A Ascensão de Nasha (parte 3)

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O pedido de desculpas não permaneceu por muito tempo no terminal. Luzes de alerta começaram a piscar na parte inferior do telão. Era como uma televisão cuja recepção do sinal estivesse prejudicada por algum fator externo.

Eles não faziam ideia de sua origem. Podia ser alguém de dentro da própria unidade os pregando uma peça ou talvez o real responsável pela morte de Clara e pelo caos que se instaurou na unidade.

Joana olhou para o telão deixando de funcionar diante de seus olhos. Uma das pequenas luzes piscando no canto na cor amarela a lembrou o farol do carro de sua mãe. O farol que ela tanto adorava ligar e desligar repetidas vezes quando era pequena pois gostava do som que ele fazia ao ser ativado. Aquele farol lhe trouxe a imagem de um acidente que ela jamais viu, porém presenciou em incontáveis pesadelos.

Por um breve momento, a sala do projeto piloto se transformou em um cenário isolado. Ela não estava no meio de uma cidade desabitada. Parecia estar no limiar no centro de uma rua de mão única. Ao seu lado direito, um barranco se estendia até perder de vista. Do outro, uma floresta de árvores altas e folhas pontiagudas. Não tão distante dali, a pequena luz do telão que agora era a luz de um farol piscava a cada dois segundos.

O automóvel de sua mãe tinha metade intacta, metade destruída. A metade que sua mãe ocupava assumindo o volante ao voltar do trabalho naquele dia enevoado. Muito enevoado por sinal. Era difícil até ver a grama despontando perto das raízes presentes no solo.

Sua mãe havia morrido anos atrás em um acidente que ela jamais viu. Ela sabia quem era sua mãe. Seu nome não era Rosângela e sim Angélica. Um verdadeiro anjo que veio dos céus para concebê-la e nutri-la para que ela apreciasse o dom da vida. Não Rosângela. Não uma pessoa ruim capaz de disseminar tanto mal. Angélica. Ângela. Rosângela. Não. Angélica. Angélica? Pareciam tão similares os nomes. Uma coincidência, nada mais. Sua mãe havia morrido anos atrás em um acidente que ela jamais viu...

Joana se perdera em meio a uma ilusão difícil de deixar para trás. Para quem a observava, ela ainda parecia estar ali. Seus olhos continuavam abertos, piscando de forma regular. Ela não balbuciava palavra alguma enquanto encarava o nada. Sua respiração mantinha-se regular.

— O que diabos está acontecendo com ela? — indagou Cris ao perceber o quanto ela parecia transtornada.

— Eu não me importo — Délia respondeu de prontidão. — Eu me importo mesmo é com essa mensagem misteriosa.

Charles, Cris e Leafarneo se concentraram em Délia que parecia moer neurônios para processar as possibilidades. Não demorou para que um suspeito surgisse na ponta da língua.

— Nasha! É você? — Délia questionou ao direcionar a voz para o monitor.

As luzes continuaram a piscar de forma irregular. A esperada voz metálica que antes lhe trouxe todas as respostas que ela precisou não soou para ela desde o drástico despertar de Adão e Eva. — Droga! Como eu não pude considerar essa possibilidade antes? — Délia deixou o grupo e começou a andar em círculos ao passo em que resmungava baixinho.

Cris a encarou em seu momento de epifania para tentar acompanhar seu raciocínio. De todas as palavras que ela balbuciou, uma delas era, em parte, familiar:

— Délia, o que você quer dizer com Nasha? Essa é a mesma Nasha que você mencionou quando Leafarneo e eu propusemos a nossa visita à ASMEC? — Cris questionou. — Tenho quase certeza que foi isso que você disse, Nasha, que essa Nasha nos excluiria do sistema de potenciais ameaças para que pudéssemos embarcar naqueles caminhões.

— Exato. Mais uma vez provando que você não é tão estúpida quando eu imaginei a princípio.

Cris fez um avanço, mas Charles interviu e a conteve. Não podia dar abertura para o surgimento de novos conflitos.

LIVRO III - A Ordem do CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora