VIII

9 1 0
                                    

Minhas mãos brilham levemente e tento a todo custo não sair do controle, meu poder pode se tornar um tanto rebelde quando deseja e o fato de eu não saber controla-lo torna tudo mais fácil.

O suor começa a escorrer pelo meu rosto por causa do esforço, meu poder implora para ser libertado e o que eu mais desejo é fazer o que ele pede. Eu já não tenho forças e o cansaço domina cada vez mais o meu corpo com o passar dos segundos.

Minhas mãos estão pressionando o peito do Forasteiro, tanto para cura-lo, quanto para me apoiar e não me deixar cair de cara na areia.

Max não disse sequer uma palavra dês que minhas mãos começaram a brilhar e se ele se importou com isso, ele não demonstrou. Sua expressão está distante e parece que a qualquer momento ele vai se levantar e ir embora.

Bom, isso não me impressionaria. Ele já fez muito mais do que devia, e se a escolha dele for partir, eu com certeza não vou impedi-lo. Apesar de que meus olhos sentirão falta de olhar para ele e como diziam no mundo antes do apocalipse : " Ele é um colírio para meus olhos ".

Afasto os pensamentos pervertidos que passam em minha mente e tento não deixar um sorriso surgir em meus lábios. No momento em que pretendo desistir e fazer meu poder voltar para dentro de mim, algo acontece, primeiro um movimento leve nas pálpebras e logo em seguida os olhos bicolores se fixam nos meus. Vejo a confusão estampada em seu rosto, mas quando seus olhos se desviam para Max, sua expressão endurece e seus olhos brilham selvagens, consigo me afastar a tempo de não ser atingida pelo soco direcionado ao rapaz do meu lado.

Tudo se torna um borrão e quando dou por mim o Forasteiro já está em cima de Max. Fico indecisa entre sair de fininho ou separa-los. Suspiro derrotada e vou até os rapazes, que agora estão rolando pela areia. Ergo a besta, pego um dardo colocando-a na arma, miro e aperto o gatilho.

O dardo atravessa entre os dois, pegando de raspão a bochecha esquerda do homem de cabelos negros e a bochecha direita do loiro. Eles param instantaneamente e me olham, vejo a surpresa estampada no rosto de Max e a irritação no de Forasteiro.

— Vamos, Forasteiro, seja bonzinho e se afaste dele. — Digo apontando um novo dardo em sua direção.

— Você sabe que se me atingir, também estará se auto atingido, não sabe? — Ele se sorri para mim irônico e eu abro um sorriso largo.

— É claro que sei, mas isso não vai me impedir de machuca-lo. — Seu sorriso se desmancha e ele se afasta  contrariado. — Isso mesmo, bom garoto.

Ele rosna em minha direção e se aproxima de mim, tentando manter uma distância razoável entre ele e a figura ao chão. Posso sentir o desconforto emanar dele, é tão forte que até eu mesma me sinto desconfortável.

— Pode me dizer o por quê de termos vindo busca-lo? — Max pergunta se levantando.

— Porque você foi um inconsequente e o deixou para trás. — respondo já me virando para partir.

Forasteiro se mantêm ao meu lado direito, mas posso ouvir as passadas arrastadas de Max atrás de mim.

— Para onde estamos indo? — O Forasteiro pergunta. — Solarium fica para o outro lado.

— Eu preciso descansar, quer dizer, nós três precisamos. — Lanço um olhar rápido em sua direção. — Solarium pode esperar por algumas horas.

Seus lábios ficam em uma linha fina, deixando claro seu descontentamento, porém vejo o cansaço em seus olhos e em seu andar, o que me faz sorrir de lado.

— Não pense que concordo com isso. — Sua voz sai ríspida adivinhando o que estou pensando.

— Eu não estou pensando nisso. — Digo tentando me manter séria, mas falho e acabo rindo.

— Odeio o que você fez com a gente. — Resmunga ele.

Paro e coloco minhas mãos na cintura, meus olhos semicerram e sinto a irritação surgir.

— Não me culpe por tudo, eu já disse que foi sem querer. — Ele me olha e levanta uma sobrancelha. — Como se eu soubesse que tinha uma poção dentro de seu cantil, que eu me lembre, não tinha nada anotado nele para me servir de aviso.

— Tanto faz, Samantha. — Ele se vira de costas e sai andando.

Minhas pernas travam, minhas veias gelam e meu cérebro parece ter parado.

— O quê você disse?

Forasteiro para a alguns metros de mim e vejo a tensão se expandir pelo seu corpo, posso sentir que ele disse algo que não devia.

— Eu ..

— Como sabe o meu nome? — Pergunto me aproximando dele.

Ele não olha para mim, seus olhos estão focados no horizonte.

— Me responda! — Digo entre os dentes.

Ele suspira e me olha derrotado.

— Você disse enquanto dormia.

Olho para ele desconfiada, porém aceito sua desculpa, não há nada para ele me esconder, além do mais, quanto menos eu me envolver com ele mais fácil será deixa-lo partir depois.

— Tomara que você esteja dizendo a verdade, pois se não, é melhor se acostumar a dormir com os olhos bem abertos. — Passo por ele esbarrando de propósito em seu peito e saio a passos duros.

A Filha De Raziel Onde histórias criam vida. Descubra agora