Ⅲ ✵ KIHYUN

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Bee e Bear estavam sentados numa mesa de piquenique cujas tábuas usadas para fazer eram um pouco irregulares, como se fosse feita a mão, o que era bem possível se tratando desse lugar estranho que eles haviam me trazido.  E enquanto eles estavam lá conversando, eu estava sentado num pequeno tronco de árvore e fazia um largo toco como mesa, onde apoiava os legumes e verduras que havia recolhido antes com Jooheon no estranho passeio em que ele falou de criaturas mágicas e que estávamos na Terra do Nunca. Por acaso estou num live-action e não me informaram?

Eu gosto de cozinhar, normalmente em casa eu gosto de convidar meus amigos para comer minha comida apenas para ouvir elogios. Se eu estivesse em casa, poderia preparar um Jjajangmyeon ou algo do tipo, mas aqui parece impossível preparar algo assim sem ter todos os ingredientes necessários. 

E se eu já estava com problemas, pareceu se complicar mais quando três caras saíram de entre as árvores, um deles carregava uma aljava com flechas no ombro e um arco na sua mão esquerda. Os outros dois, diferente do primeiro, estavam sujos de sangue e terra, um calafrio percorreu minha espinha ao vê-los, e logo entendi porque eles estavam tão sujos, bem atrás deles um porco selvagem abatido estava sendo puxado por cordas. 

Vi os dois garotos se aproximarem, com o porco deixando uma faixa de sangue pela terra enquanto era arrastado,  e o das flechas se juntou a Bee e Bear na conversa. O porco foi arrastado até onde o caldeirão de ferro fervia a água que eu havia pego num riacho próximo, o caldeirão erguido sobre uma fogueira que Hyunwoo havia feito depois de cortar a lenha. Parei de descascar a batata que estava na minha mão e encarei o porto morto. Como eu... o que eu faria com um porco selvagem que havia acabado de morrer nas mãos de três selvagens que riam como hienas ainda sujos de sangue seco. Onde eu me meti afinal?!

— Ei, Bear, onde está o Pan? — o garoto de cabelos loiros perguntou, ele era alto porém tinha um rosto infantil que me dava a ideia de que era o mais novo, mas eu não tinha certeza.

— Ele foi até a tribo. O Cobra enviou um pássaro antes do escravo acordar e foi até lá ver o que estava acontecendo. — Tribo? Então o "Cobra" seria um índio ou um garoto perdido?

— E está lá até agora? — O loiro voltou a perguntar ao urso que respondia sem qualquer expressão no rosto. Como se estivesse entediado ou que aquela conversa vivia em constante repetição.

— Não é como se fôssemos controlar ele, Hippo — O cara do arco e flechas falou. Ele parecia frio, em nenhum momento sorriu, e de certa forma seu olhar me dava um frio na espinha.

— Ainda bem que você sabe disso, Roo — Uma voz soou atrás de mim, me virei e encarei um completo desconhecido, seu cabelo castanho claro parecia brilhar na luz, seus olhos eram finos como um gato, seu rosto tão vazio quanto do outro garoto. Seria esse o Pan? 

Ele não estava desacompanhado, o aparentemente fada estava ao lado dele com uma expressão arrogante no rosto enquanto mantinha os braços cruzados sobre o peito. 

O desconhecido, notando o meu olhar sobre ele, me encarou de volta em um silêncio inquietante. Ele me analisava, mas eu não sabia o que ele tanto esperava ver já que seus olhos passearam pelo meu corpo umas duas vezes antes de encarar o grupo. 

— Se vocês esperam que essa refeição saia até o dia seguinte, espero que ajudem o garoto a limpar o porco e cortar — Ele falou e então se afastou alguns passos antes de voltar a se virar — E tomem um banho depois, estão com um cheiro horrível — Ele falou e se afastou, entrando pela passagem que levava a escada do esconderijo que eu estava preso mais cedo, o fada o seguindo de perto como se fosse seu pequeno cachorro que ia para onde seu dono fosse. Vi Jooheon se aproximar de mim e os outros quatro foram para a floresta, provavelmente para o riacho que eu recolhi a água. Isso quer dizer que não tem banheiro?

