O Sangue

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A espada banhada de sangue da minha mãe que empunhava, o tapete encharcado de sangue do meu pai e a minha camisa com a mistura do sangue dos dois e choro nunca mais sairão dos meus pensamentos depois daquele dia.

Onde e quando eu nasci são coisas incertas em minha vida, pois fui encontrado na entrada duma vila élfica sem nenhuma informação sobre esta vinda. A criação dos meus pais adotivos, Ev e Danwe, foram importantíssimos par meu desenvolvimento e para evitar o preconceito que recebia dos vizinhos — eu era uma criança negra e humana que vivia em um mundo de elfos. Meus amigos não cresciam na mesma velocidade que eu, assim seus pais não me deixavam brincar com seus filhos. Essa isolação que tive facilitou a Ev me ensinar botânica e Danwe artes marciais, pois conseguia mais tempo com os dois e eles queriam me entreter.

A vila em que eu vivia era grande, porém vivia apenas 30 famílias – as famílias eram agrárias, logo há muito espaço para pouca gente.

Meu "aniversário" era o que mais adorava. Passeios pela floresta da região, nados nos rios fartos de peixes e águas cristalinas e acampamentos na mata faziam aquele dia o mais especial da minha vida. O sol, as folhas e a água gelada marcavam minha pele nesses dias, mas adorava essas marcas.

O último dia comum que tive em vida é um dos que mais me recordo de minha vida.

Levantei da cama ligeiramente atrasado, porém minha mãe preferiu não reclamar e sorriu para mim mostrando sua beleza de elfa para mim: cabelos longos, castanhos e lisos, a pele clara e sem nenhuma deformação, olhos verdes e vivos e uma vestimenta cor rubi que combinava muito com a sua aparência. Ela trouxe várias frutas para o nosso café da manhã junto com um mel delicioso, porém, ao sentar a mesa, meu pai entrou na sala já um pouco estressado com os vizinhos sobre cuidar de um demônio – ele sabia que isso era só um fruto de um preconceito que eles tinham comigo – e tratou de me apressar para terminar minha refeição para que pudéssemos iniciar o treinamento o mais rápido possível – provavelmente ele estava descontando a sua raiva em mim.

Ainda com a ostrog com mel na minha boca (que, por sinal, é tão gostosa a mistura cítrica com mel), fui obrigado a sair da mesa e fazer uma leve corrida até o nosso quintal, pois tive que sair da sala, passar pela cozinha pequena e atravessar um corredor que não entendia o significado dele existir e, assim, chegar às plantas. O quintal era de quase 500m² e abrigava árvores como macieira, pereira e laranjeira, mas ainda possuía uma área próxima à casa com flores e uma área aberta para treino de artes marciais e de ferramentas de guerra.

O treinamento daquele dia foi mais intenso que nos outros, mas não me fez cair de exaustão – já aconteceu comigo umas três vezes –, então voltei para a casa a fim de provar o almoço que minha mãe preparava enquanto treinava. O peixe de água doce e a batata foram mais que suficientes para me obrigar a dirigir-me à cama para um breve cochilo.

Levantei quando anoitecia, meus pais não me acordaram e tive que aprender um pouco de botânica com velas iluminando a sala e os livros que minha mãe escrevera com o intuito de me instruir quando ela não estivesse presente.

Mesmo aquele cochilo de várias horas não tivesse ocorrido a poucas horas, ainda estaria com sono depois da aula de botânica, não porque ela é entediante, mas porque demanda muito da mente para gravar plantas e suas utilidades. Assim, a Ev preferiu me por a dormir, pois a minha aula não teria um bom rendimento.

Demorei um pouco para dormir, pelo fato de que mesmo estando com muito sono, ainda havia muitas pessoas conversando e gritando no bar que ficava em frente a minha casa. Mesmo com isso dormi.

A casa dos meus pais ficava próxima ao centro da vila, assim tínhamos de conviver com o caos das vendas que havia nessa região. Frutas, pães e peixes eram as coisas que mais ouvia durante o dia, mas a noite eram os bordeis e tabernas que faziam àquela vila viva durante o luar.

Acordei com gritos e me assustei, pensei que estivesse ocorrendo uma briga no bar, mas percebi que a fonte vinha da sala. Levantei da cama assustado e corri para a sala para ver o que estava acontecendo. Então, assim que cheguei, jazia o corpo do meu pai no tapete da casa e minha mãe estava sendo estuprada por dois elfos bêbados que eu não reconhecia no duro chão da casa. A fúria tomou conta de mim e, ao perceber que a espada do meu pai ainda estava sendo empunhada por ele, peguei-a e corri em direção ao elfo mais próximo a minha mãe. Lembrando dos ensinamentos de meu pai, empunhei a espada com as duas mãos, mas com a mão direita sobre a esquerda, da mesma maneira que segura uma alavanca e dei uma precisa estocada no coração do agressor que encontrava sobre minha mãe.

O sangue jorrando da boca daquele bêbado deu-me uma satisfação tremenda. A insanidade tomou conta de mim.

Ainda pelado, o segundo estuprador se afastou da minha mãe e fugiu em direção ao quintal aos tropeços. Com isso, tirei a espada do corpo ensanguentado e sem vida e corri como um predador em busca de sua presa com um grande sorriso em meu rosto. Devido ao álcool, a velocidade do elfo pelado foi prejudicado, por isso alcancei-o durante o corredor da casa. Causei grande impacto na porta que levava ao quintal ao chutar as costas da presa medrosa. Em seguida, peguei-a pela cabeça e choquei-a contra a porta até ela quebrar. Os gritos da presa soaram como música aos meus sentidos, contudo ela acabou quando a porta de madeira não resistiu às batidas, assim atravessei o buraco junto com o bêbado desacordado que urinara em meu pé.

Peguei a perna da adorável criatura que joguei na grama e, usando minha espada, desferi cortes nela até que o álcool não foi possível anestesiar a dor e ele acordou com três cortes profundos na coxa. Ainda com a maior satisfação, segurei com a mão esquerda o pênis e o escroto daquele animal para que, usando a mão direita cortar as partes que não serviriam mais para ele. O desespero vindo daqueles olhos verdes me deu tamanha satisfação que, para eternizar esse momento, arranquei-os com minhas unhas e finquei a espada do meu pai no lugar onde os globos oculares deveriam estar e retirei-a.

A passos lentos, voltei à sala para falar com minha mãe muito feliz o que fiz, mas ela sufocava com o próprio sangue. A realidade superou a insanidade, assim voltei ao normal, retirei o estuprador de cima de dela e percebi que a espada atravessara seu peito. Desesperei-me e tentei estancar a pequena fonte que havia no peito dela, em vão. O desespero me fez tentar ressuscitar meu pai para não sentir sozinho, também em vão.

Após o fútil desespero tomar conta de mim, a depressão e a solidão foram minhas amigas e vieram acompanhá-la em mim, com isso dirigir-me ao canto da sala e passei a chorar durante toda a noite.

Passados três dias, ainda estava parado no canto chorando, mas um grupo de pessoas entraram na casa, me acolheram me dando um banho, roupa limpa, comida e água. Eles me levaram para fora da vila e me levaram à base deles.

Passados três meses, o vitiligo tomara conta dametade direita do meu corpo devido ao trauma que passei no dia que mais melembro. Vivo minha vida para que pessoas vivam sem ter de passar pelo o quepassei.


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A enganação brutalOnde histórias criam vida. Descubra agora