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A hora das mulheres da vila buscarem água é ao entardecer, mas Brithil não era bem aceita pelas pessoas da vila. Ela morava em uma cabana um pouco mais isolada, mais próxima do rio, e preferia sempre evitar discussões desnecessárias. Por isso, ela buscava a água que precisava no rio sempre pela manhã, e assim garantia a paz do jeito dela. Ela só se obrigava a ir a vila para vender suas caças ao fim da semana, ou quando a convocavam para uma reunião geral, e a última coisa quase nunca acontecia.
Vicky seguia a Brithil, empunhando sua belíssima espada mágica feita de um graveto de carvalho, espantando dragões e trasgos imaginários.
- Quando eu crescer, vou ser valente e forte, e vou viajar pelo mundo! - ele alcançou a moça, e eles caminharam juntos até o rio - Quero viajar igual a você!
Brithil sentiu uma pontada de culpa. Ela não viajava errante porque queria, ela era obrigada a isso. Não era uma boa vida, não ser querida por ninguém. E ela não queria isso para ele.
- Sabe de uma coisa? - Brithil disse, enchendo seu jarro - Acho que lembrei de algo para te contar!
- Oba!
Ela sentou em uma pedra alta na margem do rio, onde as mulheres costumavam lavar as roupas, e Vicky sentou ao lado dela, descansando a sua valente espada de graveto no seu colo.
Brithil puxou do fundo de suas memórias algo que valesse a pena ser contado a um garoto de seis anos, e então lembrou-se de uma lenda que ouvira em um bar certa vez.
"Orcs são criaturas pavorosas. São hostis e violentos, seres cruéis e sanguinários, sem nenhuma compaixão, nem pelo seu próprio povo. As canções que eles compõem são sempre a respeito de ossos quebrando, cabeças rolando, inimigos sendo torturados, e outras coisas pavorosas que alegravam muito eles.
Eles também gostavam de aprisionar povos que eles julgavam fracos e indefesos. Eles sempre pegavam famílias inteiras e as lançavam em locais com cinco ou seis wargs, que eram lobos gigantes, só para ver quem seria devorado por último.
Em uma das vezes, uma única pessoa resistiu. O último a sobreviver matou todos os wargs da arena. Todos os orcs que assistiam ao show ficaram chocados. Jamais haviam visto uma pessoa que era capaz de se transformar em um animal, e que tinha força para enfrentar um warg sozinho.
O jovem rapaz conseguiu fugir do covil dos orcs. Mas aquela raça sanguinária era muito vingativa. Eles caçaram e escravizaram todos aqueles que podiam se transformar em um único animal grande, capaz de destruir um warg. Aos poucos, toda aquela raça morreu, mas o jovem rapaz nunca foi encontrado.
Dizem que ele morreu. Eu acho besteira. Deve estar por aí, vivendo uma vida calma e pacata. Pode até ter uma fazenda, cuidar de cavalos, ou morar em uma vila. Dizem que ele ainda pode ser visto por aí, caminhando na forma de animal do seu povo."
- Qual animal ele é? - Vicky perguntou, com os olhos brilhantes.
- A raça dos Troca-Peles se transforma em ursos. O jovem rapaz era um enorme e poderoso urso castanho. - a moça respondeu.
Ambos apenas olharam para o rio, aproveitando a paisagem. Vicky adorava histórias, como qualquer garoto curioso. E Brithil gostava de contá-las. Era uma maneira de manter os laços com as coisas que viu em suas viagens, e de manter uma amizade com uma criança, que é sempre especial.
Bem distante, na outra margem, um urso castanho-escuro bebia sua dose matinal de água e pescava alguns salmões para o café da manhã.
- Olá, senhor Troca-Peles! - o garoto se levantou, acenando para a margem oposta. - Aquele lado tem umas pedras onde os salmões pulam! Deveria tentar lá!
O urso olhou para os dois, um pouco confuso. Vicky costumava fazer isso. Certa vez, quando Brithil lhe contou a história de que os magos usavam borboletas para enviar mensagens ao Rei das Águias Gigantes, o garoto caçou borboletas por uma semana. Fez até um pequeno quadro de madeira com borboletas coloridas, e o pendurou na parede do seu quarto.
O urso caminhou até o local cheio de pedras, e se assustou um pouco quando alguns salmões pularam para fora da água. Ele então caminhou sobre as pedras, escolhendo um lugar para se posicionar, e logo estava enchendo a boca de peixes.
Brithil levantou-se, pegou seu jarro cheio de água e caminhou de volta para sua cabana, sendo seguida por um garoto animado.
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Fantasma - Uma lenda da floresta
FanfictionBrithil acredita que, após muitos anos sendo expulsa de aldeia após aldeia, ela finalmente encontrou uma pequena vila na floresta para viver em paz, mas uma tragédia terrível a força a buscar memórias do seu passado para esclarecer o ocorrido. Odiad...