Capítulo Nove

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Acordo assustada, suando, minhas mãos agarrando o lençol, recordo cada parte do meu sonho, cada detalhe, tentando entender, mas não consigo, nada se encaixa.
Olho pela janela e já é dia, olho pró relógio, que marca 6:55.
-Ora de levantar.
Digo pra mim mesma, me obrigo a levantar, em silêncio, pego minhas roupas, minha calça está no chão, me abaixo pra pegar, quando levanto, meu olhar vai de encontro a nova decoração do meu quarto, uma parede toda arranhada por minhas garras, por mim, uma lágrima escorre, vou para o banheiro, tomo um banho para relaxar meus músculos, deixo a água escorrer por meu corpo.
Quando finalmente saio do banho, meu relógio já marca 7:30, tenho que correr, me visto rápido e desço as escadas correndo, passo na cozinha e pego dois pães, jogo presunto dentro deles e faço meu Nescau as presas, quando já estou saindo, com um pão na boca, outro na mão e a garrafinha térmica com o Nescau na outra, meu avô me chama
-Ester, minha filha, sabe que não precisa ir hoje se não se sentir bem né?
Me viro para ele, suspiro
-Sim, eu sei vô, mas eu preciso, preciso provar pra mim mesma que consigo.
Ele aceite e eu saio correndo e comendo
Chego na escola e parece que todos os olhares estão em mim, não sei se é isso mesmo ou se é paranóia minha. Continuo andando de cabeça baixa, quando alguém vem e me abraça, sinto seu cheiro e o aperto mais ainda de encontro a mim
-Bom dia minha lobinha
Rindo digo
-Bom dia
Ele me solta e se afasta
-Voce está bem?
Abaixo a cabeça digo, num sussuro
-Sim
Ele levanta meu rosto e sorrindo me diz
-Nao precisa se envergonha, está tudo bem, sabe perder o controle, destruir tudo, bater nas pessoas, acontece
-Sim, mas se transformar em um lobisomem não
-O que tem lobisomens?
Pergunta Ana chegando perto de nós. Eu gelo e fico em choque sem saber o que responder, Carlos vê minha reação e diz
-Estava contando a Ester que ouvi uivos ontem a noite e que parecia de algo grande, bem maior que eu lobo
-Que bobeira Carlos, todos sabem que lobisomens não existem é história pra fazer as crianças se comportarem e irem dormir
-É, isso que a Ester estava me contando.
Então ela começa a rir e diz.
-Cara, você​ é louco
Ainda sem graça vou na onda e rindo digo
-É né, cada coisa que ele diz
Juntos seguimos até nossa sala.

Quando sento em minha carteira, sinto que estou sendo observada, quando levanto meu olhar vejo que Sonia está me encarando, desdo meu primeiro dia de aula, depois de tudo que ouve, ela passou a andar mais séria e, com certa frequência, me encarar, passei a ignorar, mas é uma coisa que incomoda muito.
-Muita atenção alunos-Diz a sr. Cartos, nossa professora de história-Hoje, para descontrair um pouco, após a prova de sexta, iremos ver um filme-Todos gritam, menos Sônia, ela ainda me encarar, essa garota tá começando a me dar nos nervos, a sr. Cartos continua-Um filme sobre história-todos resmungam de infelicidade-Shiii, estamos em uma aula de história, vocês queria o que? Mas, prosseguindo, hoje iremos ver um filme de história, sobre a lenda do lobisomem.
Nesse instante, levanta meu olhar assustada para a sr. Cartos, Carlos aperta meu ombro e olho pra ele, então ele sussuro em meu ouvido
-Relaxa, está tudo bem
Eu relaxo em minha cadeira, a sr. Cartos liga o data show e apaga as luzes, o filme começa com uma narrativa, mostrando o céu de noite e vai se aproximando da lua cheia, onde embaixo está uma colina.

"A lenda do lobisomem tem, provavelmente, origem na Europa do século XVI, embora traços desta lenda apareçam em alguns mitos dá Grécia Antiga. Do continente europeu, espalhou-se por várias regiões do mundo. Chegou ao Brasil através dos portugueses que colonizaram nosso país, a partir do século XVI. Este personagem possui um corpo misturando traços de ser humano e lobo.

De acordo com a lenda, um homem foi mordido por um lobo em noite de lua cheia. A partir deste momento, passou a transforma-se em lobisomem em todas as noites em que a Lua apresenta-se nesta fase. Forte e peludo, vive assustando as pessoas nas ruas, colinas, encruzilhadas e cemitérios.
Caso o lobisomem morda outra pessoa, a vítima passará pelo mesmo feitiço."

Quando o narrador termina, na colina aparece um lobisomem encima dá colina, ele abre seus braços, levanta sua cabeça em direção a lua e uiva.

O filme, que na verdade, era mais um documentário sobre as provas e contraprovas dá existência de lobisomens, pesquisadores, que gastaram anos de suas vidas pra provas, as provas, o "dente de um lobisomem", Um pouco de pelo, relatos de vítimas, essa foi a foi a pior parte, a alguns anos atrás, eu morei perto do mato grosso do sul, acho que faz uns 5 anos, eu era nova, estava aprendendo a me controlar e a puberdade não ajudava, meu pai procurou uma área isolada pra cuidar dá gente, rodeados de mata, para eu não machucar ninguém, foi no dia que eu perdi minha avó que tudo aconteceu.
Eu perdi o controle, corri km pela mata, até que encontrei uma fazenda vi vários animais, cavalos correndo pelo pasto, vacas paradas em pé, inertes dormindo, ataquei a primeira vaca que vi na minha frente, as outras assustadas começam a correr, os cavalos relincham, as galinhas cacarejam e cachorros latem.
Até que uma luz se acende na casa dá fazenda, a porta se abre e vejo uma figura parada na entrada, segurando algo na frente do rosto, quando estou tentando identificar, sangue espirra pra todos os lados, uma bala atinge o corpo dá vaca, com raiva, corro até a casa, um tiro me acerta no ombro, outro na barriga, quando me aproximo dá varanda vejo que é uma mulher, uma senhora.
Paro de frente pra ela, assustada ela vira o cano dá arma pra mim, uma 12, sem consciência de mim, sem dó, nem piedade, levanto meu braço e bato na arma, jogando ela no chão, mas minhas garras percorrem outro caminho, o pobre rosto dá senhora, ela grita, sangue, muito sangue escorre por sua face, quando ela desmaia, então algo me acerta na nuca e eu apago.
Não lembro dos meus surtos, nunca, mas esse eu lembrei após ver o rosto, o rosto deformado dá pobre senhora no filme da minha professora, o pânico me percorre, começo a suar, minha visão se turva e sei que preciso sair daqui, alguém toca meu ombro, mas não vejo quem, me levanto, vou até a porta, apenas digo que preciso ir ao banheiro, corro pro banheiro, me tranco dentro do box
Meu corpo estremece, estou suando.
"não, aqui não"
Forço todo o meu auto controle pra não deixar a transformação acontecer, mas todo meu esforço é em vão, estou concentrada, quando escuto a porta do banheiro se abrindo e uma voz dizendo
-Vamos lá Ester, quero ver se você é tudo isso mesmo do primeiro dia, vem sua vadia, me bate vaca, eu andei treinando, boxe, agora eu te arrebento.
Sônia diz batendo na parede do boxe e então o lobo dentro de mim assume o controle e eu adormeço

Loba AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora