II

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A primeira coisa que tenho em mente quando volto a consciência é o estalar da madeira. Meus olhos se abrem de forma abrupta e logo estou olhando ao meu redor, me levanto rapidamente e levo minha mão à minha faca. Ergo ela em forma de ataque e presto atenção ao meu redor.

A caverna ao meu redor me faz ficar atordoada, pois se estou aqui, é óbvio que alguém me trouxe.

Um movimento ao chão me faz me virar na direção, olho para o local com os olhos semicerrados e ergo a faca ainda mais. A escuridão no canto da caverna não deixa que eu reconheça quem está lá, mas forço minha visão e consigo ver os traços de um corpo.

— Quem é você? — Minhas voz dói ao sair pela minha garganta seca.

O corpo se mexe nas sombras e logo ele se ergue, parecendo maior do que eu. Ele se aproxima da luz saindo das sombras e arregalo levemente meus olhos, o Forasteiro aparece sobre a luz da fogueira.

— Eu devia te perguntar a mesma coisa. — Sua voz é grave e um tanto ameaçadora.

— Por quê me trouxe aqui? — Pergunto desconfiada.

— Preferia morrer? — Ele pergunta. — Não se preocupe da próxima vez não irei me dar o trabalho de salva-la.

Olho para ele avaliando-o, seu corpo está tenso, mas não é por minha causa, algo está o perturbando e isso faz minha mente ficar agitada para saber. Sua postura é melhor do que a de um soldado e tudo nele expressa perigo. Abaixo a arma e a guardo.

— Você que deveria se sentir grato, já que eu o salvei de ser devorado. — Respondo — Além disso, o quê o faz pensar que vai ter uma "próxima vez"?

— Se você espera um agradecimento, pode esperar sentada, não lhe pedi para ser salvo. — Ele diz rudemente.

— Ótimo, então estamos quites. — Cruzo os braços e o encaro nos olhos.

— E para sua pergunta, você irá permanecer comigo, já que bebeu o que não devia. — Sua voz mostra irritação.

O olho confusa e percebo que ele está se referindo a água.

— Não irei ficar com você só por que tomei sua água. — Rebato. — Além do mais, ela estava envenenada.

— E quem disse que aquilo era água, garota tola? — Vejo ele fechar os punhos e caminhar em minha direção.

— Se não era água era o que, então? — Pergunto arrogante.

— Uma poção de ligação. — Ele vira o rosto e olha para a parede.

Meus olhos se desviam dele e olho para o chão, passo as mãos sobre minha cabeça e vejo que a mesma está descoberta.

— E aquilo me liga a quem? — Minha pergunta sai baixa e sinto minha saliva ficar amarga.

Meus olhos encontra os seus e vejo ele suspirar, seu corpo relaxa um pouco e suas mãos se abrem.

— À mim.

Solto um suspiro de alívio e tento relaxar meus músculos.

— Pelo menos não estou ligada à uma criatura. — Olho para ele como se o avaliasse. — Pensando bem, acho que estou.

Abro um sorriso irônico e vejo seus olhos se estreitarem.

— Você realmente não imagina o que fez, não é? — Ele cruza os braços e me olha por cima.

— Não, e não me importo. — Dou de ombros. — Mas não vou ficar com você.

— Você não tem escolha.

— E quem vai me obrigar? Você? — Dou um sorriso sarcástico.

— Se for necessário. — Ele se aproxima parando somente à alguns centímetros de mim. — Não vou morrer por sua causa.

— Você esta insinuando que não sei me virar sozinha? — Pergunto estreitando os olhos.

— Não — Diz ele sorrindo diabolicamente — Sei que sabe se cuidar muito bem para uma garota, mas não posso correr riscos. Não que eu me importe com você, é claro.

— Se não se importa, então tanto faz se estou viva ou morta, não é? — Olho em seus olhos, pensando em todas as formas possíveis de mata-lo.

— Na verdade, a parte de você estar viva ou morta, passou a me interessar a partir de quando você tomou a poção. — Ele diz — Já que se você estiver morta, eu também vou estar.

Dou um passo para trás confusa, já tinha ouvido rumores do que a poção de ligação fazia, porém nunca tinha ligado para isso, até agora. Quem tomasse a poção, poderia saber o que o outro sentia, se um estivesse ferido o outro também estaria, mas se um morresse o outro também morreria.

— Percebo que caiu em si. — Ouço a voz do forasteiro atrás de mim. — Agora percebe a merda que você fez?

Olho para ele e percebo a irritação fluir de seu corpo.

— Quanto tempo tenho até a ligação estiver completa? — Pergunto.

— Não sei, alguns minutos, algumas horas ou talvez alguns dias? — Ele diz com raiva. — Bom, não importa está feito, melhor se acostumar com isso.

— Não, não e não. — Nego com a cabeça. — Não posso me ligar à você. Eu preciso chegar até Gaston e não quero você para me atrapalhar.

— Bom, isso é problema seu. — Diz com desdém. — E nós não vamos para Gaston, nós vamos para Solarium.

Olho para ele e estreito meus olhos.

— Não, nós não vamos . — Digo entre os dentes. — Lá só à destruição, não à nada que me interesse naquele lugar.

— Como já disse, é problema seu. — Ele se afasta e sem nem pensar pego minha faca e atinjo suas costas, fincando a lâmina na parte de trás de seu ombro.

Largo a faca e caio de quatro no chão, minha pele arde e a dor se expande em minhas costas, minha respiração falha algumas vezes e tento voltar a respirar normalmente. O som de metal atingindo o chão vem perto de mim, ergo minha cabeça e meus olhos se encontram com os olhos do Forasteiro, ele não diz absolutamente nada e volta para as sombras.

Me sento ao chão sentindo a dor pulsar em minhas costas, olho para a parede próxima da fogueira e começo a gatinhar até lá, onde me sento encostada a parede. O fogo me aquece e um calafrio involuntário atravessa meu corpo e sei que ele está me avisando que o pior está por vir.

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