12 × Não é justo ×

142 19 12
                                    

           

|Narrador|

Naquele dia, Hoseok afagou os cabelos da namorada até que ela adormecesse ali mesmo, no sofá, e a levou para a cama. A expressão serena da garota o deixava admirado... Naomi era a coisa mais bonita que ele já havia visto na vida.

Antes que pudesse notar, já estava na cozinha, chorando baixo. Ele tentou ser forte na frente dela, mas ali, simplesmente não conseguia mais.

Ele iria perdê-la.

Depois de tê-la de volta, sairia dos braços dele, mais uma vez.

Não parecia nem um pouco justo, e Hoseok se perguntou se a divindade estava zoando com a cara deles. Ou vai ver o destino era um belo de um filho da puta mal-amado que queria ferrar a vida de duas pessoas que se amavam mais do que tudo, apesar da distância e de todas as adversidades.

De qualquer forma, não era justo. E o garoto chorou cada vez mais alto até sentir uma dor de cabeça insuportável, a qual não era maior que a dor do seu coração.

As lamúrias logo passaram para raiva, e ele tacou a primeira coisa que viu à frente no chão. No quarto, Naomi acordou, assustada, e mesmo que com dificuldades cambaleou até a cozinha. A cena de seu amado tão transtornado fazia seu coração doer como nunca. Ela só queria evitar toda essa dor.

-Hoseok. – Ela chamou, sendo ignorada pelo rapaz que chorava em um canto. – H-hoseok...por favor!

Suas pernas doíam, mas isso não a impediu de ir até ele e abraça-lo com todas as forças que ainda tinha. A cabeça encostava em seu peito – assim, ele poderia ouvir o seu coração dizer o quanto o amava e o quanto sentiria sua falta.

-Eu sinto muito... – Ele murmurou.

-Eu também sinto, Hobi.

A mão dela passeava por entre os fios castanhos e macios. A sensação era tão boa... ela poderia ficar para sempre ali, naquele momento. Queria ter o poder de congelar o tempo e viver dentro de determinado loop.

É. Talvez se ela conseguisse criar um loop do tempo, ela e Hoseok poderiam ser felizes para sempre. Só os dois.

-Isso... n-não é justo...

Ela sabia.

-Eu sei que não. Mas a minha vida nunca foi muito legal mesmo...

-Pare de dizer isso! – Esbravejou. – Você ainda tinha tanta coisa pra viver. Só vinte e um anos... Ainda tinha tanto tempo para fazer coisas boas. Tanto tempo pra achar felicidade.

Mal sabia ele que ela já tinha achado.

Os minutos foram se passando e a madrugada parecia fria, dura e cinza. Era o cenário de um drama; Naomi desejou estar apenas dentro de uma personagem, mas não, era a própria vida dela que estava em jogo.

Dois meses e vinte e três dias. Ela tinha esse curto tempo, e iria aproveitá-lo com tudo o que pudesse.

-Vamos viajar. – Ela disse, de súbito. – Vamos para Jeju, sim? Sempre quis conhecer a "Ilha mais bonita da Coréia".

Ele fungou, porém deu um sorriso e assentiu.

-Vou pegar folga no trabalho. Já entreguei três músicas, então acho que dá.

Ela sorriu. Sabia que Hoseok faria tudo por ela.

-Vou preparar tudo. Vamos quando?

-Eu consigo a folga daqui duas semanas. Você... acha que dá?

A atriz sabia o que ele queria dizer. Você ainda vai estar viva até lá? Todo e qualquer segundo diminuía seu tempo de vida... mas dava. Teria que dar.

-Parece perfeito, meu anjo.

E foi no sofá da sala que adormeceram.

Vídeo número 011 – 06:50 – 22 de outubro de 2017

           

"Oi, é a Naomi.

Eu não sei bem o que dizer aqui. Essa ideia de documentário me parece um pouco estúpida. Mas resolvi aceitá-la, porque... bem, eu estou morrendo.

É, isso mesmo que vocês ouviram, queridos fãs. Eu estou doente e... morrerei daqui algum tempo. Dois meses e vinte e três dias, a partir de hoje; se a doença não me matar mais rápido, é claro.

Não sei bem como ou por que isso começou. Nem os médicos sabem.

Antes, eu pensava que o destino ou quem quer que controle nossas vidas, estivesse apenas tentando me punir e me fazer sofrer.

Mas aí, eu vi que não era bem assim.

A minha vida toda eu tive dificuldade de fazer amigos, sabiam? Eu sempre me mudava de país em país. Estados Unidos, Espanha, Itália, Rússia, Japão, Coréia... E apenas esse último foi o lugar que eu pude considerar minha casa.

Mas o que seria "casa"?

Eu também não sabia responder. Mas aí eu conheci uma pessoa especial. Não vou dizer o nome dessa pessoa porque não quero que ele se prejudique de nenhuma forma, mas... ele sabe que é ele. Ele sabe que é o único na minha vida.

Porque ele é o meu lar.

Já ouviram aquela história de que, às vezes, "casa" não é um país ou uma cidade, mas sim dois olhos e um coração?

É a mais pura verdade, ao menos na minha vida.

Aquele par de olhos castanhos e coração generoso era, é, e sempre será o meu lar, a minha casa. Ele é a pessoa por quem me apaixonei aos nove anos de idade e que tempo e distância não foram capazes de separar.

Acho que é porque era pra ser.

E aí eu consegui entender os planos que a divindade fez para mim!

Meio estranho, né, gente. Você descobre o propósito da sua vida quando ela está prestes a acabar. É trágico, também. Mas fazer o quê?

Eu não sabia o que era o amor. Observava minhas amigas namorando, beijando vários, trocando de "crush" a cada nova semana... eu não entendia nada daquilo. Nenhuma daquelas formas de amor parecia plausível para mim. Eu não entendia como elas podiam ser felizes com uma simples ligação daquele alguém... só que aí, eu o reencontrei.

E eu entendi que ele era o meu amor.

Porque ele fez com que eu me sentisse boa o suficiente e esperta. Como se eu fosse a mulher mais bonita desse mundo inteiro e não houvesse sequer outra que ele gostaria de estar. Ele fez com que eu sentisse que tinha um propósito, o meu valor... e eu sempre fui viva e feliz do seu lado.

E agora... eu estou morrendo.

É trágico, eu sei. Talvez agora vocês estejam chorando enquanto assistem isso... mas eu vos peço que não chorem quando eu for embora. Eu suportei todas as dores da minha carreira apenas por causa de vocês, fãs. Que me deram força para continuar.

 

Obrigada. Eu amo vocês."

Remember Me → J-HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora