Fiquei entre a Sofia filha da Negra LI e a Titi do Giovanna e o Bruno. Essa é a Sofia.
Santa Clara da Fé, Minas Gerais, 2012
Gael,
- Me deixa dormir meu amor!
- Não!
- Cinco minutos. – Puxei a coberta e fiquei imóvel mesmo sabendo que ela não sairia dali.
- Você prometeu Gael.
- Gael? – Me levantei imediatamente.
- Pai! – Então ela gargalhou.
- Ah sua pentelha. Sabia que me chamando de Gael eu me levantaria, não é? Você me enganou, e isso não vale. – Fiz cócegas nela, jogando-a sobre a cama. Depois de seus três anos se acostumou a me chamar de pai, e eu a ela de filha.
Quando teve febre aos quatro anos e nenhum médico descobria o que era, eu simplesmente me apavorei.
Todas as más lembranças e pensamentos tomaram conta de minha mente e nesse dia eu descobri que não conseguiria viver sem ela.
- Que dia é hoje?
- Vinte e Dois.
- E amanhã? – Sentou-se pronta para a ladainha de todos os anos.
- Vinte e Três.
- E depois? – Seus dentes estavam perfeitos depois de alguns meses usando o aparelho móvel.
- Depois é trinta. – Ela parou de sorrir e me olhou furiosa.
- Trinta? Na escola depois do vinte e três é vinte e quatro uai.
- Uai.... Uai. Aqui na fazenda eu gosto que as vacas produzam muito leite, do vinte e três podem ir ao trinta.
- Não! Você está mentindo.
- Não estou!
- Está sim! Depois de vinte e três é vinte e quatro e aí vai faltar apenas um dia para o meu aniversário e o aniversário do menino Jesus.
- Na verdade ele nasceu no vinte e quatro, não no vinte e cinco.
- Gael...
- Tudo bem. Você e o menino Jesus fazem aniversário na mesma data. – Fiquei de pé e fui até o banheiro. Peguei a escova e voltei. – Vamos às compras.
- A Gaby vai com a gente? – Claro que iria. Era da família. Três anos e meio? Quatro. Sim! Quatro anos que ela era babá. E eu agradeci aos céus por tê-la enviado. Cuidava da minha filha com tanto carinho que poderia facilmente se passar por mãe dela. Na verdade, por diversas vezes a vi corrigindo a Karolyne quando menor e a chamava de mamãe. Mas também me ajudou a desempenhar o papel, indo por diversas vezes buscar ou levar a Karolyne à escola, ou nas reuniões as quais eu não podia comparecer.
- Sim! Claro que vai. Pode chama-la?
- Gabyyyyyy!
- Se fosse para gritar eu mesmo teria feito. – Terminei de escovar os dentes e fui até ela. – Precisa tomar banho e se vestir.
- De novo?
- Sim! Você tomou banho ontem filha.
- Mas eu já me troquei. – Dava para ver que o serviço era dela. Calça jeans, como sempre, porque ela achava que ela o Pedro e eu era um trio de cowboys. Uma blusa suja e uma jaqueta que se não me engano estava no corpo a semana toda.
Me aproximei e fiz um sinal de fedor.
- Não vai sair comigo assim. – Em um pequeno salto estava fora da cama.