2 - Histórias no rio

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A hora das mulheres da vila buscarem água é ao entardecer, mas Brithil não era bem aceita pelas pessoas da vila. Ela morava em uma cabana um pouco mais isolada, mais próxima do rio, e preferia sempre evitar discussões desnecessárias. Por isso, ela buscava a água que precisava no rio sempre pela manhã, e assim garantia a paz do jeito dela. Ela só se obrigava a ir a vila para vender suas caças ao fim da semana, ou quando a convocavam para uma reunião geral, e a última coisa quase nunca acontecia.

Vicky seguia a Brithil, empunhando sua belíssima espada mágica feita de um graveto de carvalho, espantando dragões e trasgos imaginários.

- Quando eu crescer, vou ser valente e forte, e vou viajar pelo mundo! - ele alcançou a moça, e eles caminharam juntos até o rio - Quero viajar igual a você!

Brithil sentiu uma pontada de culpa. Ela não viajava errante porque queria, ela era obrigada a isso. Não era uma boa vida, não ser querida por ninguém. E ela não queria isso para ele.

- Sabe de uma coisa? - Brithil disse, enchendo seu jarro - Acho que lembrei de algo para te contar!

- Oba!

Ela sentou em uma pedra alta na margem do rio, onde as mulheres costumavam lavar as roupas, e Vicky sentou ao lado dela, descansando a sua valente espada de graveto no seu colo.

Brithil puxou do fundo de suas memórias algo que valesse a pena ser contado a um garoto de seis anos, e então lembrou-se de uma lenda que ouvira em um bar certa vez.

"Orcs são criaturas pavorosas. São hostis e violentos, seres cruéis e sanguinários, sem nenhuma compaixão, nem pelo seu próprio povo. As canções que eles compõem são sempre a respeito de ossos quebrando, cabeças rolando, inimigos sendo torturados, e outras coisas pavorosas que alegravam muito eles.

Eles também gostavam de aprisionar povos que eles julgavam fracos e indefesos. Eles sempre pegavam famílias inteiras e as lançavam em locais com cinco ou seis wargs, que eram lobos gigantes, só para ver quem seria devorado por último.

Em uma das vezes, uma única pessoa resistiu. O último a sobreviver matou todos os wargs da arena. Todos os orcs que assistiam ao show ficaram chocados. Jamais haviam visto uma pessoa que era capaz de se transformar em um animal, e que tinha força para enfrentar um warg sozinho.

O jovem rapaz conseguiu fugir do covil dos orcs. Mas aquela raça sanguinária era muito vingativa. Eles caçaram e escravizaram todos aqueles que podiam se transformar em um único animal grande, capaz de destruir um warg. Aos poucos, toda aquela raça morreu, mas o jovem rapaz nunca foi encontrado.

Dizem que ele morreu. Eu acho besteira. Deve estar por aí, vivendo uma vida calma e pacata. Pode até ter uma fazenda, cuidar de cavalos, ou morar em uma vila. Dizem que ele ainda pode ser visto por aí, caminhando na forma de animal do seu povo."

- Qual animal ele é? - Vicky perguntou, com os olhos brilhantes.

- A raça dos Troca-Peles se transforma em ursos. O jovem rapaz era um enorme e poderoso urso castanho. - a moça respondeu.

Ambos apenas olharam para o rio, aproveitando a paisagem. Vicky adorava histórias, como qualquer garoto curioso. E Brithil gostava de contá-las. Era uma maneira de manter os laços com as coisas que viu em suas viagens, e de manter uma amizade com uma criança, que é sempre especial.

Bem distante, na outra margem, um urso castanho-escuro bebia sua dose matinal de água e pescava alguns salmões para o café da manhã.

- Olá, senhor Troca-Peles! - o garoto se levantou, acenando para a margem oposta. - Aquele lado tem umas pedras onde os salmões pulam! Deveria tentar lá!

O urso olhou para os dois, um pouco confuso. Vicky costumava fazer isso. Certa vez, quando Brithil lhe contou a história de que os magos usavam borboletas para enviar mensagens ao Rei das Águias Gigantes, o garoto caçou borboletas por uma semana. Fez até um pequeno quadro de madeira com borboletas coloridas, e o pendurou na parede do seu quarto.

O urso caminhou até o local cheio de pedras, e se assustou um pouco quando alguns salmões pularam para fora da água. Ele então caminhou sobre as pedras, escolhendo um lugar para se posicionar, e logo estava enchendo a boca de peixes.

Brithil levantou-se, pegou seu jarro cheio de água e caminhou de volta para sua cabana, sendo seguida por um garoto animado.

Fantasma - Uma lenda da florestaOnde histórias criam vida. Descubra agora