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Sara

 Acordei de madrugada e levantei sem nem perceber. Depois de chorar horrores pelo que aconteceu ontem eu terminei a noite dormindo encolhida em um canto da cama, sem ter muita opção. Estava chorando na mesinha do computador enquanto observava os movimentos do quarto da Rafa, pela janela, mas fui obrigada a me deitar na cama encolhida quando ouvi passos no corredor e sabia que eram da mamãe. Me deitei na cama e fechei os olhos. Ouvi o barulho da porta abrindo e alguns passos em direção a cama. Senti sua mão desfilar por meu cabelo como se mostrasse afeto. Ouvi quando mamãe saiu novamente e comentou algo com papai que provavelmente esperava do lado de fora. Abri os olhos mas permaneci ali, parada, sem mover um músculo. Minha cabeça doia e meus olhos já não tinham água o suficiente para derramar uma lágrima sequer. Me aconcheguei e reprisei a cena milhões de vezes antes de cair no sono.

 Sentei na cama sentindo a cabeça oca. Não havia bebido muito na noite anterior portanto aquilo só podia ser resultado da briga e da choradeira. Levantei meio tonta e fui em direção ao banheiro mas durante o caminho percebi algo de errado. As janelas do quarto da Rafa estavam trancadas e a curtina preta cobria as persianas. Lembrei que na noite anterior, pouco antes de entrar no carro do Lucas, eu havia olhado para o quarto da Rafa e as janelas estavam exatamente iguais. "Vai ver ela chegou tarde e não as abril" pensei. Mudei de rumo e fui para o guarda roupa. Joguei algumas roupas encima da cama, meio sem olhar quais eram e fechei as portas do grande quadra roupa vinho. No espelho de suas portas vi a imagem de uma garota triste, insegura e um tanto desfigurada. Peguei as roupas na cama e fui para o banheiro, colocando as no camiseiro. Abri o chuveiro e me joguei embaixo como estava, de pijama. Senti minha roupa ensopada pela água deslizar pela pele enquanto a retirava. Fiquei um tempo embaixo do chuveiro sem ter certeza do que fazer mas logo a consciência voltou. Tomei um banho demorado e enrolei uma toalha nos cabelos logo após fechar o chuveiro. Penteei depressa os cabelos sem ligar muito para os pequenos nós que ficavam. Coloquei a roupa que havia pego, uma calça moletom preta e uma blusa de frio preta também. Coloquei um tênis ao sair do banheiro e peguei uma jaqueta por conta do frio, o celular e uma chave reserva. Saí de bicicleta pela porta dos fundos. Os bairros a minha frente estavam silenciosos por conta do horario e muitos deles eram iluminados apenas pelas lâmpadas dos postes.

 Peguei pela ciclovia e andei sem rumo. Somente depois de aproximados 40 minutos adando em ritmo acelerado foi possível notar algumas pessoas saindo aceleradas de suas casas para ir trabalhar. Papai provavelmente estaria saindo aquela hora também. Me perguntei se ele teria notado minha saída mas concluí que não, ou ja teria recebido sua ligação. Avistei o calçadão da praia e atravessei a avenida pouco movimentada para chegar até ele. Desci da bike, fui em direção a um banco livre e me sentei para observar o mar. Como estava de tênis não quis ir até a areia e me contentei em ficar ali pensando.

 Os segundos pareciam hora e os minutos dias. Meu raciocínio estava lento e eu não conseguia concluir um pensamento sem me lembrar da cena trágica da noite anterior. Derrepente aquele cenário lento e opaco mudou para um cenário agitado e colorido. Olhei ao redor e vi algumas pessoas que chegavam para jogar bola, alguns que se exercitavam, outros passaram correndo fazendo sua corrida matinal e algumas crianças pediam sorvete para um senhor idoso que carregava seu carrinho de picolé antigo e enferrujado. Olhei a hora no celular e marcava 6:15 da manhã.

 Levantei, subi na bicicleta novamente e sai. Andei pelo calçadão sem me importar para onde ia ou sem observar a hora nos grandes relógios. Atravessei rapidamente a pista, já movimentada pelo horário e entrei em uma rua lateral. Segui meio perdida pelos bairros á frente até achar um ponto conhecido e encontrar o caminho de casa. Quando cheguei resolvi correr para o andar de cima para não ser notada. Olhei pela janela e vi que finalmente a janela do quarto da Rafa estava aberta e me assustei quando uma sombra passou por ela e pelo físico notei que era a mesma. Fechei minhas janelas deixando somente espaço suficiente para espionar seu quarto. Uma grande angústia tomou conta de mim e eu me joguei na cama para chorar. Senti meu peito doer ao lembrar das palavras dolorosas da noite anterior. Rafa disse que me odiava e não queria mais me ver e por mais que eu tivesse dito que não havia feito nada de errado, eu havia feito. Havia sido cúmplice do Lucas quando escondi da Rafa que havia visto ele com outra garota. A Rafa era minha melhor amiga desde o maternal e ouvir ela dizer que me odiava foi a pior parte daquela confusão toda. Senti o desespero voltar e abracei o travesseiro com força a fim de sufocar com as lágrimas. Somente depois de alguns instantes um amparo divino fez meus olhos se fecharem em um cochilo.

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⏰ Última atualização: May 17, 2019 ⏰

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Apaixonada por um cegoOnde histórias criam vida. Descubra agora