15 × Eu e você ×

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|Naomi Rylee|

11:00 – 06 de novembro de 2017

-Acorda, dorminhoca! – Foi como me acordaram naquela manhã.

Eu resmunguei alguma coisa, certamente deixando Hoseok insatisfeito. Ele me rolou na cama até eu cair no chão e ter meus pulsos presos por si em cima da minha cabeça. Sorrir foi involuntário.

-Vamos para a praia de Hamdeok!

PRAIA!

A simples palavra fez com que eu levantasse em um pulo, chocando minha testa contra a de Hobi. Rimos juntos, mas logo meu riso cessou por conta de uma tontura forte que teria me levado ao chão se não fossem seus braços me segurando.

-Mi, você está bem?

-Defina bem. – Comentei, sarcástica, tentando aliviar o clima. Não funcionou.

-Podemos deixar a praia para outro dia. Talvez você deva descansar.

Neguei.

-Eu vim nessa viagem para curtir a minha vida, meu anjo. Vamos à praia sim. – Rebati. – Você pode me alcançar meus comprimidos?

Ele assentiu e logo me trouxe as três cápsulas azuis junto com um copo de água.

-Essas porcarias ao menos funcionam? – Questionou, com raiva.

-Melhoram um pouco. O oncologista que me atendeu quando eu desmaiei que me receitou.

Depois que me recuperei, fui até minha mala para pegar meu biquíni. Os coreanos tinham costume de cobrir muito o corpo; mas, afinal, eu era uma americana. E nem morta que eu usaria aquelas calçolas de vovó para ir à praia.

Quando saí do banheiro, Hoseok deu um assobio e me olhou de cima a baixo, encarando-me com malicia. Senti minhas bochechas esquentarem, mas sorri.

-Gata demais. Vamos?

Ele me ofereceu o braço em L e eu ri antes de aceitar.

Ao chegarmos na praia, minha boca se escancarou em um perfeito "o". Era lindo, como tudo naquela ilha. O mar era cristalino como as águas do caribe e não ventava muito. Além disso, a praia estava bem vazia, então teríamos privacidade.

Ficamos boa parte do tempo tomando sol na areia. Bem, Hoseok não, porque ele ainda tinha aquela cisma de que as fãs gostariam menos dele se estivesse com a pele mais morena.

Eu lhe disse que era impossível que pegasse qualquer bronzeado com a quantidade de protetor solar fator 100 que ele havia posto, mas a teimosia falou mais alto e ele ficou embaixo do guarda-sol.

Encontramos algumas ARMYs, mas elas pareceram bem normais na minha presença. Disseram que estavam felizes por Hoseok e que eu era muito bonita. Agradeci muito, pois tudo o que eu menos queria era que nosso relacionamento prejudicasse a carreira dele de qualquer maneira. Apesar de ninguém saber que de fato tínhamos algo, muitos já suspeitavam e fofocavam por aí.

Novamente almoçamos às três da tarde e logo depois de passarmos no hotel para trocarmos de roupa, resolvemos visitar mais lugares na cidade.

Fomos ao Castelo de Vidro de Jeju, ao Mercado Dongmun e terminamos o dia nos divertindo no Kimnyoung Maze Park, um parque que tinha um labirinto feito de arbustos e as pessoas competiam para ver quem achava e tocava o sino primeiro.

Na competição, eu e Hoseok acabamos por nos encontrar no centro vindo por caminhos opostos, e trocamos olhares cúmplices quando chegamos perto do sino.

-Juntos? – Ele perguntou.

-Juntos. – Assenti.

E o sino foi tocado ao mesmo tempo.

-Eu sempre vou achar o caminho de volta para você. – Sussurrei antes de beijá-lo.

*

07 de novembro de 2017

Nesse dia, fomos ao teatro de NANTA, a um bairro chamado Black Pork Street e ao museu de Haenyeo. Ah, também conhecemos um museu de história de folclore da ilha de Jeju, que foi muito interessante e informativo.

Grande parte do dia apenas andamos sem rumo, trocando beijos, carícias e juras de amor.

-Hoseok, me promete uma coisa?

-Qualquer coisa. – Respondeu.

-Prometa que vai se lembrar de mim.

07:50 – 08 de novembro de 2017

Dor.

Meu corpo queimava e coçava, mas não havia nada que eu pudesse fazer para parar a dor.

Eu me encontrava na cozinha, a parte mais afastada do quarto, e chorava sozinha em um canto tentando não acordar Hoseok.

Não é justo.

Eu só conseguia pensar que não era justo deixar todas aquelas pessoas que eu tanto amava para trás. Hoseok, Soo Young, meus pais, Lydia, meus amigos, meus fãs e todos aqueles que se importavam comigo...

Por mais que eu pudesse compreender, era doloroso.

E não só emocionalmente, porque meu corpo parecia estar sendo lentamente consumido de dentro para fora. Eu quase podia sentir e escutar os neurônios dentro do meu cérebro se rompendo e atrofiando, a medida que a massa cancerígena consumia mais e mais partes do meu cérebro.

"Uma viagem nesse momento pode ser muito prejudicial, srta. Rylee. A senhorita deve evitar qualquer esforço físico."

Lembrei-me das palavras do médico. Evitar para quê? Eu morreria de qualquer maneira, e me recusava a passar dessa para a melhor enfurnada em uma cama de hospital como se eu fosse um vegetal.

Ah, eu definitivamente não faria isso.

Por isso eu chorei e vomitei todas as minhas inseguranças na pia do banheiro, voltando a deitar com muita dificuldade. Eu já não conseguia enxergar direito, mas o cheiro do shampoo de maçã verde que meu namorado usava era inconfundível, então me guiei por ele.

Não consegui voltar a dormir. Mas durante horas fiquei ali, aconchegada com a pessoa que eu amava, enquanto observava seus traços que pareciam ter sido esculpidos à mão. Ele tinha os olhos pequeninos, como os de qualquer asiático, mas que ainda sim eram únicos; as maçãs do rosto eram salientadas; o nariz era longo, fino e levemente arrebitado na ponta; e a boca, aquela que eu amava beijar, tinha os lábios superiores em formato de coração.

Passei meus dedos de leve naqueles lábios, apenas memorizando a sensação daquela textura. Inspirei seu cheiro doce mais uma vez e deixei um beijo casto em sua boca.

-Eu amo você, Hoseok. – Sussurrei para que apenas ele pudesse ouvir.

 

Como se estivesse em um sonho, Hoseok sorriu.

Remember Me → J-HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora