A professora

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               Imagine que você está assistindo a um show, de um tipo de música que você gosta. Então, no meio de uma música, um dos instrumentistas começa a improvisar um solo. E é um solo maravilhoso, rico de notas e melodias em rápida sucessão, com perfeita significação dentro do contexto. Sim, porque os demais músicos continuam tocando os acordes do acompanhamento, e o solo improvisado se encaixa com exatidão em todas as referências harmônicas, em todas as molduras propostas, com beleza, com apurada técnica, com emoção.

               Agora imagine que este solo não acontece apenas em uma parte de uma música, mas sim durante todo o show, desde o seu início até o soar do último som. E, apesar disso, o solo não cansa, não entedia, pois, mesmo que dure uma hora ou mais, o show é lindo, o estilo musical é muito do seu agrado, e o músico toca muitíssimo bem. E ele não para, quase não respira. Quando introduz alguma pausa, é silêncio que faz parte da composição melódica, com igual sentido e poder de comunicação. Não erra uma nota sequer, por maior que seja a velocidade. E, no fim, a conclusão é tão perfeita, o tema fica tão bem fechado, que nos leva a pensar se o aparente improviso não teria sido decorado. Obviamente não; é pura arte mesmo.

               Assim são as aulas da primeira professora que tive quando comecei a estudar formalmente a filosofia. Que consegue divagar e fazer rodeios brilhantes sem sair do assunto central, improvisar sem sair da harmonia. Uma verdadeira artista da oratória, que sabe manter a atenção do aluno enquanto planta-lhe no pensamento ideias instigadoras e modificadoras. Que o faz sair da sala de aula com a mente pulsando, mais desperta do que quando entrou. E, ao mesmo tempo, encantado com a música do infinito.


23/03/2013

O assassinato do abacateiroOnde histórias criam vida. Descubra agora