05 × As memórias que um dia enterrei ×

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|Naomi Rylee|

09:30 – 14 de setembro de 2017

Estava exausta, e o despertador batucando na minha cabeceira não ajudava muito.

Ontem, fiquei até as duas da manhã conversando com Hoseok depois da minha estúpida ideia de dizer que tinha voltado para a Coréia. E agora ele está animado com a novidade e pronto para retomar nossa amizade de seis anos atrás. E o pior de tudo é que estava funcionando, mas eu já não era a mesma Naomi dos quinze anos e ele, em contrapartida, continuava o mesmo.

Não ia dar certo.

Aonde eu estava com a cabeça? Sinceramente, eu merecia alguns socos. Dados por mim mesma e pela mãe de Hoseok também. Você fez o meu filhinho sofrer, sua miserável! Seria engraçado, se não fosse trágico.

E neste exato momento, estou me arrumando para encontrar com ele em uma cafeteria. Não preciso nem dizer que dei mil motivos de como aquilo parecia uma má ideia, incluindo o assédio dos fãs, a especulação da mídia e a simples possibilidade de eu derrubar café na roupa dele. Mas de nada adiantou.

Coloquei uma calça preta de cós alto e uma camiseta também preta. Sob estas, joguei um casaco de lã bege e combinei com a bolsa amarronzada. Nos olhos, um óculos de sol caramelo da Prada. Era a combinação perfeita para um outono coreano.

As 10 eu já passava pelas portas do Coffee Libre e sentia as borboletas no meu estômago voarem depois de anos. Quase podia sentir o pó e as teias de aranha sob elas, coitadinhas. Mas essa poeira iria ser dispersada logo, pois elas se agitaram ainda mais quando meu olhar se encontrou com o se Hoseok e ele sorriu.

Não sorria, seu maldito.

Sorrir de volta foi quase involuntário, e os músculos da minha bochecha doeram por tal ato. Quanto tempo fazia que eu não me sentia verdadeiramente feliz daquele jeito? Empolgada? Apaixonada?

Jung Hoseok era a felicidade.

-Acordou de bom humor hoje, Naomi? – Escutei sua voz novamente e me repreendi por corar. Corpo, pare de ter essas reações estúpidas.

-Pode-se dizer que sim. – Continuei sorrindo. – E você?

-Mas é claro! Eu ia te ver. Como não teria bom humor? – Corei novamente. Já estava entrando em desespero e, se não fizesse algo, Hoseok iria me ter na palma de sua mão.

-Isso não é justo... você sempre está de bom humor, J-Hope. – Brinquei.

Há quanto tempo eu não brincava, ou fazia piadas, ou usava sarcasmo sem maldade?

Como esse garoto tem um efeito tão inigualável sobre mim?

Ele sorriu novamente e me sentei na mesa. Hoseok estava bonito, como sempre. Usava jeans na calça e na jaqueta, que combinavam com a blusa preta. Tinha boné e máscara, que estava abaixada de leve para se comunicar comigo. Imaginei que isso era por causa das fãs e dos paparazzi. Eu o entendia.

-Então, como é viver longe do assédio da mídia? – Perguntou, enquanto a garçonete levou nossos pedidos embora.

-Não estou completamente longe. Ainda tem uns repórteres aqui e ali querendo saber o que estou fazendo na Ásia. – Comentei. – Mas é definitivamente melhor que a Califórnia e, céus, que Nova Iorque.

Ele riu e eu podia jurar que não havia som mais bonito que aquele.

-Uma pena não poder dizer o mesmo. Esse é o pior lugar para sair em público. – Referiu-se a Seul. Era óbvio. Ele era parte de uma banda sul-coreana que estava no topo das paradas, então era plausível que a cidade em que moravam fosse a mais espalhafatosa. – Mas vale a pena se for com você.

Fiquei em silêncio, esperando algum sinal. Alguma coisa que o destino pudesse me mostrar e traduzir se Hoseok tinha a mínima possibilidade de sentir algo por mim.

-Naomi, eu...

Eu arqueei as sobrancelhas, incentivando-o a continuar. Mas ele não o fez, pois, a garçonete chegou com nossos pedidos, colocando as duas fatias de bolo de morango e os dois lattes em cima da mesa.

Peguei o garfo e notei que minha mão estava trêmula. Larguei-o e fingi procurar algo na minha bolsa, sentindo o olhar de Hoseok concentrado no bolo em sua frente. Ainda sem encará-lo, perguntei:

-Então, o que você ia dizer?

Ele ficou quieto, e quando ergui meu olhar, percebi que me encarava. Arqueei as sobrancelhas novamente, esperando que dissesse alguma coisa.

-Esse bolo é bom.

Não era bem isso que eu esperava.

Mas tudo bem, era melhor assim. Eu deveria parar de me iludir e criar esperanças de que nós tínhamos um futuro e que tudo seriam flores e que ficaríamos juntos para sempre.

Ao menos, ele estava certo em relação ao bolo.

*

|Narrador|

Memórias – 12 de maio de 2007

-Hoseokkie, vamos! Não quero me atrasar pra aula, senhor preguiça.

-Aish, você é muito certinha, Mi.

As duas crianças corriam pela calçada no caminho para a escola. Gwangju era uma cidade muito tranquila e até pacata, portanto, não havia problema naquilo. Naomi tinha onze anos e Hoseok, treze. E mesmo naquela época a garota sentia coisas diferentes perto do amigo, mas pensava que não era nada demais.

-Vamos apostar corrida, Mi! Aposto que você não ganha de mim! – Disse o mais velho, começando a correr e arrancando risadas da menina, que corria também.

Memórias – 05 de novembro de 2010

-Mi, preciso de ajuda. – Disse Hoseok, encarando a garota que estava deitada em sua cama.

-Que foi?

-Eu estou gostando de uma garota.

O coração dela pareceu parar, para, logo depois, ser estraçalhado. Ele gostava de outra. Ela nunca teria espaço no coração dele do jeito que gostaria. E mesmo triste, virou-se para ele e deu seu melhor e mais falso sorriso.

-Que bom, Hoseokkie! Quem é?

-Não posso te falar, né. Mas eu quero me confessar pra ela. O que eu faço? Do que as garotas gostam?

-Cada garota é diferente, bobão. – No fundo, Naomi tinha uma raiva descomunal dentro de si.

-E você? Gosta do quê?

De você, Hoseok.

-Gosto de peônias. São flores lindas. As rosas, principalmente. E...gestos românticos. – Não sabia ao certo o que responder. – Hoseok, apenas demonstre que você gosta dela, sim? Trate-a bem. Dê carinho. Essas coisas.

Memórias – 02 de janeiro de 2011

Hoseok iria encontrar Naomi em uma praça no centro da cidade. Andava com certa pressa, a respiração falhava por conta do frio e da aflição. Era certamente um dia muito decisivo na vida dos dois. Ao encontrá-la, abriu seu maior sorriso. Este, por sua vez, não foi retribuído. O rapaz nunca tinha visto Naomi tão triste, e ela nem fazia menção de esconder.

-Naomi-ah? O que houve?

Silêncio. Ele começava a ficar preocupado.

-Hoseok. – Ela pausou. – Eu vou embora.

Naquele dia, a garota nem percebeu que atrás do corpo dele havia um lindo buquê de peônias rosa.

Remember Me → J-HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora