Sophie

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Depois que Karl voltou para Massachusetts, os dias voltaram a ser como antes. Não eram depressivos, mas também não eram grande coisa como quando ele estava aqui... e seu eu me apaixonei de novo depois que Karl se foi? Sim, acho que pode-se dizer que sim. Não era como meu amor por Karl, era algo como... uma amizade colorida. Que eu achava que poderia me fazer esquecer da dor da perda de Karl.

Eu era apenas uma criança. Não sabia ao certo o que estava sentindo, talvez eu devê-se esquecê-lo? Talvez doeria menos se eu apenas seguisse em frente? Seria melhor se eu apagasse meu passado? Sim, eu pensei várias vezes sobre isso. Mas sempre que tentava eu ouvia a voz dele me dizendo "não se esqueça de mim" ... eu não podia esquecê-lo. Seria egoísmo da minha parte, eu estaria pensando apenas em aliviar minha dor. E aquele ano que passei com ele? e o dia no parque? nossa foto, nossos dias, nossas lembranças... tudo. Eu não conseguiria deixar tudo isso para trás.

Mas nada é para sempre.

Aprendi isso com o tempo. Por mais que você tente, sem perceber, acaba se esquecendo. E vivendo como se nada daquilo importasse mais. Não quero esquecer. Não posso. Tenho que cumprir com minha promessa.

Com o passar dos anos eu fui crescendo... me tornando o que desde pequena temia me tornar... eu não me importava com nada, apenas corria. Sim, eu corria. Não sei para onde. Não sei por que. Eu estava virando uma adolescente inquestionável, imprudente e desinteressada. E eu não me importava se estava ou não virando isso. Passava o dia inteiro trancada em meu quarto, ouvindo música no volume mais auto e olhando para o teto do meu quarto. É, eu tinha cansado do mundo lá fora. Pra quê ir vê-lo se ele continua o mesmo sempre? Incolor, Cheio de destruição e injustiça. Não quero ver um lugar como esse. Eu não tinha mais esperança. Eu desisti de tentar salvá-lo. O único lugar em que eu ousava tentar salvar era o meu quarto, e ele também estava perdido. Sim, ele se perdeu comigo. Estamos perdidos sobre quatro paredes. Perdidos em versões irreais de nós... e eu ainda estava me comparando a um quarto bagunçado.

Fiquei me perguntando por que eles não ensinam isso na escola? Todo mundo passou, passa ou vai passar por isso... vai sentir essa dor. E ninguém, com certeza ninguém, sabe como lidar com ela. Talvez seja por isso que não ensinam na escola. Porque nem eles mesmos sabem. Os adultos estão sempre resolvendo as coisas com brigas, desistências ou na maioria das vezes com bebida. Não vou me tornam assim. Pelo menos não quero. Não vou ir além desde quarto. Não vou me ferir de novo vendo o mundo lá fora. Não me importo mais se estou viva ou morta... eu só sou mais uma pessoa entre bilhões no mundo. Sou apenas mais alguém quase sem esperança.

Apenas uma coisa ainda me faz querer, pelo menos um pouco, viver. Sim, Karl. Ainda tenho, mesmo que seja pouca, esperança de que ele vai voltar. Que ele vai voltar para buscar o seu lado da foto. Será que ele já me esqueceu? Será que foram apenas dias legais para ele? Será que ele sente o mesmo que eu sinto por ele? Estou com medo de que as respostas para essas perguntas não sejam como eu imagino.

Quase quatro anos depois da ida de Karl, estou deitada na cama e ouvindo música como sempre faço, quando minha mãe me chama.

-Sophie, o jantar está pronto querida.

-Estou indo mãe.

-Não demore, vai esfriar.

Me sento na cadeira.

-Estou sem fome.

-Você sempre está. - após um breve silêncio ela continua- Tenho notícias sobre Karl.

Parei imediatamente de comer. E ainda de boca cheia perguntei.

-Ele está voltando?

-Infelizmente não, querida. Ele está fazendo 12 anos hoje. Jason me mandou uma foto do aniversário dele pelo correio.
Fiquei desapontada. Karl ainda não ia voltar. Será que ele se quer pensa em voltar? Olhei a foto. Tinha como legenda "Sorria, até mesmo os problemas passam" e ele estava com um óculos escuro e uma blusa branca, tendo a praia como fundo. Falei baixinho:
-Karl... como você consegue?
Terminei rapidamente de comer e voltei a minha caverna que eu chamava de quarto. A luz da lua ultrapassava a perciana e iluminava uma parte do quarto. Eu não parava de pensar nele... eu queria poder comemorar o aniversário dele com ele. Eu queria poder lhe dar parabéns pessoalmente. Ah... como eu queria.

Eu me lembro que em todas as noites frias eu pensava nele e começava a ouvir a nossa música preferida... agora ela nos definia. "Me espera". Sim, quero desesperadamente que ele esteja me esperando... ainda creio que um dia vou reencontra-lo. Esteja me esperando. Eu estou te esperando. Sempre estarei. Eu...

"Eu ainda estou aqui"

A Barreira Entre Nós (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora