7 - Assuntos gerais

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Todos os olhos estão atentos, todos os ouvidos abertos. Sr. Monroe caminha um pouco pelo centro do salão, analisando a faca de bolso que ele trouxera consigo.

- Bem, senhores, aqui estão todos. - ele suspirou. - Eu chamei vocês aqui hoje para tratar de alguns assuntos importantes. O primeiro é a chegada do inverno.

O homem tinha uma voz grave e firme, alta e clara. Brithil não tivera muitas oportunidades de ouvir ele falar, e portanto sempre aproveitava quando esses momentos chegavam.

- Eu não vou mentir para vocês, este ano estou um pouco preocupado. O frio está chegando mais cedo, e parece que a neve vai ser mais alta esse ano. - ele prosseguiu.

Muitos homens começaram a sussurrar. As cabanas não poderiam aquecê-los de maneira eficaz esse ano.

- Temos peles suficientes? - Sr. Monroe perguntou.

- Minha família ainda tem algumas peças para vender, - Sr. Dipp, responsável pela venda de peles na vila se manifestou - mas a caça anda escassa...

E lançou um olhar feroz para Brithil.

- É verdade. - Sr. Dayke, um dos caçadores da vila concordou - A caça vem ficando cada vez mais escassa de dois anos para cá.

E também olhou para Brithil.

- Nem mesmo nas montanhas conseguimos achar nada. - Sr. Dayke prosseguiu - Nesse ritmo, podemos não ter carne suficiente para todos na vila.

Muitas pessoas sussurravam, assustadas. Era um grande problema.

- Isso é obra de bruxaria! - uma viúva berrou, apontando para Brithil - Desde que essa mulher decidiu morar perto de nós, nossos maridos não conseguem mais trazer caça!

- Ora, que tolice! - Brithil retrucou - Mestre Monroe, com todo o respeito, mas eu mesma quase não tenho conseguido caçar. A caça fugiu quase toda da floresta, porque um urso tem rondado perto do rio. Eu o afugentei, mas a caça pode não voltar a tempo.

- Um urso? Por essas bandas? - Sr. Dayke desdenhou - Ursos não chegam tão perto de aldeias de homens! Está claro agora que os anos de isolamento deixaram a mulher louca!

Risos foram ouvidos por toda a sala, e as faces de Brithil coraram de fúria. Não era certo o que estavam fazendo a ela. A moça dizia a verdade.

- Silêncio! - Mestre Monroe pediu, e a sala se calou - Olha, moça, eu não acredito que seja uma bruxa, porque isso é pura crendice. Bruxas já existiram sim, mas eram feias, de dentes podres e péssimo humor. Se for para condenar alguém assim eu teria que matar minha sogra!

E a vila toda irrompeu em uma enxurrada de risos. Brithil olhou ao redor, e viu que Vicky estava preocupado. E se ele estava, ela também deveria estar.

- Contudo, - o líder da vila retomou a palavra - não existem provas de que um urso tenha chegado tão próximo a uma aldeia de homens. Talvez o frio chegando mais cedo tenha obrigado a caça a migrar. De qualquer forma, ainda faremos mais duas grandes caçadas antes de tudo congelar.

Os homens comemoraram. Homens em geral adoravam a oportunidade de sair para caçar em grupo. Brithil, apesar de não gostar da ideia, torceu para que eles encontrassem muita caça, e não encontrassem o urso que falou com ela.

- Bem, já está resolvido. - Sr. Monroe prosseguiu - Passemos ao próximo tópico. Como todos sabem, minha esposa Rosalee só me deu uma única filha antes de ser levada para junto de seus ancestrais. É difícil para mim pensar a respeito, e tenho evitado esse momento há muitos anos, mas agora chegou a hora. Eu quero anunciar o casamento de Farah e Peder.

E dito isso, a sala toda aplaudiu. Uma bela moça ruiva saiu de junto das outras e se aproximou do pai, no centro do salão. De perto dos outros rapazes, veio caminhando um jovem que Brithil logo reconheceu. Era o rapaz atrevido que lançara olhares para ela no dia do encontro com o urso.

O rapaz olhou para Brithil e lhe deu uma piscadela. Depois, aproximou-se de sua noiva, deu-lhe um respeitoso beijo na mão, e a vila irrompeu em aplausos. Brithil ficou ainda mais enojada. Por mais que conversasse com a noiva e o futuro sogro, o rapaz continuava lançando olhares para ela, que a deixaram rubra de raiva.

A data do casamento fora marcada para o primeiro dia em que a neve caísse, o que deveria ser dali um mês. Brithil pensou muito nisso enquanto voltava para casa. E se ela fosse embora no dia do casamento? Ela havia planejado partir depois do inverno, mas não havia nada que a prendesse ali. Se ela fosse embora, não poderiam mais culpá-la pela falta de caça, mesmo não sendo culpa dela.

Ela pensou seriamente a respeito, mas por fim desistiu. Os risonhos e brilhantes olhinhos de Vicky a fizeram desistir. Era melhor partir depois do inverno, e era o que ela iria fazer.

Fantasma - Uma lenda da florestaOnde histórias criam vida. Descubra agora