4 - Uma caçada emocionante

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O urso ficou em duas patas, tentando ser​ ainda mais ameaçador. Soltou um enorme rugido, e o cervo se assustou, caindo no chão.

Brithil não sabia onde mirar. O urso também estava caçando, e ele poderia matá-la. Mas o cervo era uma caça de bom tamanho, e se ela não atirasse, ele poderia fugir. O urso o mataria de qualquer jeito. Mas carne e pele de urso também podem ajudar a vila durante o inverno...

Ela apontou a flecha para o urso. Seu coração batia acelerado. Ela precisava da caça grande. Só tinha que soltar a flecha. O urso olhou para ela, e ela teve a impressão de que ambos olhavam nos olhos um do outro. O urso rosnou baixo, e com um salto, atacou o cervo e o matou, quebrando seu pescoço.

- Isso não! - ela berrou.

Brithil ficou de pé, e cheia de fúria, mirou no urso. Agora teria duas caças grandes. O urso pareceu não se importar com ela; abocanhou o corpo do cervo e o suspendeu no ar. A moça atirou, mas a flecha nem chegou perto do urso.

Ela sentia raiva, pegou outra flecha na aljava, mas estava quebrada. Pegou mais uma, e também estava. O urso castanho-escuro olhou para ela, e caminhou em sua direção, com o cervo morto na boca. Em desespero, ela tentou pegar outra flecha, que também estava quebrada. O urso se aproximava dela, confiante, sem temer ser atingido. Ela pegou uma flecha boa, mas antes de conseguir colocar no arco, seu pé prendeu no tronco caído em que esteve sentada, e ela caiu para trás.

Era isso, era o fim dela. O urso parou, bem na frente da moça, e soltou o corpo do cervo aos pés dela. O que ele estava fazendo? Ia matá-la também? O urso a encarou no fundo dos seus olhos, e abriu sua grande boca. Mas não rugiu.

- Pelo salmão. - o urso falou.

Ele bufou, virou-se e correu, desaparecendo na floresta. Brithil afastou seus cabelos dourados do seu rosto. O urso falou com ela.

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Os cascos do cavalo malhado branco e marrom ecoavam no calçamento de pedra. A vila não era muito grande. Havia uma padaria, um açougue, uma pequena taverna, um salão de reuniões, e algumas dezenas de casas de madeira. Todos os edifícios convergiam para a pequena praça circular, pavimentada de pedras. Todos os dias, umas barraquinhas de madeira eram montadas pela tarde, e vendiam queijos, leite, ovos, legumes, verduras e frutas para todos na vila. Não era grande coisa. Essa era a entediante Kipperdale.

Brithil guiou o cavalo, parando sua carroça bem na frente do açougue. O sol estava perto do horizonte, mais duas horas e ele se poria. A moça desceu da carroça, e entrou no pequeno açougue. Não havia muito o que se​ olhar no interior, apenas um balcão de madeira ainda sujo do sangue de alguma carne cortada ali recentemente. E acima dele, haviam algumas linguiças de porco postas para secar. Atrás do balcão havia uma pequena porta, que devia dar para o depósito.

- Senhor Wessel! - ela chamou.

Um homem grande, careca, de avental sujo e rosto vermelho saiu pela porta.

- Ah, a fantasma. - ele suspirou, se apoiando no balcão - O que conseguiu desta vez?

Eles foram para a rua, e sem demora, ela tirou a coberta de cima da caça na carroça. O homem analisou os corpos na carroça.

- Dois cervos, hum? - ele resmungou - Parece que foi uma caçada boa...

- Os senhores de Valar devem ter sido benevolentes. - ela respondeu.

- Os o quê? Você sempre fala coisas sem sentido, heim moça? Deve ser por isso sua fama de fantasma... - ele resmungou - Que qualquer forma, eu não ligo. O que aconteceu com esse aqui? O pescoço dele foi quase dilacerado.

- Depois de ter caçado ele, eu o escondi e fui caçar o outro. - ela disse, lembrando do urso enorme - Acredito que um lobo ou outro animal tenha o encontrado. Mas não teve nenhum dano.

- Hum, eu não sei... Ainda tem muita carne aí, mas... - ele resmungou.

- Eles valem cinquenta moedas. - Brithil disse, inflexível.

- Ora, mas isso é um roubo! - o açougueiro berrou - Mas... Pensando bem, suas caças são sempre boas. Vou buscar o pagamento.

E o homem entrou no açougue. Brithil olhou para a entrada da vila. Um grupo de homens estavam retornando após um longo dia de caça sem sucesso. Alguns deles tinham arcos e flechas, outros só tinham machados e carregavam troncos nos ombros. Eram os maridos e filhos da vila. A moça não gostava deles, mas os admirava. Eram homens bons e fortes.

Um dos rapazes a olhou. Nenhum rapaz olhava para era na vila desde que ela chegou, por que ele resolveu olhar? Isso não era certo, nem prudente. Brithil desviou o olhar, zangada. Os risos dos rapazes se fizeram altos. "Quem é aquela?" um deles perguntou. "É a fantasma." outro respondeu. "Aquela que dizem que é uma bruxa?" as vozes conversavam entre si. "Sim, dizem que ela lançou um feitiço na floresta para que nenhum de nós consiga pegar caça, exceto ela!".

"Isso é uma grande tolice!", a moça pensou. "Bruxas não existem."

- Aqui está o pagamento. - o açougueiro retornou, entregando uma sacola de couro engordurada para ela. - Venha, descarregue a caça no meu depósito.

Brithil guiou seu cavalo, dando a volta na loja. Ela sabia que os rapazes ainda olhavam para ela, e ainda ouvia alguns comentários. "Para uma bruxa, até que ela é atraente..." "Sério? Mesmo com aquelas orelhas deformadas?". Esse comentário a enojou. Ela segurou o cabo de sua espada com força. Qualquer um que tentasse algo teria o mesmo destino dos cervos.

Fantasma - Uma lenda da florestaOnde histórias criam vida. Descubra agora