Capítulo 9

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- Boa tarde.

Parei estática ao pé da porta completamente corada.

-Boa tarde mãe - diz o Tomás enquanto aperta o cinto. - Não sabia que voltavas hoje-

- Não voltava, mas estava com saudades e vim mais cedo.

-Onde está o pai?

-Provavelmente com uma hospedeira jeitosa ou uma super-modelo. O costume.

Nessa altura senti pena da mãe dele, ela não fazia parecer, mas ficava triste com o comportamento do marido.

-Bem foi muito bom vê-la mas tenho de ir andando - disse já vestida e dirigindo-me para a porta.

- Não querida, fica. Eu é que interrompi.

Dito isto a mãe do Tomás levantou-se do sofá e saiu de casa deixando para trás dois adolescentes confusos.

- O que se passou aqui?

De repente eu e Tomás olhamos um para o outro e desatámos a rir.

-O que se passou aqui? - perguntei confusa.

-Acho que a minha mãe nos apanhou quando nós íamos fazer sexo.

-Quem disse que  ia fazer sexo contigo?

-Eu.

Tomás aproxima-se e beija-me passando para o pescoço enquanto despe as alças da minha camisola. Não me contive e comecei a rir.

-O que foi? - perguntou ele olhando para mim de uma  forma esquisita mas sorrindo.

-Não consigo fazer sexo contigo agora. A tua mãe estragou o clima.

- Eu percebo, vamos então ver um filme.

Sentámos-nos no sofá e pusemos a dar o Shrek enquanto comíamos pipocas. Quando reparamos nas horas já eram sete da noite.

-Mor, e tenho de ir para casa. Os meus irmãos devem estar preocupados.

- Toda a gente dizia que eram os pais que iam ficar preocupados mas tu dizes que são os teus irmãos.

- Tu sabes como é que eles são.

Despedi-me dele e voltei para casa enquanto recordava todo o dia que eu e o Tomás tivemos.
Depois de tudo o que eu o fiz sofrer e de ter despejado as minhas inseguranças nele, ele não me deixou. Ele continuou ao meu lado, lutou por mim e fez ver o meu melhor lado.

Quando entro em casa sou detida por quatro pares de olhos curiosos.

-Onde estavas - perguntou o Diego.

- O que fizeste? - interroga o João.

Os meus pais nada dizem, apenas nos observam curiosos.

- Boa noite para vocês também. Estava com o Tomás em casa dele, mas antes passeamos no parque.

- Ele não te fez nada pois não?

- Diego pareces um pouco perturbado e fora do comum, ele não me fez nada, estou sã e salva.

O meu pai decide intervir antes que algo aconteça entre nós.

- Desculpa Mel mas olha - diz apontando para a televisão que estava ligada num noticiário.
Rapidamente aumento o volume e vejo escrito como título da notícia: "Adolescente raptada e molestada"

- Hoje uma jovem adolescente que ia a passar na rua foi agredida e molestada por rapaz 10 anos mais velho - diz a repórter - A identidade da vítima permanece um segredo mas podemos afirmar que seria uma estudante da secundária Rosa Flor no 11° ano...

Não consigo pensar em mais nada, o meu coração para e caio redonda no sofá.
Não estava a querer. Não queria. Não podia.
Sinto dois braços a apararem-me eu sei que não me aguentava mais sozinha. Olhei pelo canto do olho e vi a minha mãe a chorar e o meu pai a consolala, Diego estava num canto perplexo e João abraçava-me.

-Por favor diz-me que o que ouvi é mentira. Que não é quem eu penso que é - já não conseguia segurar as lágrimas e os soluços vinham juntos.

- Lamento dizer que não. Foi a Fatas.

Não aguentei mais e desabei de vez.

- Melanie, calma.

- Calma! Queres que eu tenha calma!? A nossa prima foi violada e raptada! Queres que eu esteja calma?

Fatas é a minha prima por parte da minha tia materna. Ela perdeu os pais num acidente de carro quando tinha 14 anos e desde então vive com os meus avós. Eles já estão com certa idade e não conseguem ficar com ela sempre, e ela desde a morte dos pais que se tornou revoltada, e então vive todos os dias bêbada e drogada já tendo sido presa e internada.
Ela tem dois meses de diferença de mim e consequentemente sou muito próxima dela.

- A Francisca vai ficar bem. Ela é forte.

- Eu quero vê-la!

- Não podes.




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