— Charles — Cris murmurou, ao vê-lo naquelas condições.
Consuelo acionou a abertura das portas do LAB-01 ao passar a mão no leitor biométrico.
Charles estava vestido com uma bata cirúrgica na cor verde. Sua cabeça pendia para o lado, já que ele mal tinha forças para mantê-la posicionada de forma ereta. Ele parecia consciente — pelo menos seus olhos encontravam-se abertos. A sua cabeça foi raspada por completo.
Cris não correu para cima de Charles e o abraçou como tinha ensaiado em sua mente.
Leafarneo sentiu o receio de Cris em se aproximar. Ela mordia os lábios e deixava finas lágrimas escorrerem por seu rosto, fungando baixinho. Não sabia dizer se as lágrimas eram de felicidade por finalmente ter encontrado Charles depois dessas oito semanas ou se eram de tristeza pela atual situação em que ele se encontrava.
Charles não mudou a direção de seu olhar triste mesmo depois que Leafarneo e Cris entraram no laboratório. Parecia que nem tinha se dado conta de que eles estavam por ali.
— Charles? — chamou Cris, esperando ouvir a voz de seu amigo do qual sentia tanta saudade.
Ele não respondeu ou expressou qualquer sinal de resposta.
— Charles? —ela insistiu, dando mais um passo em sua direção.
Nada de resposta.
Leafarneo a abraçou respirando fundo. Seu coração havia sido tomado por uma tristeza sem tamanho. O pesadelo que havia começado em Palmas parecia piorar mais a cada dia.
Fechando os olhos com força, Leafarneo impediu que suas lágrimas jorrassem. Queria parecer forte para dar todo suporte necessário a Cris naquele momento tão difícil. Depois de tantas semanas, eles tinham conseguido Charles de volta. Mas assim como os mortos-vivos que os aterrorizaram até então, aquele Charles parecia somente um pedaço de carne em estado vegetativo.
Será se tinham perdido o verdadeiro Charles de uma vez por todas sem ter aquela última chance de dizer adeus?
— Charles — balbuciou Leafarneo, tentando chamar a atenção de seu amigo.
Charles abriu um sorriso.
Leafarneo olhou para o rosto dele e por um momento sentiu uma fagulha de felicidade. O sorriso parecia genuíno. Logo Leafarneo entendeu qual poderia ser a razão daquele sorriso tão espontâneo. George estava com ele, tentando empurrar a sua cabeça, para que ele olhasse para os dois. Mas George parecia não saber bem como movê-lo.
Trazendo Cris em um abraço carinhoso, Leafarneo se aproximou de George e segurou a cabeça de Charles, para que ela não ficasse solta para o lado. Em um misto de lágrimas e um sorriso bobo, Cris respondeu ao sorriso inesperado de seu amigo.
— Eu não sei se você tem consciência de que estamos aqui. Mas se você estiver ouvindo isso, saiba que estamos com você. E eu te dou a minha palavra de que nós vamos te tirar dessa — ela disse, criando por fim coragem de passar a mão em seu rosto para limpar um pouco de saliva que escorria pelo canto de sua boca.
O inocente movimento de Cris revelou algo que ela não estava preparada pra ver. As ramificações negras ficaram expostas sob a maquiagem borrada por seu afago.
Instantaneamente Cris foi transportada para o Nova Alvordada. Noite do assassinato de Emu. Thabs a convidou para seu quarto e lhe contou seu grande segredo. Ela tinha as mesmas ramificações nas pernas.
Charles tinha as mesmas marcas.
Charles deveria ter se transformado em um morto-vivo implacável e impiedoso.
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LIVRO III - A Ordem do Caos
TerrorEste é o terceiro e último livro da trilogia que já conta com O Início do Fim e O Soneto do Apocalipse. Espero que se divirtam e se emocionem com o final desta incrível jornada pelo apocalipse que se iniciou na cidade de Palmas. Não se esqueçam...