# Uma semana depois #
A semana passou rápido e sem complicações. Consegui acordar cedo e pegar meus pais em casa. Conversamos pouco mas gostei de saber que estavam bem e que entrariam de férias logo logo. Em relação à Rafa, estava chateada já que sua mãe havia tirado uns dias pra ficar em casa e com sua mãe em casa o contato que ela tinha com o Lucas era mínimo. Já sobre o André acabamos nos esbarrando na sorveteira algumas vezes. Ele vai estudar no San Diego junto com a gente e revelou para mim seu medo de estar em um colégio novo e principalmente de ir até ele. O fato dele não conhecer praticamente nada no bairro tornava a ida ao colégio muito difícil. E esse fato juntado a sua cegueira piorava as coisas. Depois de me contar sobre seu medo eu acabei me oferendo para levá lo ao colégio no sábado ( hoje, no caso), e mostrar a ele tudo que pudesse. Eu ainda não havia me arrumado quando a campainha tocou. Olhei o relógio e a hora batia com o nosso combinado. Desci as escadas e abri a porta. Lá estava ele, com sua blusa do Nirvana, uma calça jeans (acho que ele ama jeans) e seu tênis da Nike.
*André*
-Oie, tudo bem?- acenou com aquele sorriso que eu pretendia não esquecer nunca.
*Eu*
-Ooie, tô bem sim. - peguei ele pela mão e puxei. - Entra, vem. Você tá bem? - fechei a porta e fui em direção a escada. Não tive resposta e quando já tinha subido alguns degraus olhei pra trás. André estava parado e notei que não estava com sua bengala, e nem com o Max, sendo assim, ficava praticamente impossível se locomover em uma casa estranha. Desci novamente, constrangida pelo meu erro.- Ah, desculpa. Vem comigo.- segurando sua mão. Levei ele até a escada e coloquei sua mão no corri mão. - cuidado com os degraus.
*André*
-Relaxa.- ele riu subindo as escadas. - E respondendo sua pergunta, eu estou bem. Obrigado.
Coloquei as mãos em seus ombros, guiando o. Não sei porque, nos conheciamos a uma semana, mais pareciam meses. Embora ele fosse um garoto eu não tinha receio nenhum em leva lo pro meu quarto, oque chegava a ser esquisito. Não gostava de pessoas no meu quarto, tirando meus pais e a Rafa ninguém mais entrava nele. Peguei a roupa encima da cama e levei para o banheiro.
*Eu*
-Bom, eu acordei tarde hoje então não tive tempo pra me arrumar, ainda.- ri sem ter certeza do que dizer. - Tudo bem se você esperar um pouco? ?
*André*
-Tudo bem. - ele sorriu sem jeito e continuou.- Você com certeza deve ficar bonita de qualquer forma, mas, eu espero sim. Fiquei meio sem jeito. Não pelo elogio mas por não saber o que dizer. Aquilo era muito esquisito porque eu recebia elogios de muitos garotos mas naquele caso eles eram feitos por alguém que não me via de verdade. Nunca havia me visto e talvez nunca o fizesse. Eu podia ser a garota mais feia do bairro, mas ele, mesmo sem ver, me elogiava. Baseado em que? Ri pensando naquilo e ele notou.
*André*
-Desculpa, eu não queria te deixar com vergonha. - coçando o cabelo. Eu ri um pouco mais alto. Como ele sabia que eu estava com vergonha?
*Eu*
-Relaxa, eu não tô não.- resolvi tomar meu banho logo.- Já volto.- ele concordou e eu fui pro banheiro. Tomei um banho rápido pois não queria deixa lo esperando. Sai já arrumada e notei ele passeando pelo meu quarto. Acabei dando um susto nele com o barulho da porta, oque fez ele quase derrubar um livro meu, mas entes que caísse ele o pegou no ar.
*André*
-Desculpa, eu só tava curioso pra saber como é o seu quarto. - explicou apavorado e colocando o livro no lugar.
*Eu*
-Relaxa, tá tudo bem. Foi só aí que percebi. A besta aqui não mostrou o quarto pra ele. Tinha lido uma vez que como não enxergam, os cegos precisam que dizemos tudo a eles. Resolvi tentar. Segurei sua mão e o levei até porta. -Vem cá, vou te mostrar. - olhei pra ele.- Bom, atrás de você está a porta do meu quarto, aqui tem uma escrivaninha, - segurando sua mão e colocando sobre as coisas.- aqui tem a mesinha do computador mas ele não tá aqui porque tá no concerto.- ele prestava bem atenção e parecia curioso. - Aqui tem algumas prateleiras com o meu material, aqui tem meus ursos de pelúcia...- fiquei envergonhada em revelar aquilo. Qual a garota de 16 anos que tem bichinhos de pelúcia ainda?? Eu tenho!- Bom, aqui é a minha mesinha de trabalho, e tá cheia de bagunça. - pensei alto e o vi sorrir.- Aqui esta a minha segunda parte preferida: minha estante de livros. E até que enfim, minha cama a parte preferida.- óbvio que teria uma cama né, besta. - Aqui é o banheiro e ... e é só isso eu acho. Olhei para ele que agora analisava o quarto olhando cada cantinho como se visse tudo. Com a outra mão ele tocou a parede, e depois focou em mim.
*Andre*
-Sua parede é verde?- fiquei surpresa, porque é, ela é verde.
*Eu* -É! Ela é verde sim. Mas como você sabe??- Não conseguindo esconder o espanto. Ele riu.
*André *
-Bom, é pela textura da tinta. Meu antigo quarto tinha essa mesma textura e era verde. Só chutei. - deu de ombros. Eu ainda estava pasma e não consegui parar de olhar para ele sem entender. Ele notou e fez um gesto com as mãos. - Calma, calma. Vou te mostrar, fecha os olhos.- fiquei sem entender, mas o fiz. De todas as pessoas ele era um dos poucos que poderia me fazer mau. - sem que eu esperasse ele se colocou atrás de mim e segurou minha mão trançada na sua. Quis abrir os olhos mas gostei da sensação. Quando passou minha mão na parede notei que ela era áspera e grossa. - Tá sentindo? - acenti. Senti que ele havia se perdido na explicação quando coçou o cabelo. - Bom, eu acho que sinto de outra forma, não sei explicar.... Resolvi me virar para ver sua cara quando ficava confuso. Foi quando notei seu olhar, sua pele, aquele rostinho de menino. Sem conseguir falar nenhuma palavra se quer eu me vi concentra em sua boca. Aí meu Deus, para com isso! Abaixei o rosto como se fizesse algo errado. Foi aí que senti que colocava sua mão no meu queixo e lentamente levantou meu rosto. Senti sua respiração próxima a minha, estávamos em sintonia... o silêncio era tanto que podia ouvir seus batimentos. Ficamos mais próximos, quase não havia espaço entre nós dois. Até que.... (Continua no capítulo 10)
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Apaixonada por um cego
Teen Fiction*André* É um garoto de 17 anos que se muda para uma nova cidade por conta de um passado um tanto turbulento, que lhe gerou problemas que terá de carregar para o resto da vida. Em meio a novas adaptações na casa nova, no colégio, no bairro e em sua...