Karl

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        Acordei 11:17h hoje... meu pai estava sentado no sofá da sala assistindo televisão e minha mãe na cozinha preparando o almoço. Tudo como sempre. Coloquei meu café e peguei uns biscoitos, quando ia saindo para meu quarto meu pai me chamou.

- Karl, precisamos conversar. - parei e o olhei - O que aconteceu ontem?

- Do que você está falando?

- Não se faça de trouxa... - ele se levantou - Por que foi preso?

- Eu... dirigi em alta velocidade... só isso.

- Só isso?! - ele se aproximou de mim - Karl, quantos anos você tem?

- Eu... eu sei pai, mas - ele me cortou.

- Mas nada! Quantos anos você tem?! - ele gritou.

- 15! Eu tenho 15 anos! Sei que não deveria ter dirigido mas foi por algo importante!

- Algo importante?! Meu Deus garoto! O que pode ser tão importante para te fazer arriscar a sua... ah... deixa eu não quero saber... Você está de castigo, não quero vê-lo sair do seu quarto, por tempo indeterminado. - ele deu meia volta e colocou a mão na cabeça... - Vá para seu quarto. Não saia até segunda ordem.

- Pai! Eu não posso!

- Você pode sim e vai!

        Me virei e fui para meu quarto. Apesar de ser de manhã, o frio estava como naquela vez... eu sentia dor... dor na alma... não no corpo... decepção... é a maior dor que alguém pode ter, quero dizer, a dor de ter decepcionado alguém é ainda pior. Você não poder encarar aquela pessoa, não poder olhar ela nos olhos, não poder conversar com ela...não da mesma forma que antes. As pessoas põem espectativas e se não cumprirmos elas... as pessoas acabam se decepcionando.
        Todos temos duas faces, isso eu aprendi. Quando eu tinha uns 9 anos, meus pais começaram as brigas deles. Meu pai tinha faltado meu aniversário e eu estava arrasado, minha mãe me dizia "Ei... ele só deve ter ficado de hora extra no trabalho" já que ele trabalhava às madrugadas, ficamos esperando ele até umas nove horas da noite, quando na verdade, ele deveria ter chegado ao meio dia. Mamãe mandou eu ir para cama e ela ficou esperando papai chegar, eu consegui cochilar um pouco até que ouvi minha mãe gritar "Como você chega a essa hora?! E ainda por cima no aniversário do seu filho!" e papai respondeu "Eu vou lá falar com ele!" "Não! Ele está dormindo agora! E você está bêbado!" ele ficou falando pra ela calar a boca e depois só ouvi ela gritar... e então lembro me de que coloquei o travesseiro em volta dos meus ouvidos e comecei a chorar... foi uma das maiores decepções que eu podia ter e agora eu sei como é decepcionar alguém.
 

      Deitei em minha cama e meu celular vibrou em cima da meu criado-mudo. Liguei ele e vi um poema... me fez lembrar de Sophie... Me fez chorar e aumentou ainda mais minha curiosidade de saber o que tinha acontecido com ela. Quem foi você esses anos que eu passei longe, querida?


Sophie

        Há algo... tem algo me chamando... eu sinto como se tivesse dormido e descansado por um bom tempo... alguém me chama... "Sophie... Sophie" Sua voz familiar ecoa em minha cabeça e me faz despertar... Não consegui identificar quem era, mas aquelas palavras me tranquilizavam tanto.
        Abri os olhos e tentei observar o lugar em que estava... Uma mistura de azul e preto rodeava meu corpo. Será que eu ainda estou sonhando? Minha cabeça lateja. Tentei me lembrar das coisas... Eu tenho 12 anos e Karl estava comemorando o aniversário dele... um amigo de minha mãe mandou uma foto dele e então... eu fui dormir. Essas são minhas últimas recordações...
        Tento abrir meus olhos de novo e estou em um quarto. Ao que parece é masculino. Olho para baixo para ver o que estou vestindo e meus cabelos caem ao lado do meu rosto, eles parecem maiores do que me lembro e... desde quando tenho mechas azul-fraco e branco? Meu Deus... não estou entendendo nada... Trajo um vestido de manga longa branco. Estou sem sapatos mas mesmo assim não sinto o frio do chão. É de noite, os ventos entrão na janela do quarto, há um garoto deitado na cama. Ele se sentou e veio devagar em minha direção. Passo a passo e eu fico esperando ele chegar até mim, até que alguém o chama... ele responde e passa pela porta com um olhar assustado mas não parece que está me vendo.

***

        É um novo dia, não me lembro muito bem do que aconteceu ontem... só que tinha um menino e eu estava no quarto dele... e... eu não parecia ser eu... e hoje acordei na mesma casa do garoto, mas dessa vez estava na sala. Um raio de sol entra pela janela e impede que uma parte da televisão seja vista. O menino está tomando café e o pai dele o chama para tirar satisfações sobre... ele ser preso... O menino vai para o quarto chateado e eu o sigo. Ele senta na beira da cama e eu fico o observando de longe e escondida atrás da porta do guarda-roupa que estava escancarada. Como é de manhã consigo vê-lo com mais clareza, ele parece ter 14 ou 15 anos, tem cabelos castanhos e olhos... lindos... ele é tão familiar... derramei uma lágrima, mas... não sei o porquê, ele só faz eu me sentir bem, mas de qualquer forma tenho que descobrir como voltar para casa... continuo olhando ele por um tempo, não posso ouvi-lo, mas juro ter visto seus lábios simularem a palavra "Sophie", gelei, como ele poderia saber meu nome se eu ao menos o conhecia? deu vontade de gritar para ele "Quem é você?" ou então "Estou aqui!" mas... parecia que minha voz não chegava até ele, tentei e tentei e nada. Depois de um tempo caiu a ficha de que ele não podia me ouvir e então quando eu ia tentando sair do quarto dele, sem querer acabei tropeçando em um sapato jogado ao lado da porta, o garoto olhou para onde eu estava assustado. Se levantou rapidamente da cama mas ainda hesitando um pouco ele ia se aproximando de mim... Até eu perceber... que ele não podia me ver. Seus olhos apenas se fixavam em mim.

Karl

       Tem algo ali, eu... posso sentir isso... o frio o acompanha, não sei o que é mas não estou vendo... só sinto. Levanto minha mão direita na intenção de tocá-lo...


Sophie

        O garoto levanta a mão. No começo fiquei um pouco com medo, mas então... levantei minha mão também e toquei a dele, não sei se ele pôde sentir, pra mim é como se eu estivesse voltado para casa. Nós... parecemos tão...

"Conectados"

Olá queridos leitores! Aqui está mais um capítulo de "ABEN" -A barreira entre nós- e me desculpem a demora. Agora por conta de falta de tempo e motivos pessoais será lançado 1 capítulo (ou as vezes 2, quem sabe?) por mês. Espero não haver problema em esperar apenas mais um pouquinho para ler os capítulos.

Agradeço a
compreensão de vocês,
Yukki

A Barreira Entre Nós (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora