15 - Noite fria

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Brithil calculava mentalmente enquanto seguia o rio, agora na direção da correnteza. O rio Isen, que ela estava acompanhando, cortava todo o reino de Rohan e desembocava no grande rio Anduin, onde ela tinha medo de atravessar por ser grande e profundo e ter correntezas muito fortes. Talvez houvessem mais uma ou duas vilas antes do Vau de Rohan, mas a julgar pelo caminho que a legião amaldiçoada fez, talvez agora não tivesse sobrado mais nada além de destruição.

Havia uma coisa boa. Quanto mais se aproximasse do Anduin, mais quente ficaria. Logo ela não veria mais neve alguma. Isso era uma boa notícia, uma vez que, sendo inverno, os animais estariam nas áreas mais quentes, e ela poderia caçar. Pensar nisso a animou, fazendo apertar o passo. Teria comida, sim. Não precisaria se preocupar muito com as provisões que tinha.

A semana que se seguiu foi triste e calma. Kipperdale não queimava mais quando ela passou por ali, estava começando a acumular neve sobre o carvão e as cinzas. Só voltaria a aparecer na primavera, e que visão deprimente seria. Ela nem quis parar para acampar ali, passou a madrugada caminhando e tentando não pensar.

Alguns quilômetros depois do corredor de pedras de Kipperdale, o rio voltava a alargar. Nesse momento Brithil compreendeu por que aqueles homens construíram a vila ali. Era o lugar ideal para pescar, onde os peixes saltavam durante a migração para águas mais quentes. Era comida garantida.

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O fogo crepitava na lenha. Brithil aconchegou-se sob a coberta de pele de urso, observando enquanto assava um pequeno pato que ela havia encontrado perdido às margens do rio. Ela tinha quase certeza que aquele pato era um infeliz sobrevivente da destruição. Bom, agora não era mais. O frio era companhia constante nos seus pensamentos. 

Ela passou os dedos no pelo macio e negro da coberta que envolvia seus ombros. A pele brilhava suavemente com a luz vermelha da fogueira, umedecida pela neve que cobria o chão em uma camada fina apenas para deixar a terra gelada. O ar frio impedia que o seu nariz de farejadora identificasse qualquer coisa que não fosse o cheiro do pato assando, da lenha virando cinzas, e o suave aroma da compota de amora que por tanto tempo impregnava a casa em que ela morava. Passou os dedos no seu rosto queimado do frio, enxugando uma lágrima tímida. Vicky teria adorado acampar com ela. Ficaria ali, se aninhando em sua coberta, sob seus braços, reclamando que suas meias estavam molhadas e que nada no mundo o faria sentir seus dedinhos outra vez. 

Brithil ergueu seus olhos, recostando a cabeça na madeira fria do tronco da árvore atrás dela. O pelo do urso era macio e quente, mas ela sentiu falta do outro, aquele que era castanho-escuro. Ele era muito quente, e tinha um cheiro que lembrava madeira recém cortada, e caça recém abatida. Onde ele estaria? Por que ele rugiu para ela? Nada daquilo fazia sentido. Para começar, era um urso que falava. Até onde ela sabia, ursos não falavam.

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Brithil abriu os olhos, sentindo seu corpo ser puxando suavemente. Aquela sensação era muito familiar, o calor mais forte e o cheiro muito quente. Ela se virou para o lado, e seu rosto encontrou os pelos macios e meio molhados do peito dele. Sem pensar, apenas escondeu seu rosto o mais fundo que pôde, sentindo a pata pesada puxando ela em seus braços outra vez. E logo voltou a mergulhar no sono.

Fantasma - Uma lenda da florestaOnde histórias criam vida. Descubra agora