Estou vendo minha mãe por todo lado.
Semana passada eu estava voltando do dentista, que é em um bairro afastado, e a vi na beira da estrada. Olhei-a intrigado, e passei. Estava atrasado, tinha que voltar logo pra casa. Nem enviei uma mensagem.
No dia seguinte a vi num ônibus. Mas eu estava ultrapassando o coletivo, nem olhei por muito tempo. E pouco depois, quase esqueci.
Então eu estava indo pro trabalho, e ela estava dentro do elevador. Fiquei encarando‑a, em silêncio. As outras pessoas que comigo subiam os andares, nem notaram.
Na vez seguinte, de relance a vi num ponto de ônibus. Sorridente, como sempre.
Como no shopping. Ela estava ao longe, mas perfeitamente visível. Fiquei à distância, não quis chamar a atenção.
Até que a vi num táxi. O veículo estava à minha frente, e coincidentemente ia pelo mesmo caminho que eu, de forma que a segui por longo trecho. Ou fui seguido por ela, se é que é possível seguir indo na frente.
Então comecei a ficar realmente preocupado quando, simultaneamente, minha mãe estava em outro ponto de ônibus e mais uma vez em um ônibus. Atônito, eu olhava para uma e para outra, e não havia dúvida: ela estava em dois lugares ao mesmo tempo! E eu podia vê-la em ambos!
O que estava acontecendo? Que complexo edipiano seria esse? Ou tratava-se de mania de perseguição? E o que a Câmara Legislativa do Distrito Federal tinha a ver com isso?
De todas as campanhas das quais minha mãe já participou, esta foi a de maior repercussão, a que mais expôs sua imagem. São outdoors, traseiras de automóveis públicos, totens publicitários e telas de elevadores. Em sites e redes sociais também, mas nestes não a encontrei.
Não é fácil ter uma mãe contratada por uma agência de modelos da terceira idade!
9/8/2017