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  Depois de levar os papéis pro colégio, fui direto na casa da Rafa. Bati na porta e dessa vez quem abriu foi a mãe dela.

*Ela*

-Bom dia Sara, tudo bem? - disse ela sorridente e fazendo um gesto para eu entrar. Era muito difícil ver a mãe da Rafa porque ela sempre estava viajando a negócios então, quis matar a saudades.

*Eu*

-Bom dia tia, eu tô bem sim. E a senhora, como foi a viajem? - encostei na bancada da cozinha, já que ela preparava algo para comer, lá.

*Ela*

-Ah eu estou ótima. A viajem foi tranquila, pude descansar um pouco enquanto meus auxiliares trabalhavam por mim.- riu -  Estou muito tranquila. - olhou para mim. - E você, me conte as novidades, namorando ou saindo com alguém??

*Eu*

-Não tia.- ri achando aquilo irônico. A rafa namorava a uns dois anos, um garoto do nosso grupo, Lucas o nome dele. A mãe da Rafa nunca gostou dele pois era um garoto bem louco, contra as regras e, cheio de tatuagens que deixavam ela louca. A ironia é que parece que todo mundo poderia namorar, eu por exemplo, menos a filha dela. Mesma coisa com meus pais. Sorri em ver sua cara de surpresa.

*Ela*

-Eu acho que você está perdendo um tempo precioso. - disse pegando uma jarra de suco e servindo dois copos. - Eu na sua idade não perdia tempo, fazia oque dava na telha. - riu me entregando um dos copos. Retribui. Ela continuou fazendo um gesto de silêncio. - Mas não conte para a Rafa ok?!

*Eu*

-Pode deixar tia.- verdade, cadê a Rafa? Ia perguntar mas não tive tempo.

*Ela*

-Rafa disse que temos novos vizinhos, você já os conheceu??- disse abrindo a cortina da Janela da sala. Fiquei confusa se contava ou não e decidi não falar nada. Tinha de contar primeiro para a Rafa.

*Eu*

-Não, eu não os vi ainda.- ela fez um sinal como se achasse a situação esquisita. Senti que ia perguntar algo mas não teve tempo. Foi interrompida por barulhos e risos na escada. Andei até a sala pra ver o que era e não me surpreendi. Lucas descia a escada rindo carregando a Rafa nas costas. Ele usava um shorts, chinelos e um boné, estava sem blusa deixando suas tatus bem a mostra. Senti a mãe da Rafa querendo mata lo ali mesmo. Depois que desceram notei que a Rafa estava de pijama, ela quase nunca usava pijama.

*Lucas*

-Bom dia senhora Lurdes. - Lucas a comprimentou pegando uma blusa azul que a Rafa carregava nos ombros. - Tudo  bem, com a senhora? ?

*Lurdes*

-Bom dia Lucas. - notei que ela segurava a raiva e foi gentil ao responder. - Estou bem, e você?

*Lucas*

-Eu estou ótimo.- Notei seu olhar malicioso encima da Rafa. Ela retribuiu. Ele continuou sarcástico.  - Melhor, impossível! - o silêncio planou por alguns segundos até que ele continuou. - Bom, eu já vou indo. Até mais senhora Lurdes. - ela deu um sorriso sarcástico, como se já o quisesse longe dali. Ele voltou se pra mim. - até mais lumpa lumpa. - sim! Esse é o meu apelido. Eu sei que não sou alta a ponto de alcançar a altura deles mais, nunca gostei de ser chamada de lumpa lumpa.

*Eu *

-Lumpa lumpa é a senhora sua avó. - falei irritada.- Rafa manda ele embora logo!- Ele riu me mostrando a língua enquanto a Rafa o arrastava até a porta. Vi os dois se despedindo e logo em seguida Rafa entrou. Deu um abraço na mãe que estava com os braços cruzados de tão irritada que estava com a cena que acabara de ver. Rafa sabia como conquista lá e conseguiu. Depois me puxou pra subirmos. Chegamos no quarto e, como eu esperava, todo bagunçado.

*Ela *

-Fecha a porta.- ela apontou pegando os lençóis da cama e jogando em um canto do quarto onde ficassem invisíveis. Sim, sempre que a mãe da Rafa não estava em casa ela chamava o Lucas e com o Lucas ela fazia tudo que tinha direito. O quarto bagunçado era prova disso. Nesse mesmo instante ela veio com a lixeira do banheiro e nela se encontravam duas camisinhas. - Me ajuda a esconder isso??.- Ela apontou. Como que eu vou esconder isso? Ela notou que eu não estava entendendo nada e continuou, deixando a lixeira no chão e indo arrumar a cama. - Só joga esses papéis aí dentro que depois eu jogo na lixeira la fora. Enfrente a nossa casa havia uma lixeira grande, era lá que jogávamos os lixos que os coletores vinham recolher. Senti o medo da Rafa que sua mãe soubesse oque havia feito e tratei de jogar os bolos de papéis que se encontravam na mesa, dentro da lixeira no chão. No mesmo instante Rafa pegou a lixeira e saiu do quarto, fazendo um sinal para que eu a esperasse. Lembrei que da janela do quarto dela dava pra ver o quarto do André e fui dar uma olhada. Pela primeira vez em dez dias as janelas do quarto estavam abertas. Mas ele não estava lá. Talvez não tivesse chegado. Esperei que a Rafa voltasse, oque não demorou muito.

*Rafa*

-Então, manda.- ela falou entrando no quarto já imaginando que teria algo pra lhe contar.

*Eu*

-Eu o encontrei.- apontei já que ela parecia estar no mundo da lua.- Nosso vizinho. O garoto. Ele se chama André e...- pensei em lhe falar sobre a cegueira do garoto mas sabia que a Rafa reagiria negativamente. Resolvi mudar o foco. - Ele é bonito mesmo.

*Rafa*

-Não falei?!- levantou de uma maneira que ensinuava ter razão. - Mas i aí,  falou com ele? Como ele é? Quero detalhes. - olhando pela janela.

*Eu*

-Bom.- eu ri.- Não falei muito com ele, só nos esbarramos. Mas ele parece ser gentil, até me ajudou a recolher os papéis que tinham caído.

*Rafa*

-Ele não fez nenhuma piadinha de mau gosto? - neguei. Ela riu.- Nossa! Por um caso ele é cego?!- ri da piada sem que ela percebesse a verdade.

*Eu*

-Talvez ele só seja gentil mesmo.

  Rimos por horas falando das diversas maneiras de se conhecer um estranho e como eu o havia conhecido. Rafa me contou sobre sua noite quente com o Lucas e eu quis morrer de inveja dela. Por último fui pra casa, já passavam das quatro e, embora eu tivesse comido algumas besteiras com a Rafa, queria almoçar. Acabei almoçando tomando um bom banho e indo dormir, tava meio indisposta.

Apaixonada por um cegoOnde histórias criam vida. Descubra agora