10 - Despedida de solteiro

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O tempo passava mais rápido do que Brithil esperava. Uma semana depois de voltarem, os homens da vila fizeram a segunda e última caçada. Brithil pedia todas as noites para as estrelas que eles tivessem sucesso, no fundo ainda se preocupava com eles. Eles levaram menos tempo fora, e também trouxeram menos caça. Porém, desta vez, não encontraram o urso. Brithil ficou feliz e triste com isso.

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A madrugada estava escura, a lua e as estrelas não brilhavam no céu. Brithil caminhava pela floresta completamente escura, o vento soprava suave, gelando o corpo dela.

De repente uma sombra saiu de trás de algumas árvores. Era grande, pouco mais alto que ela. Seu pelo espesso não era tão grosso e sujo quanto é o dos animais da floresta, parecia o pelo bem escovado, limpo e cuidado das crinas dos melhores cavalos. Suas patas tinham garras brilhantes. Seus olhos verdes cintilavam na escuridão, olhando nos olhos dela. Brithil sentia seu corpo se aquecer e arrepiar com aquele olhar penetrante.

- Está chegando a hora. - o urso disse, voz grave e firme - Você tem que vir comigo.

Ela sentiu seu corpo estremecer. Mas, se aquela era a única chance de falar com ele, ela deveria aproveitar.

- Por que está nos ajudando? - ela perguntou, tentando esconder um pouco do medo da sua voz.

- Está na hora. Saia, e venha me encontrar. Eu serei seu guia. - ele insistiu. - Está na hora, fantasma!

Brithil sentou na sua cama, a testa molhada de suor, o peito ofegante. Ela sonhou com o urso. Será que foi uma visão? Um aviso? Ela deveria seguir o urso?

A moça passou as mãos em seus cabelos. Um vento frio abriu a janela do quarto. Brithil se apoiou no parapeito para fechar a janela. Olhando lá fora, seu estômago ardeu e queimou. A neve estava começando a cair.

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- Seis, por favor. - Brithil pediu suavemente, enquanto a Sra. Dayke colocava maçãs em sua cesta.

Era fim de semana, e depois da noite tumultuada, Brithil decidiu sair um pouco de casa para espairecer. Ao chegar na vila, viu a pequena feira de legumes, frutas e verduras montada no meio da praça, e resolveu comprar alguns alimentos para sua despensa.

Depois de pagar para a simpática mulher, ela caminhou de volta para sua cabana, olhando ao redor com muita atenção. A neve começava a cobrir o chão e os telhados, branqueando a paisagem. Algumas mulheres enfeitavam as janelas, portas e calhas dos telhados de suas casas com folhas vermelhas, que diziam que afastava os espíritos maus. Outras colocavam suportes pequenos e entalhados para velas nas varandas. Alguns homens lustravam umas cadeiras velhas para dar um pouquinho de brilho. Aparentemente, os preparativos para o casamento estava indo de vento em popa.

Brithil suspirou, enquanto se afastava da vila. O casamento estava de pé, programado para aquele dia. Isso era bom. Assim Peder tomaria jeito e a deixaria em paz. Ela sorriu com essa possibilidade. Seria um casamento bonito.

Mas quando ela se aproximou da sua cabana, seu estômago gelou. As janelas estavam abertas. Ela não havia deixado assim. Brithil correu até chegar na entrada. A porta estava aberta, e um pouquinho danificada. Não havia dúvidas de que tinha sido arrombada.

Ela deixou o cesto de compras ali, pegou um pedaço grande de madeira para lenha, e empurrou a porta devagar. Deu alguns passos para dentro, a cozinha estava do mesmo jeito que ela deixou, com alguns pratos sobre a mesa do café da manhã com o pequeno Vicky. Nenhum sinal do invasor. Ela continuou caminhando cautelosa, segurando firme o pedaço de lenha.

No seu quarto, a janela estava aberta. A cama parecia intacta, sinal de que o intruso não mexeu na sua caixa preciosa. No chão, uma mesa e a cadeira jogados, assim como o pequeno suporte de vela que costumava ficar ali. "O intruso não sabia bem o que procurar..." ela pensou.

- Para alguém que mora sozinha, com fama de bruxa, - uma voz debochada fez ela se virar - até que você é bem organizada...

Brithil sentiu o rosto arder de raiva. Peder era mesmo um rapaz muito atrevido.

- Daria uma boa esposa.

- O que está fazendo aqui? Deveria estar cuidando dos preparativos do seu casamento. - Brithil levantou a mesa do chão e a colocou no lugar - É daqui a algumas horas, não vai querer se atrasar.

- Eu ainda tenho muito tempo... - ele caminhou lentamente na direção dela - Tempo para pensar... Até reconsiderar...

Brithil o ignorava, juntando a cadeira e o suporte de vela do chão. Peder a segurou pela cintura, forçando a se levantar.

- Sabe, eu ainda tenho muito tempo... - ele continuou - Eu poderia... Me divertir... E você é tão bonita... Misteriosa...

- Oh Peder... - Brithil riu, debochada - Estou... Sem fala, no mínimo.

- Não precisa falar... Só colaborar...

Ele caminhou, empurrando ela para a cama. Brithil enfiou a mão por baixo do colchão lentamente, e sentiu o cabo da sua adaga.

- Boa moça... - ele sorriu vitorioso.

Com um movimento rápido, Brithil empurrou a adaga na garganta dele, a lâmina tocando sua pele. Peder assustou-se, e deu vários passos para trás. A moça segurava a adaga em seu pescoço, fazendo ele continuar a caminhar.

- Tem sorte de estar se casando hoje, ou eu acabava com sua raça. Acha que sou o quê? Algum tipo de mulher fácil? Sobrevivi a coisas muito piores do que a fome e o frio, e não vai ser um moleque vaidoso que vai me ameaçar! - Brithil fez ele caminhar até o lado de fora - Agora vá embora e nunca mais tente isso com ninguém, ou eu juro por Eru que farei um feitiço para que sua espada apodreça e caia, e nunca mais terá filhos!

E com isso o empurrou, fazendo cair de cara na lama. Peder tinha mais medo do que raiva em seus olhos, enquanto corria enlameado de volta para a vila. Brithil riu, enquanto pegava suas compras e retornava para a cozinha.

Fantasma - Uma lenda da florestaOnde histórias criam vida. Descubra agora