Beginning

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Apenas tente me contar

O que tanto te assusta?

Por que você só assiste a uma certa distância?

Você sabe que isso é frustrante para mim também

Será bom se você parar de esconder as coisas

Beginning - Capítulo um


Lá estava eu, sentada na cama revirada de lençóis brancos, olhando para a neve que caia calma por cima das copas das árvores que haviam em frente à janela daquele quarto acinzentado que julgava ser nosso. Nosso. Era realmente estranho dizer isso depois de tanto tempo. Não existia mais nossas coisas, nossa casa, nossa vida, eu e Jackson. Era apenas eu, e eu mesma.

Jackson Wang. Um homem bem sucedido, elegante e charmoso, para não dizer lindo. Meu marido.

Eu poderia listar todas suas qualidades maravilhosas, mas como nem tudo é mar de rosas, Jackson Wang tem defeitos como qualquer outro ser humano, mas alguns deles, imperdoáveis diante a sociedade.

Casei-me com Jackson quando tinha apenas dezenove anos de idade. Hoje já tenho meus vinte e seis anos. Há sete anos que estamos casados e dois anos que aguento meu marido me trair e me largar em casa como um nada, vindo apenas para trazer-me comida, como um "bom" marido faz para sua "amada" esposa.

Jackson dizia me amar quando namorávamos, e até certo ponto de nosso casamento, mas algo em si mudou. O garoto galanteador e carinhoso que conhecia quando tinha dezesseis anos, desapareceu. O rapaz, agora com trinta anos, passa dias longe de casa. No começo da traição, ainda dormia todas as noites comigo (sem fazer nada, é claro. Jackson estava cansado demais de mim.), mas agora, nem isso faz mais. Vem apenas no almoço e janta, ver como "estou" e trazer algo para que eu possa comer e não morrer de fome, já que meu desgosto é maior que minha vontade de me alimentar.

Desde quando perdi meu filho, fruto do suposto amor entre Wang e eu, entrei em uma depressão horrível. Jackson nos primeiros seis meses ainda cuidava de mim, e dizia que a culpa não era de nenhum dos dois, e que isso acontecia. Mas depois de um tempo, desistiu de mim, mandando apenas meus antidepressivos, que não tomo já faz alguns bons oito meses.

Suspirei fundo e fechei os olhos. Gostaria de por um ponto final nisso tudo. Mas o que eu faria? Não tinha forças nem mesmo para trabalhar e conseguir algum sustento, tendo que ser mantida pelo meu marido. Meus pais moravam na Itália, mas faleceram por conta do frio, já que não tinha como se esquentarem, e o dinheiro que Jackson me disponibilizara era uma quantia muito pouca para que eles se mantivessem no inverno. "Agora eles vão poder se esquentar no inferno, não se preocupe.", e mais uma vez Jackson demonstrava ser pior do que já era, e eu, me vendo cativa mais uma vez dos charmes do chinês.

- O que está fazendo? - Ouvi a porta se abrir e algumas sacolas serem colocadas em algum lugar daquele quarto gélido e sem cor. A passos calmos, veio de encontro a mim, sentindo o colchão do meu lado afundar. Abri meus olhos sem olhar para o homem ao meu lado. Encarei a neve branca e sorri descontente.

- Hoje o dia está tão belo não é? - Olhei para Jackson, que me olhava com certa dor nos olhos. - O dia hoje está mais frio que o normal. Não reclamo, eu gosto do frio.

- Eu sei disso. - Riu baixo, um pouco triste. - Eu trouxe seu almoço.

- Você vai comer comigo? - Segurei em sua mão, que a retirou rapidamente, se levantando.

- Não tenho tempo. - Pigarreou. - Só trouxe seu almoço mesmo, já estou de saída.

- Então pode levar sua comida de volta. Prefiro morrer de fome do que aceitar qualquer coisa que venha de você. E com licença, você está atrapalhando minha visão. - Empurrei de leve o chinês, para observar a paisagem. O mesmo bufou irritado, fechando a persiana cor caramelo, se virando para mim com os braços cruzados. - O que você quer hein Wang? Você não acha que me privou de muita coisa? - Me levantei e a passos leves e ritmados, caminhei em direção ao chinês. - Já não basta pra você? Tem que tirar minha liberdade de ver o que quero? - Levantei bem a cabeça para encará-lo. Jackson não era a pessoa mais alta do mundo, mas mesmo assim ainda era mais alto que eu. - Pare de privar minha felicidade.

- Eu não te privo de nada, você continua comigo porque quer. Nunca te forcei a ficar nesse relacionamento.

- E você queria o que, Wang Jia Er? Que eu fosse para onde? Meus pais morreram por sua culpa, por não mandar dinheiro o suficiente para que eles se mantivessem no frio Jackson! Quão frio você pode ser? Quão controlador? Eu não quero ver seu limite. Você é maldoso, não tem piedade no coração.

- Não diga isso! Você não sabe o quanto eu sofro com isso todos os dias! - Segurou de leve os dois lados de meu rosto. - Você não sabe o quanto é difícil pra mim levantar todos os dias, e ver que a mulher que eu amo, não ta mais do meu lado. Eu queria sair dessa vida, eu juro que eu tento! Mas eu não consigo! E-Eu... Eu preciso de ajuda pra me livrar dessa.

- Eu preciso de ajuda à todos os momentos. - Me desvencilhei de seus toques e sorri, com lágrimas nos olhos e uma forte pontada na cabeça. Mas sorri. Eu sorri apesar de tudo. Cansada de chorar todas as noites por alguém que não merecia, passei a sorrir. Mas não é como se eu sorrisse de felicidade. Havia virado hábito. - Eu estou à beira da morte por culpa daquela maldita depressão! Wang, você me largou feito um nada depois que perdi NOSSO bebê. Me deixou afundar em uma doença que me mata todos os dias pouco a pouco. Você me deixa sozinha todos os dias para manter relações com uma garota de VINTE E DOIS ANOS. Eu não tenho ninguém Jackson. Não tenho pais, não tem parentes, não tenho amigos. Não tenho NADA! E sabe por quê? Porque você me tirou tudo isso. Você me tirou a vida, mesmo que não fisicamente. Você me tirou toda a felicidade que eu merecia ter. Eu virei sua cativa, e só vou conseguir sair dessa vida, quando eu morrer.

Nessa altura Jackson estava aos prantos, me pedindo para parar, que não aguentava ouvir tudo aquilo, que eram como facadas em seu peito. Senti minha cabeça doer um pouco mais, minha visão ficou turva de uma hora para a outra. Vi Jackson parar de chorar, vindo em minha direção rápido, mas para mim estava tudo em câmera lenta. Tudo em minha volta escureceu e a última coisa que senti foram os braços de meu marido rodeando meu corpo.

{...}

Sick - Long Imagine JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora