Era tarde e eu estava em mais uma caçada com Jaebum.
Faço isso desde a morte dos meus pais, há dois anos atrás.
Desde à madrugada em que um maldito vampiro filho da puta os atacou de maneira covarde, matando-os, juntamente a minha pobre irmã, Tamy.
Naquela noite, eu não estava em casa. Havia saído às escondidas para uma festa e por conta disso, cheguei tarde demais. Além de um tanto alterada.
Ainda assim, lembro-me exatamente o que vi.
Olhos assassinos e sangue por toda parte. Tamy deitada no chão, assim como meus pais, e suas feições desapontadas logo após me ver adentrar em casa num estado tão deplorável...
E eu queria tanto ter conseguido ser capaz de ajudá-los.
Salvar suas vidas ou morrer tentando, embora, de certo modo, tivesse a sensação que aquela criatura não fosse fazer nada contra mim.
Loucura, não é? Eu sei.
Mas aquelas órbitas castanhas fixas em mim, enquanto sua boca, manchada de sangue, o sangue da minha família, escorria friamente no tapete branco da sala... Eles pareciam tão arrependidos.
Ele matou sua família, Lyan.
Matou as pessoas mais importantes de sua vida.
Esse é o pensamento que me mantém na caça.
A frase que não me deixa desistir quando tudo parece perdido, fazendo-me recordar, dia após dia, do meu verdadeiro enquanto viva: a mais pura vingança.
— Atrás de você! — Jaebum gritou.
E retirando a estaca afunda no coração do desgraçado que havia acabado de matar, virei-me, afundando-a outra vez no vampiro atrás de mim.
Tinha vindo tão rápido que quase não fui capaz de atacar.
— Peguei o filho da mãe! — falei, analisando em volta.
Havíamos matado tantos. Incontáveis seres demoníacos.
Não somente hoje, como durante todos esses anos.
Todos os malditos vampiros...
— E é exatamente por isso que é nossa caçadora número um — meu amigo provocou, se juntando a mim.
Apenas lancei-lhe um sorriso como forma de agradecimento. Ele sabe que não sou muito de "obrigada."
— Algum fugitivo?
—Não, conseguimos pegar todos. Fizemos um bom trabalho. Vamos embora?
— Não tem noção do quanto estou cansada. Vamos nessa — disse, começando a caminhar até o Jeep dele. Todavia, parei de súbito, encarando-o. — Tem certeza disso?
— Como assim? — ele ergueu uma sobrancelha, confuso.
— Eles vão realmente limpar a bagunça?
Suspirando, ele acenou, entrelaçando nossas mãos. O toque é quente, seguro, e não faço questão de desfazer tal ato, apesar da surpresa que isso me causa.
Mesmo sendo cinco anos mais velho que eu, tento ignorar a diferença de idade não tão gritante assim. Im Jaebum tem vinte e seis, enquanto eu, vinte e um.
Sempre o considerei um irmão mais velho, entretanto, por mais que tentasse dizer que nada nunca iria ir além... era impossível deixar de admitir que meu tutor era bastante atraente. E muito.
Seus ombros largos e seus braços musculosos... os olhos marrons penetrantes e a boca rosada... ele tinha esse jeito intrigante de ser e agir que me nocauteava. Eu só não podia deixar que soubesse.
Porque Jaebum já estava nessa vida há quase dez anos e o romance não estava na sua lista de objetivos. Ele havia sido a pessoa que me fez ter um segundo objetivo na vida. Que me tirou da redenção e sempre esteve ali para me ajudar durante os dolorosos anos, aturando minhas crises de saudade e não deixando se irritar por minhas ironias idiotas, mas era só. Só um cara tentando ajudar uma garota que se tornou uma arma ambulante.
Quando paro para pensar, foi exatamente por isso que aceitei suas mãos juntas na minha. Pela atenção sempre tão presente por mim. Sua proteção, o senso de responsabilidade.
— Vou me lavar — ele disse, tirando sua blusa e jogando-a em mim quando chegamos em seu apartamento.
Fazendo uma careta por causa do suor, encarei seu abdômen definido. Era maravilhoso.
— Quer vir junto? — ele continuou, notando o local onde meus olhos estavam focados. Um sorriso desafiador cresceu em seus lábios e eu retribuí a leve provocação.
— Prefiro a morte! — joguei sua camiseta de volta.
Mas ele não parece nada abalado. Pelo contrário.
— Falando sério? Você ainda vai me matar com esse seu sorrisinho importuno — o garoto deixou no ar, entrando no banheiro.
Apenas revirei os olhos e me joguei no sofá, esperando a minha hora para tomar banho. Estava com fome, mas o incômodo no estômago mudou completamente quando meu celular tocou.
Observando-o desconfiada, fiz uma careta ao notar o número desconhecido. Poucas pessoas sabiam meu telefone. E nenhuma delas ligava no desconhecido, em hipótese alguma.
— Alô? — falei, simplesmente.
Uma voz fria murmurou do outro lado:
— Como foi?
— Como foi o quê?
— A sensação de matá-los. Como foi matar todos aqueles vampiros?
Assim que a voz cessou, senti um arrepio atravessar meu corpo.
— Olha... — comecei a dizer, tentando soar sincera. — Sinto muito dizer, mas vampiros não existem.
Manter o fato que criaturas horripilantes habitavam a terra era um segredo a sete chaves. Apenas aqueles que já tiveram certas experiências ou cresceram em família de caçadores poderiam estar nessa vida. O certo era manter minha boca fechada.
— Claro que existem — ele insistiu.
A porta fez um barulho. Jaebum saindo do banho.
— Não, não existem — mantenho o raciocínio.
Olhando para frente, meu colega estava me encarando confuso.
— Pode enganar qualquer pessoa a fora, mas não a mim. E sabe por que? — o estranho perguntou, fazendo uma pausa. Mantenho minha voz inexistente. — Porque eu sou um vampiro, gracinha.
Meu coração de repente acelerou.
— Está delirando. Vampiros realmente não existem.
São minhas últimas palavras, antes de desligar.
Encarando meu amigo, sua expressão está preocupada.
— Quem era? — perguntou.
— Um idiota fazendo um trote.
— Tem certeza?
Não, pensei. Mas não é isso que respondo.
— Yeah, tenho sim — tentei sorrir.
Mas o que havia sido aquilo? Eu também não fazia a menor ideia.
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Blood Hunt ❄ Jackson Wang
Hayran KurguApós a morte de sua família, Lyan resolve por meio de instinto, virar uma caçadora. No entanto, não uma caçadora normal. Lyan torna-se uma caçadora de vampiros, tendo em vida um único objetivo: encontrar o vampiro cujo matou seus pais e vingar-se. P...