Sophie

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Os dias sempre pareciam passar devagar. A prisão em que eu vivia parecia nunca ter fim, apesar de ser, de certa forma sem muros. Eu estava presa a uma prisão sem muros, a prisão chamada mente. Sim, eu estava presa em minhas idéias, em minha morte, em minha vida... todos nós estamos. Presos a nossas sensações, nossos sentimentos, nossos medos... tudo. Mas a minha prisão parecia ser menor do que as outras... era pouco espaço para tudo que podia pensar, muito pouco. Eu queria fugir, encontrar um lugar melhor... acho que estou enlouquecendo. Todos são escravos do tempo. Mas eu... eu não. Não me importo com o tempo gasto ou o tempo perdido. Não me preocupo se tenho muito tempo de vida, ou de morte. Não me preocupo com as pessoas quem morrem com o tempo. Era isso o que EU pensava.
Era umas 01:20h da madrugada, eu normalmente costumo ficar até umas 02:00h pensando e as vezes lendo. Mas meus pensamentos foram interrompidos. Ouvi minha mãe tentando chorar baixo para que, obviamente, eu não pudesse ouvir já que ela conversava com o papai e só morávamos eu, ela e papai em casa.
Desci as escadas, o choro vinha da sala e eu só pude ouvi-lo porque meu quarto fica exatamente em cima da sala. Sei que é errado, mas ouvi um pouco da conversa deles atrás das escadas. Estava escuro, não me notaram. Minha mãe chorava no colo do meu pai, que estava sentado no sofá beijando sua testa e tentando acalma-la.

- Nós estamos perdidos Dav's! - ela dizia ainda com lágrimas nos olhos. - perdidos! Eu sabia desde o início que isso não daria certo!

- Eu... me perdoe Mayce! - eu sabia que estava acontecendo alguma coisa, meu pai só chama minha mãe pelo sobrenome quando a situação está realmente séria. - eles falaram que não tinha problema... eles... - ele parou para respirar e chorar um pouco também, afinal, meu pai não é assim tão resistente. - Me desculpe amor, nós ainda temos saída, eu... não vou mentir para você Mayce - Ele ficou sério. - Não estamos em uma situação boa, mas também ainda não estamos no fundo do poço.

- O que nós podemos fazer? Me diz! E a Soph's? Como fica? - Minha mãe costumava adicionar um "s" no final dos nomes dos mais íntimos. - Dav's... por que você foi se envolver com assassinato?!

Gelei. Assassinato... assassinato... assassinato... essa palavra ficou ecoando em minha cabeça. Ela me lembrava de algo... não sei exatamente o que. Minha mente começou a doer... comecei a ouvir as vozes daquele dia... uma hora meu pai gritava, as vezes eu e minha mãe, mas também tinha a voz de uma mulher, que parecia bem decidida quando falava. As vozes vinham em uma rapidez, só puder enterder algumas, pois as vezes elas vinham ao mesmo tempo. "Sophie!" "Papai!" "Você não deveria fazer isso." "Você a matou?" "Tome cuidado Dav's" "Assassino!" "Estou com medo" "Eles virão atrás de você" "Não vá!" "Eu... só quis proteger minha família". As vozes não paravam. Minha cabeça latejava. Resolvi sair dali, me levantei devagar e sair cambaleando escada à cima. Cheguei em meu quarto, apenas me joguei na cama e apaguei.
No dia seguinte, eu acordei 6:37, era pra mim acordar 6:35 mas eu desliguei o primeiro alarme. Parecia tudo como sempre, levantei, tomei café, banhei, vesti meu uniforme e fiquei esperando o carro do pai de Matheus chegar. Matheus é um amigo da escola que sempre me dava uma carona, já que seu carro é obrigado a passar por minha rua quando está a caminho da escola. Ele é popular na escola, ele costuma ouvir as mesmas músicas que ouço, nós dois gostamos de anime e ele sempre parece ser uns centímetros maior que eu.
A rádio do carro do pai dele estava tocando uma das nossas músicas preferidas "Closer". A música era em inglês, mas nós fizemos um curso de línguas uns anos atrás e sabíamos cantá-la. Mas eu fiquei como sempre, olhando a janela e cantando baixinho. Percebi que ele me olhava e então ele desviou o olhar, pegou seu celular e o fone de ouvido. Mexeu no celular por um minuto e me chamou. Ele era a única pessoa que eu falava na escola.

- Sophie?

- sim?

E então colocou o fone em meu ouvido. Estava tocando Closer também, na mesma parte que a do rádio do carro. Olhei para o celular dele, estava escrito Rádio JS 153,8. Olhei para ele que estava me encarando e então sorri. Ele começou a cantar a parte em que o homem cantava. Fiquei olhando para ele por um tempo. E ele disse:

- agora é sua vez.

A garota começou a cantar. Fiquei um pouco em dúvida e vergonha no começo, mas então acompanhei.
A música acabou, nos encaramos e rimos. Ele fixou o olhar em mim novamente, mas dessa vez ele parecia estar me admirando. Fiquei com vergonha mas continuei observando ele. Sua mão quente tocava meu rosto. Não fiz nada, ninguém nunca tinha feito isso exceto meu pai. Sua mão ia em meus cabelos, voltava a meu rosto e então seus dedos tocaram minha boca. Meu coração pulçava rápido de mais. Ele se aproximava devagar, ainda me olhando com aqueles olhos. Ele estava chegando perto, muito perto. Quando percebi estava à um centímetro de mim. E então, me beijou. Foi um beijo demorado, de certa forma molhado, não esperava que meu primeiro beijo fosse assim. Eu simplesmente me entreguei em seu beijo, acompanhei ele. Ele permanecia com seus dedos entre meus ouvidos e então também toquei seu rosto, quase tão quente como suas mãos. Continuamos nessa sincronia por um tempo, até o pai de Matheus dizer:

- chegamos.

Creio que ele não viu nosso beijo, já que o retrovisor estava quebrado e ele não gosta de olhar para trás quando está dirigindo. Paramos imediatamente quando ele disse que haviamos chegado. Mas ele notou nossa demora pra se organizar e sair.

- Estão me ouvindo?

Então ele se virou para trás, já estávamos saindo do carro. O clima com Matheus ficou o mesmo, mas antes de qualquer coisa ele me disse:

- Qual seu tempo?

- O quê?

- Hã... creio que estamos juntos, certo?

- sim.

- Então... eu queria saber... se, você vai me acompanhar?

- Hm... eu te acompanharei.

Ele sorriu.

- Você que sabe.

E então colocou o braço sobre meu ombro me deixando novamente, próxima a ele e fomos juntos à sala. E como a maioria das meninas lá da sala queriam ele, algumas me olharam com um olhar de quem diz "vou te matar", mas não me preocupei, sabia que elas não eram mais fortes que eu. Fiquei pensando um pouco na hora da aula. Eu realmente me sentia bem quando estava com Matheus... não sei, mas acho que...

"Matheus você é minha casa"

A Barreira Entre Nós (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora