O encontro

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Cores fortes pairavam no solo azul-fluorescente em que Igor encontrava, flores de caule de infinitas cores, grama vermelha e um rio amarelo. O tempo fluía diferente naquele lugar, era como se o mundo exterior estivesse congelado, porém esse sentimento foi interrompido quando ele sentiu um chão de pedra em suas costas.

Depois de recobrada a consciência, Igor levantou do chão sujo e avistou uma parede do fundo de um pequeno cômodo além de uma base parecida com as usadas para espelhos de todo o corpo. O cheiro de mofo era evidente naquele local e, assim que virou a cabeça para a direita, seus olhos encontraram uma pessoa.

O adolescente vestia um sobretudo azul claro, parecido com o de um padre que visitara uma vez a vila de Nohome, tinha uma corrente de uma corda simples, mas ela carregava um objeto de metal bem trabalhado que dava a impressão de um detalhado desenho de um olho. Seu rosto não podia ser visto por conta de um capuz que fazia parte do próprio sobretudo, assim não se dava para ver a pele do jovem - o uso de luvas e botas impedia este procedimento. Este jovem estava procurando uma chave numa estante cheia de papeis e livros de assuntos relacionados à magia, porém parou de fazer isso para prestar atenção na pessoa que acabava de despertar de uma experiência traumática.

– Tudo bem com você? – Ädmir perguntou a Igor.

– Minha cabeça dói.

– Descanse um pouco.

Ao relaxar o corpo e voltar a cabeça para a esquerda, encontrou um jovem que vestia uma camisa esverdeada com um colete de couro que servia para guardar suas adagas. Além disso, possuía um arco e flechas, mas a bolsa que servia para guardar alimentos e água estava mais cheia que o normal. Essas características não impressionavam Igor, mas o fato dele estar sorrindo e usando sua adaga para lacerar o chão era o que o preocupava um pouco.

– Porra! Nem pra procurar você serve – exclamou um jovem baixo.

– Se sou inútil, procure sozinho por essa chave – respondeu Ädmir.

Esse garoto baixo vestia uma cota de couro que era usada em treinamentos da infantaria anã e, por consequência, segurava uma espada e um escudo de madeira. A impaciência do anão era visível, contudo só a única garota presente no recinto falou:

– Encontrei a chave!

Ao olhar para a garota, sentiu que estava fora da moda, pois a maioria das pessoas ali presente possuíam um sobretudo com capuz, mas o da garota era um tecido mais elaborado, veludo cotelê negro. Já que ela não usava o capuz, ficou evidente suas orelhas pontudas, seus fios longos e loiros, uma pele macia e caninos saindo de seus lábios carnudos. Mesmo usando o sobretudo, era evidente os seios fartos da garota, o que deixou Igor um pouco constrangido e excitado - ele só tinha visto seios assim no bordel da vila, contudo ele não guardava quantias de moedas para esse fim. Ao perceber o olhar de um cão sedento, Astrid ficou constrangida, escondeu sua raiva e tratou logo de usar a chave encontrada para abrir a porta. Igor tratou de recompor-se e levantou bruscamente a fim de sanar sua dor – estranhamente funcionou.

Depois que Igor percebeu que estava entre estranhos, teve uma dúvida importante que queria compartilhar com todos:

– Gente, eu não os conheço. Poderiam dizer seus nomes? O meu é Igor.

– Desculpe, – falou o jovem com o colar – nós tínhamos feito isso antes. Chamo-me Ädmir, já a garota é Astrid, o baixinho é Tordek e o isolado ali preferiu não dizer...

– Lysander – falou o garoto quando parou de lacerar o chão e se levantou. Esse garoto é especial.

Ao saírem do cômodo, encontraram um candelabro na parede frontal e uma porta em cada parede lateral. Igor ainda não fazia ideia de onde eles estavam, assim ele escolheu a porta de onde vinha a maior parte da circulação de ar, a esquerda, e, ao fazer isso, preferiu que não tivesse aberto aquela porta.

