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Gael,
Pensa num homem agoniado, desorientado andado por uma mata. Estava cego. Mal via os galhos vindos em minha direção.
- Homem, a mata está se fechando. Está escurecendo. Ela não vai estar aqui Gael.
- Então onde essa mulher se enfiou Pedro. Ônibus não saiu da cidade hoje. Ninguém viu a Gabriela, não é possível que uma pessoa possa desaparecer dessa forma? – Não! Ninguém desaparecia assim. E eu testava pronto para encontrá-la.
Olhei o celular, e por maldição o aparelho não estava dando sinal ali também. Nem sei bem o quanto tínhamos andado mata a dentro. E começava a concordar com o Pedro. Ela não conseguiria vir tão longe sem uma lanterna ou sem um objeto cortante em mãos.
Parei e me encostei em uma árvore.
- É Deus, Pedro.
- Que história é essa sô?
- Primeiro, a Darlene com aquela história de que a menina não era minha. Depois a Karolyne se machuca. E agora a Gabriela some homem. Isso não é normal. Só pode ser um sinal divino.
- Cê tá louco Gael? Eu te disse uma vez meu amigo. Deus não castiga ninguém. Ele tá é olhando pela gente lá de cima. – Ele tirou o chapéu e fez o sinal da cruz. – E é Ele que vai nos ajudar a encontrar a Gabriela.
- Talvez não seja para ficarmos juntos. – Estava mesmo desanimado. Mas também era capaz de fazer qualquer coisa por ela.
Tirei meu chapéu joguei no chão e olhei para cima. Não tinha vergonha de falar com alguém que muitos diziam não existir. E acreditando nas palavras da Joana deixei que as lágrimas rolassem pelo meu rosto e rasguei meu coração.
- Você! É você Deus! Se tiver me ouvindo me diga o que quer de nós? Não bastou tirar de mim a oportunidade de viver com uma mãe e um pai? Que Deus é você? Sabe quantas vezes te pedi para deixar meus pais me amarem e você me negou? E eu pensei que.... Como tinha me dado a Joana eu devia agradecer e seguir em frente. Confiando em você. Se não gosta de mim... – minha voz falhou. – Me leva embora.
- Para com isso homem. Sua filha precisa de você.
- Ela não precisa de um homem infeliz ao lado dela Pedro. Ela não precisa de uma pessoa amargurada perto dela, e eu estou fadado a não ser feliz pelo resto da minha vida porque Deus determinou isso.
- Gael, cê tá brincando com Deus e com ele não se brinca. Deus te deu oportunidade de viver em uma casa que não tinha pai e mãe, mas a Joana te amou pelos dois. Poderia ser pior. Poderia ter vivido em uma casa com seu pai, ou melhor, em uma mansão, e não ter conhecido o significado de um lar na vida homem. Poderia ter sumido com sua mãe por esse mundo de meu Deus, e nem sequer ter criado raízes em algum canto. Mas, não. Deus te deu um lar, uma família e te deu prosperidade criatura. Do que mais pode reclamar?
- Perdão Senhor. – Caí de joelhos. Esse não era eu. De forma alguma. Eu era grato por tudo o que tinha. Era grato porque durante o processo de exames e recuperação da Karolyne, eu tinha clamado por ele, e tinha recebido sua resposta através do DNA. E agora me mostrava tão ingrato. – Perdão Senhor, mas se posso pedir uma última coisa, é que não me tire a Gabriela.
- Vamos Gael. Vamos procurar. A noite já vem e se ela estiver de fato aqui, vai precisar de nós.
Mal tinha me levantado quando ouvimos gritos dos homens chamando por nós. A resposta de Deus dessa vez havia sido certeira.
