Já era final da manhã quando Brithil finalmente conseguiu abrir os olhos, sentindo o fungar suave de um focinho enorme molhando sua testa. A sensação era desagradável e aconchegante ao mesmo tempo, não se parecia com nada que ela pudesse comparar.
- Pensei que você não tinha sobrevivido a noite.
Brithil sentou-se, ainda sentindo o sono pesar sobre seu corpo todo. Esticou as pernas suavemente, permitindo que o calor que emanava das chamas da fogueira aquecessem seus pés gelados.
- É preciso muito mais do que uma camada de neve para cobrir alguém como eu.
O urso, sentado nas patas traseiras, empurrou com sua pata dianteira um graveto sobre um peixe assando nas brasas.
- E o que significa "alguém como você"?
As palavras pareciam mais atrevidas e amedrontadoras na voz grave e profunda do urso, e isso fez com que seu nariz se torcer de forma involuntária. O urso mexeu outra vez, e notou que o salmão se desmanchava sob a força do graveto na pele.
- Por que você decidiu voltar? - Brithil mexeu os dedos dos pés sob as botas, tentando se certificar de que conseguiria sentir cada um deles - Pensei que não te veria mais depois de você ter tentado me devorar.
- Te devorar? - ele riu, e parecia uma gargalhada ainda mais debochada naquela voz profunda, que fez o nariz dela torcer outra vez. - Por que acha isso?
Brithil se levantou, limpando a neve do seu cobertor de pele de urso negro, mas ele pareceu não se importar. Ela começou a arrumar a mochila, procurando algo que pudesse tirar ela daquela conversa estranha com um animal.
- Por que acha que eu ia te devorar? - o urso insistiu.
Ela amarrou o cobertor e o prendeu no alto da sua mochila. Depois vestiu sua capa e arrumou as botas.
- Você não é muito de conversar.
- É uma característica de alguém como eu. - Ela bufou, sentindo as palavras doerem na garganta.
Depois girou nos calcanhares e começou a caminhar na direção do rio. Mal deu dois passos e sentiu sua capa ser puxada para trás gentilmente. Olhou por cima dos ombros e constatou um urso castanho-escuro enorme mordendo suavemente a ponta da sua capa, olhando para ela com olhos brilhantes.
- O que você quer de mim?
- Eu fiz comida.
Foi uma resposta tão sincera que ela ficou sem reação. Ele gentilmente puxou outra vez a capa dela, e Brithil se deu por vencida, sentando outra vez onde estava. Então o urso voltou também para onde estava, e ficou olhando atentamente para ela, esperando seu movimento. Brithil abriu sua mochila puxando o lençol devagar, e abrindo na sua frente. Ela notou aquele focinho negro enorme começar a farejar com curiosidade, enquanto ela olhava o pão e o pote de compota de amora.
- Ouvi dizer que ursos gostam de doces. - Ela pegou um pedaço do pão, e inclinando o pote, colocou um pouco da compota.
O urso se aproximou suavemente e começou a cheirar o pão, lambendo bem suavemente, permitindo que sua língua grande e quente tocasse na pele dela.
- Acho que este urso gosta de doces. - Ela riu, enquanto sentia ele pegar o pedaço com os dentes e se sentar em seu lugar, fazendo muito barulho ao comer.
O urso voltou a cheirar ela, fazendo ela rir com as cócegas que as fungadas quentes proporcionavam. Depois, ele voltou a se sentar em seu lugar, e observou enquanto ela temperava o salmão com o pequeno pote de sal da sua mochila. Não era o melhor salmão que ela já havia provado, mas não iria se arriscar a dizer isso para o urso que o preparou, mesmo que ele estivesse feliz.
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Fantasma - Uma lenda da floresta
Fiksi PenggemarBrithil acredita que, após muitos anos sendo expulsa de aldeia após aldeia, ela finalmente encontrou uma pequena vila na floresta para viver em paz, mas uma tragédia terrível a força a buscar memórias do seu passado para esclarecer o ocorrido. Odiad...