O salão de festas comportava adequadamente trinta pessoas, ele continha uma série de mesas e cadeiras além de um espaço para os convidados dançarem. Porém, ao abrir a porta, Igor e seus novos companheiros encontraram as consequências de uma batalha que ocorrera ali. Corpos deformados por doenças congênitas espalhados pelo chão, muitos decapitados, desmembrados ou mortos por perda de sangue.

Caminhando por entre os corpos, Astrid foi surpreendida por um homem segurando seu pé e, após o grito dado por ela, todos que estavam afrente dela olharam para trás.

O senhor que estava com o peito contra as pedras do piso era muito pálido e magro, como se ele passasse o ano inteiro dentro daquele lugar. Suas roupas eram largas e simples, dando a entender que ele não possuía recursos para si, e estavam cobertos de sangue e vísceras. O único homem vivo daquela sala foi rapidamente amparado pelo jovem caçador.

Devido ao grande choque, o senhor que agonizava ao chão falava apenas duas palavras: porão e bolso. Isso ajudou os aventureiros, pois entenderam parte da mensagem dada pelo homem. Depois de encontrar uma planta baixa suja de sangue e velha no bolso da calça do senhor, tiveram de decifrar de que lugar aquilo representava, mas não demoraram muito, isso porque perceberam que a planta representava a casamata de dois subsolos em que estavam, por conta do formato e as dimensões do salão de festa correspondiam as da planta.

Tiveram que ir à antessala em que passaram para chegar ao porão, mas dessa vez abriram a porta da direita. Os pensamentos de Igor foram a loucura pela quantidade de perguntas que ele ainda mantinha em mente: o porquê de ele estar ali, para quê, como ele sairia dali. Contudo estes pensamentos deveriam sanar quando ele chegasse ao porão.

Ao abrir a porta da direita, encontraram uma outra sala, como foi previsto na planta, porém a densidade de corpos espalhados ao chão, sangue e o cheiro das entranhas estavam tão evidentes que Igor passou a ter ânsia de vômito. Isto ocasionou em eles terem de voltar à antessala para cuidar do doente.

– Essa quantidade de corpos me superou – falou Tordek. Mesmo sendo da infantaria anã, nunca vi essa quantidade de corpos espalhados.

Passado o enjoo de Igor, voltaram à sala e desceram as escadas de pedra que ficavam ao final do cômodo. O porão não continha tanta diferença entre a pequena sala em que eles se encontraram, pois, a única mudança gritante era o tamanho. O porão era duas vezes maior que o salão de festas do primeiro subsolo, suas paredes eram parecidas com todas as outras, pedra polida, e sua iluminação era feita através de candelabros espalhados por todo o recinto. Aquele porão mais parecia uma fossa coletiva, tendo em vista a quantidade de corpos ser maior que em outros cômodos, mas estes estavam despidos, o que intrigou a todos. As únicas coisas que foram salvas do sangue naquele lugar foram os baús que ficavam ao fundo do porão.

Feito de madeira e relativamente simples, os baús não apresentavam nada de estranho ao Igor, assim ele caminhou mais rápido que os outros para abri-los. O que passava na cabeça do garoto era que aqueles baús possuíam algo que diria o motivo dele está ali e como ele poderia voltar para casa, ele não fazia a mínima ideia de onde se encontrava no planeta Terra porque nunca tinha visto aquela instalação antes. Chegado nos baús, Igor usou suas técnicas de ladino para abri-los, já que ele era acostumado a fazer isso dentro do castelo do Duque, contudo, ao tocar no baú do meio, percebeu uma textura diferente de madeira e, ao tentar tirar a mão, não conseguia, assim ele percebeu que aquilo não era um baú. Mas era tarde demais.

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A enganação brutalOnde histórias criam vida. Descubra agora