— Aquele era...?

— O Pan? Sim — Jooheon falou antes que eu terminasse a pergunta. Ele era o mais próximo de mim dentre os outros, todos se mantiveram bem distante, mas Jooheon havia se mostrado bem prestativo. Eu não sabia dizer se ele fazia isso porque era o jeito dele ou se era apenas a responsabilidade que Pan colocou sobre ele, de cuidar de mim.

Ele se agachou perto do porco morto e desembainhou a adaga que estava em seu cinto. Entendi de imediato o que ele queria fazer então virei para o outro lado, continuando a cortar os legumes.

— Ele parece...

— Frio? É, ele é um pouco. Ele é bem calado quando conhece alguém novo, tímido, eu diria, mas acredite, ele não é assim.

— Se estamos na Terra do Nunca, porque ninguém é criança?

— E de novo vamos com esse assunto — Ele falou num claro tom de tédio — Não é porque você não acredita no que eu digo que eu vou ficar insistindo até mudar sua mente. Cedo ou tarde você vai acreditar, quer você queira ou não. E se quer um concelho, não faça perguntas complicadas, nenhum garoto tem permissão de saber mais que o Pan.

Ouvi o som de algo se rasgando e fechei os olhos com força, sentindo meu estômago revirar. Como eu vou cozinhar isso se eu vi o bicho ainda com o pelo e tudo? Cozinhar algo que já está em pedaços, em bandejas que vende em mercado, e o que foi morto em questão de alguns minutos é bem diferente. Eu sou um garoto da cidade,  eu nem sei como se depena uma galinha!

Jooheon continuou a me ajudar a cozinhar, dizendo que estava com fome e que no ritmo que eu estava o jantar não sairia tão cedo, mas para mim parecia uma desculpa e que ele não acreditava tanto no meu poder culinário. 

O Pan se manteve o tempo todo dentro do esconderijo e os outros garotos voltaram um pouco antes da sopa ficar pronta, semi vestidos e fora diretamente para o esconderijo. Enquanto eles andavam eu não pude deixar de reparar em seus corpos bem desenvolvidos, provavelmente pelas constantes atividades físicas que realizavam na mata fechada. 

— Bangarang! — Jooheon gritou de repente, me assustando. Me virei para ele, os olhos arregalados, e o vi com as mãos próximo aos lábios para fazer o grito soar mais alto. — Bangarang! — Ele voltou a gritar e desta vez mais vozes soaram, repetindo o mesmo grito várias e várias vezes até que Pan e os outros saíram do esconderijo e se sentaram na mesa de piquenique aguardando. Pan estava sentado no meio, o fada sentado ao seu lado o agarrando pelo braço, o fada sorria e falava coisas ao ouvido de Pan que apenas assentia, ora ou outra um sorriso se formava em seu rosto. Do outro lado de Pan se sentou Bear, que estava com uma roupa diferente, a peluda pele de um urso jogado por seus ombros como se tratasse de uma capa , mas ele não era o único que usava pele de animal em sua roupa, mas os outros três também. O que fora chamado de Hippo estava com o couro cinzento de um hipopótamo,  o garoto que antes carregava a aljava de flechas, que foi chamado de Roo anteriormente, estava com um pelo meio alaranjado de um canguru. O último garoto perdido também tinha pelo alaranjado na roupa, o diferencial era que ele tinha chifres saindo de sua ombreira, ele era o único que eu não ouvira o nome. 

— Se os nomes que vocês ganham são dos animais que vocês se vestem. Você tem uma roupa de abelhas? — Perguntei quando terminei de analisar o grupo. Só Pan e o fada não usavam roupas de animais , além de Bee naquele momento e fiquei curioso.

— Que tal você matar as abelhas de uma colmeia, catar todos os pelinhos e fazer isso você mesmo? — Ele me encarou sério, a língua venenosa de puro sarcasmo. — Deixe de falar besteiras e vá arrumar a mesa, eu tenho coisas a fazer — Ele falou parecendo irritado e me deu as costas, logo marchando para dentro da floresta. 

C O N T I N U A...

 

Hook & Pan (MONSTA X)Onde histórias criam vida. Descubra agora