TRAP

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Sou acordada por Jaebum, que pula intencionalmente em minha cama, assustando-me pela intensidade do barulho que seu peso causa contra a mola e meu corpo.

— Hora de acordar, bela adormecida!

— Que horas são? — murmurei, sonolenta.

Não tinha conseguido dormir noite passada, pois as lembranças da ligação surgiam em minha mente, me incomodando. Ele era um vampiro? Sem chances.

— Cinco e meia — respondeu e eu soube, no mesmo segundo, que um sorriso cresceu nos seus lábios.

Jaebum sabe o quanto eu odeio acordar cedo.

Me cobrindo até a cabeça, ignoro-o.

— Lyan, temos um longo dia. Vamos lá.

Ele ignorou o fato de que estou tentando ignorá-lo.

— Só mais quinze minutos... — balbuciei, baixando a coberta até meu nariz.

Brevemente, pensei que ele fosse aceitar. Que iria me deixar dormir, descansar um pouco mais. Pensamento em vão, pois não é isso que acontece. Na verdade, ele puxa a coberta de vez e fica em cima de mim.

— Tudo bem, poxa! Tudo bem! — gritei, tentando sair debaixo dele, inutilmente. — Eu já acordei!

— Então levanta — ele falou, sorrindo.

— Se você deixar — permaneci com os olhos fixos nele.

Analisando-me, ele pula para fora da cama e saí do quarto.

Soltando um suspiro, eu me levanto em seguida, caminhando preguiçosamente até o banheiro.

Me ver no espelho não é algo que acontece com frequência. Mas sempre que estou na casa de Jaebum, é impossível não me encarar naquele enorme vidro.

E eu estava muito acabada. Acabada pra caramba.

Meu rosto encontrava-se mais pálido que o normal e meus olhos azuis só ressaltavam as olheiras fundas embaixo deles. O cabelo castanho desgrenhado por eu ter dormido com ele molhado e minha boca... céus, era a única coisa realmente viva ali, pelo tom rosado intenso.

Tirando a camisa que Jaebum me emprestou, ligo o chuveiro e entrou embaixo dele com tudo. A água morna parece anestesiar meu corpo. Me permitir relaxar é tão raro, mas apenas inspiro.

É como meu tutor disse: será um longo dia, assim como todos os outros.

Saio do banheiro minutos depois já vestida e maquiada, pois, por sorte, havia encontrado um rímel e outras coisas que deixei aqui, antes de me mudar.

— O cheiro está bom — disse para Jaebum, descendo as escadas.

— Isso é um milagre? Não acordou reclamando da minha comida?

— Estou de bom humor.

— Mesmo acordando cedo?

— Não precisa cozinhar é um bônus. Eu perdoo você.

Ele depositou uma panqueca no meu prato. Então acrescentou um pouco de morangos e finalizou com calda de chocolate.

— Ainda é seu favorito? — perguntou, me olhando.

Me sentando na cadeira frente ao balcão, acenei.

— Obrigada.

Sorrindo, Jaebum senta-se também e começa a comer junto a mim.

— Recebi uma ligação ontem à noite — ele deixa no ar, após alguns minutos em silêncio.

Sinto como se a comida tivesse perdido o gosto e penso que o mesmo estranho que me ligou, foi falar com ele também. Não era impossível.

— E?

— Precisamos ir ao conselho.

— O que faremos lá?

— Nada demais, não precisa ficar nervosa.

— E os outros? Vão estar lá também?

— Acredito que sim.

Franzi minha sobrancelha.

— Não faz sentido. Por que você precisa ir também? Já faz isso há quase dez anos. Eles não sabem que você traz bons resultados, apesar de tudo?

Normalmente, quando éramos chamados para o conselho, eles analisavam nosso desempenho nos serviços e nos dava um pagamento generoso pelo tempo de trabalho árduo. Mas isso era apenas para os recém aprendizes.

— Também não sei, Lyan. Mas foi uma ordem.

— Não pensei que você cumprisse as ordens — o provoquei.

Todos sabem como é conturbada a relação dele com o conselho. Um garoto rebelde que infringiu várias regras desde o início de seus anos como caçador. E mesmo assim, o mais confiável e admirável.

— O mesmo sobre você, sua pirralha — ele volta a comer.

Não estava achando aquilo normal, porém me mantive quieta e voltei a comer. Não fazia sentido. Ao meu ver, alguma coisa parecia muito errado nessa situação. E eu iria descobrir.

***

— Não vai me responder? — Jaebum perguntou e, novamente, lhe ignorei.

Estava de péssimo humor, pois tinha descoberto, logo após o café da manhã, que a reunião iria ocorrer apenas à noite. O que também era fora do habitual. Por que tão tarde? E os vampiros?

Quer dizer, não que eles não pudessem sair de dia, eles podiam. Só que haviam consequências, como a perda de força e dias torturantes de fome. Diferentemente da noite, que os deixavam ainda mais poderosos e atentos.

Estávamos quase chegando no conselho, quando meu tutor parou o carro de repente. Uma sensação esquisita me deixou em estado de alerta.

— O que houve? — perguntei, olhando-o.

— Acho que tem um carro nos seguindo — ele respondeu, encarando o retrovisor.

— E você parou o carro? — falei, então me repreendo.

Ele não havia feito nada de errado. O conselho era um lugar secreto e qualquer possibilidade de invasão sequer poderia se passar em nossas mentes. Havia muitos segredos lá, muitas informações, e era perigoso.

— Podem ser os outros — acrescentei.

Jaebum negou veemente.

— Pegue as armas, Lyan. Não são eles.

— O quê?

— Teriam sinalizado se esse fosse o caso. E não aconteceu.

Pegando as armas no porta luvas, as encaixo nos coldres em minha coxa e mantenho a estaca em mãos.

— Esteja preparada.

São as últimas palavras de Jaebum disse, antes de alguém pular em frente ao nosso carro, atacando-nos.

Vampiros!, pensei imediatamente.

Era uma armadilha!

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Espero que estejam gostando! 

Blood Hunt ❄ Jackson WangOnde histórias criam vida. Descubra agora