Olho para as chamas e sinto a inquietação me envolver novamente, algo não está certo, consigo sentir isso em cada canto do meu ser.
Primeiro aparece o Forasteiro e agora Max, e mesmo que eu não tenha reparado antes, tenho a sensação de que os dois se conhecem. Forasteiro não iria sentir tanta raiva de alguém somente por um golpe, tudo isso é muito estranho e desconfiador.
E tem o Max, que sequer ficou surpreso com o poder que permanece dentro de mim. Tem algo acontecendo ao meu redor e eu vou descobrir o que é.
Forasteiro se senta ao meu lado. As chamas iluminam uma parte do seu rosto, deixando a outra na escuridão. Seus joelhos estão dobrados e seus braços o envolvem, seu rosto tem uma expressão séria e suas sobrancelhas estão franzidas, quase se tocando uma na outra, deixando claro que ele está pensando em algo.
Desvio meu olhar para as chamas, o fogo dança em um ritmo constante, como se estivesse dançando ao som de uma música própria. Fecho os olhos quando uma leve brisa atinge meu rosto e sinto meus músculos relaxarem, mas a voz forte me trás de volta a realidade e me faz abrir os olhos.
— Eron. — Ele diz.
Olho em sua direção confusa e ele encolhe um pouco os ombros largos.
— Achei que seria justo você saber o meu nome, já que eu sei o seu.
Em seus olhos vejo as chamas dançarem e o tão perdido em si mesmo ele está nesse momento.
— Eron. — Repito o nome em um murmuro, o nome sai estranho e ao mesmo tempo familiar. — Obrigado, eu acho.
Ele olha para mim, seus olhos parecem vasculhar não só meu exterior, como também o meu interior. Como se estivesse há procura de algo dentro da minha alma.
— Não precisar agradecer, eu fiz o quê achei ser justo, nada mais que isso. — Sinto os cantos de minha boca descerem levemente para baixo, deixando claro o meu descontentamento.
— Dá próxima, me lembre de nunca ser gentil com você. — Resmungo.
Desvio meu olhar do seu e olho para a entrada da pequena caverna, os cipós caem por toda a entrada cobrindo-a completamente, as plantas sobem pela as paredes criando desenhos irregulares, mas mesmo assim deixando o lugar encantador.
— Eu jamais disse o meu nome a ninguém. — A voz dele me faz voltar a olha-lo. — Quer dizer, nunca ouve ninguém para eu contar.
— Como assim? — Minha atenção agora é completamente direcionada a Eron.
Ele dá de ombros olhando ao redor e se volta para mim.
— O lugar que eu vivo.. Hum.. Não é bem um lugar onde as pessoas se interagem entre si. — Ele olha em meu rosto procurando por algo. — Elas preferem ficarem sozinhas.
— E como é viver assim? — Pergunto olhando para a parede por cima de seu ombro e depois para ele — Sem ninguém para conversar?
— Solitário.
Várias perguntas rondam minha mente e minha boca se prepara para jogar cada uma delas para cima dele, porém consigo me conter. Quando vou mudar de assunto, Eron faz algo que me deixa imóvel.
Seus dedos deslizam pelo meu rosto, a sensação de seu toque gelado com o meu rosto quente faz um arrepio percorrer meu corpo. Meus olhos encontram os seus, parece que meu corpo está paralisado, algo se remexe na base de meu estômago e tenho a leve sensação de que isso não é normal.
Ele se arca mais em minha direção, seus dedos encontram com a mecha de meu cabelo que escapou de minha trança e ele empurra os fios para trás de minha orelha esquerda. Mas mesmo depois de coloca-lo atrás de minha orelha, ele permanece com os dedos em minha bochecha. Seu polegar acaricia minha pele e seu olhar desce em direção a minha boca.
Minha respiração sai ofegante quando ele se aproxima ainda mais e quando nossos lábios estão quase se tocando, Max grita o meu nome.
Dou um pulo para trás assustada e Eron me olha com os olhos arregalados. Ele se afasta de mim e olha para as chamas, sinto a confusão emanar dele, meus sentimentos me confundem e se misturam com os dele, me sento ereta e olho ao redor.
— Eu .. Hã .. Vou ver o que ele quer.
Vejo ele balançar a cabeça e eu saio mais rápido do que achei possível, de perto dele, já a alguma distância dele sinto minhas bochechas esquentarem, massageio minhas têmporas conforme vou me afastando.
Quando chego ao local onde Max está, fico confusa e logo depois começo a rir. O homem de cabelos dourados está todo emaranhado em uma enorme teia de aranha e a mesma se encontra encolhida em um canto. A teia pega do chão ao teto e a aranha chega a ser maior do que um cachorro.
Max faz uma careta e seus olhos brilham de pavor quando a enorme aranha começa a ir em sua direção. Meu rosto se fecha em uma expressão séria e sinto a tensão voltarem aos meus ombros, sem qualquer outra escolha refaço meu caminho indo atrás de Eron.

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A Filha De Raziel
ФэнтезиTalvez em algum momento a bíblia estivesse certa, não posso saber ao certo, pois eu não estava lá para presenciar a destruição. Mas sei que algo aconteceu, pois assim que acordei já não havia mais nada, somente destroços. Alguns dizem, que o mundo a...