas diferentes a esta história mas corarem é a primeira. Está tudo bem?
Jane: Sim, deve ser do calor *disse rindo-me para disfarçar*
Nick: Calor han? Interessante. Não sei se é bom ou mau nem ao certo o porquê mas em alguns aspetos fazes-me lembrar a minha melhor amiga. Desculpa tocar tanto no assunto.
Jane: Não tem mal. Já te sentes melhor?
Nick: Já, obrigado. Nunca ninguém se preocupou tanto comigo.
Jane: A sério? Então e a tua antiga melhor amiga?
Nick: Nessa altura eu não sofria bullying por isso nunca teve de me ajudar muito nestes aspetos e erámos tão novos que basicamente a nossa normal solução era um abraço. Mas sim, ela apoiava-me imenso e sem dúvida que fazia os possíveis e impossíveis para me ver bem.
Jane: Sei que isto pode parecer estranho mas se quiseres podes jantar cá. Ia jantar sozinha mesmo porque o meu pai não vem tão cedo a casa.
Nick: Então e a tua mãe?
Jane: Morreu num acidente.
Nick: Desculpa, não queria falar nisso.
Jane: Não faz mal, não sabias. Para além disso sinto que não éramos próximas suficientes para me afetar.
Fomos fazer o nosso jantar e claro, vindo de mim tínhamos de fazer pizza. Mas confesso que foi bastante divertido. Fizemos figuras nas pizzas e ainda nos sujámos um ao outro com farinha.
Enquanto as pizzas estavam no forno eu e ele fomos ver um filme que estava a dar na televisão. Estava a dar "Bad Boys ll". Um filme que é de comédia.
Jane: Eu adoro este filme!
Nick: É um filme interessante sem dúvida. Já tinha tantas saudades de me divertir assim, obrigado, a sério!
Jane: Não tens de agradecer! É um prazer e não custa nada até porque também me estou a divertir imenso.
As pizzas ficaram finalmente prontas e por isso fomos jantar.
Estava super feliz com tudo aquilo. O facto de reencontrar o meu melhor amigo, de estar numa cidade que eu simplesmente adorava e de estar a passar um momento tão bom. Era daqueles sentimentos que simplesmente se sentem e que não dava para explicar.