03 × Partida ×

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|Naomi Rylee|

00:18 – 28 de agosto de 2017

Já era tarde quando cheguei no meu apartamento e larguei os saltos no meio do caminho. A noite tinha sido um desastre, e não porque algo de ruim tinha acontecido, mas sim porque tinha sido fantástica.

Durante duas horas conversamos muito. Realmente, Hoseok não havia mudado nada, apenas evoluído mais como pessoa; resultado da convivência com os meninos do Bangtan.

Aliás, eles eram as pessoas mais legais que eu já tinha conhecido. Não me lembro de conhecer pessoas tão humildes e carinhosas em qualquer lugar que já tenha morado, e fiquei feliz por poder chamá-los de amigos. Eram pessoas boas.

Hobi me deu seu telefone e o id do KakaoTalk, dizendo que eu o chamasse para conversarmos, qualquer que fosse a hora. Seu gesto aqueceu meu coração e eu nunca me senti tão feliz em anos.

Porque Jung Hoseok era a felicidade. Tudo ao redor dele era bom, e leve, e divertido. Nada parecia ser difícil ou doloroso, e sua simples presença me dava forças para me reerguer.

Apesar de ser impossível, eu gostaria de me iludir.

Adormeci com a cabeça cheia.

*

Quando acordei na manhã seguinte, estava um lixo. Minha maquiagem estava toda borrada e meu vestido amarrotado. Acho que dormir direto fora uma má ideia.

Dirigi-me ao banheiro e limpei a bagunça do meu rosto, ainda incapaz de limpar a do meu coração. Era estranho vê-lo depois de tanto tempo... de certa forma, eu sentia que as coisas não tinham mudado.

Coloquei uma roupa confortável e rumei à emissora. Felizmente eu não possuía nenhum papel no momento, e isso de certa forma me ajudaria a decidir o que fazer com minha vida.

Há três semanas, Soo Young me veio com a ideia de fazer um documentário sobre minha vida. Segundo ela, minha trajetória era interessante por ter morado em alguns países e ainda sim voltado para a América e me tornado atriz. Não foi fácil.

Comecei a considerar a ideia. Acho que seria algo legal de se fazer, como se, de alguma forma, eu pudesse eternizar meu legado. Eu pensei muito sobre isso nesse tempo e decidi aceitar.

Mas, mais do que isso, eu precisava de um tempo. Um tempo longe das câmeras, da falsidade, de fingir que os saltos não me machucam... eu precisava de uma pausa de tudo isso.

Queria tirar férias.

Ou quem sabe me aposentar aos vinte e um anos.

Lydia, minha agente, sorriu quando me viu estacionando. Carregava dois copos do Starbucks na mão, e com certeza um deles era meu caramel macchiato que eu tanto amava. Ela me conhecia bem.

Por esse motivo não hesitei em lhe dizer que precisava de férias. Ao contrário do que pensava, ela não gritou, não me olhou de cara feia e muito menos disse que eu estava jogando minha carreira no lixo: simplesmente sorriu e disse "Vá passar um tempo com a sua família."

-Você tem certeza? – Perguntei, receosa.

-Mas é claro, querida. Eu entendo que está sob muita pressão ultimamente. –Você não imagina o quanto, pensei. – Quem sabe novos ares não serão bons para você? Pode pensar em novos projetos, ou sei lá.

-Ah, claro. – Concordei, estranhando. – Acho que vou aceitar a proposta do documentário e gravar alguns vídeos falando sobre mim, aonde quer que eu esteja.

-É uma brilhante ideia! – Animou-se.

A única parte não-tão-brilhante era que meus pais estavam atualmente de volta a Coréia do Sul. Mais especificamente, Seul. E isso significava que eu poderia encontrar Hoseok novamente, ou pior, ele poderia descobrir que eu estava morando lá e tentar se reaproximar de mim.

O pior de tudo era que no fundo eu desejava isso.

Mas eu não podia ser egoísta, não com ele.

Então eu tinha que fazer de tudo para que ele não descobrisse que eu estaria voltando.

*

14:30 – 07 de setembro de 2017

O som dos aeroportos sempre me pareceu, de certa forma, reconfortante. Pelas dezenas de vezes que passei por aqui, definitivamente as mais assustadoras eram as mudanças, apesar de saber que elas nunca seriam definitivas. A carreira de papai como militar se acorrentava a ele e, portanto, sempre tinha "obrigações" com o seu e com outros países.

Esse sempre foi um grande motivo de brigas dentro de casa – eu reclamava por nunca conseguir me estabilizar em um lugar, e quando finalmente consegui algumas pessoas a quem me apegar, fui embora. De novo. Obviamente eu estou falando da Coréia.

Aliás, esse país era como a minha casa. Foi o meu maior tempo de permanência consecutiva: dos sete aos quinze anos, totalizando oito. E agora, depois de seis anos, eu estaria de volta. Era estranho, mas bom. Era bom voltar para casa.

Fui interrompida de meus pensamentos quando a mulher no autofalante anunciou meu voo, e me despedi de Lydia com um abraço apertado. Soo Young estaria voltando comigo, fiel como sempre. Era a minha melhor amiga desde que eu entrei para o ensino médio. Foi um alívio quando me estabeleci nos Estados Unidos e pude chamá-la para trabalhar comigo.

Sentamos na poltrona confortável da primeira classe e Soo Young tinha uma câmera em mãos, pedindo que eu contasse um pouquinho da experiência que estava por vir. Era o começo do nosso "documentário" que eu torcia para que ficasse bom. Ao menos, a câmera era profissional.

Falei que estava voltando a Coréia para férias e uma forma de redescobrimento pessoal. Soo Young disse que minhas palavras foram bonitas, e que as pessoas iriam gostar. Fiquei feliz. Sempre quis que gostassem de mim, mas, às vezes, esse pensamento pode ser um pouco tóxico.

Afinal, você nunca pode agradar a todo mundo.

E eu não agradava nem a mim mesma.

Resolvi deixar meus pensamentos depreciativos de lado e curtir o champanhe da primeira classe. Por mais que o álcool me distraísse, voltei a pensar em Hoseok. Ele me mandou algumas mensagens desde o dia da pizza e disse que já estava de volta em Seul. Coitado. Nem imaginava que, logo, estaríamos no mesmo fuso-horário.

Agradeci aos céus quando o remédio fez efeito e consegui dormir.

* * *

Oie, gente! Como vão?

O que estão achando? Comentem muito e não se esqueçam de votar, por favor <3 xoxo


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