LIVRO III - A Ordem do Caos

Lágrimas de Sangue

Délia se dirigiu para a entrada principal do Setor 6.

Ao posicionar a mão sobre o dispositivo de abertura, ela teve uma pequena surpresa.

As portas não se abriram como ela esperava.

"Será se o Consuelo alterou as minhas permissões de acesso?" — pensou enquanto franzia a testa.

Délia passou os dedos na palma da mão, só para se certificar de que nenhum resquício de maquiagem pudesse estar interferindo na abertura da porta.

Resolveu tentar novamente.

Antes mesmo de sua mão atingir a posição necessária para a autorização, o som metálico de abertura das portas soou. Alguém do lado de dentro acabou de executar os procedimentos de abertura. Em segundos, Délia deu alguns passos para trás e colocou a mão sobre os olhos, deixando a cabeça inclinada para o chão.

Thomas e Cris apareceram após a abertura das portas.

Thomas tinha estatura um pouco menor que a de Cris, que já também não era a mulher mais alta do universo. Ele nunca se incomodou pelo fato de ser mais baixo que a maior parte dos demais membros da ASMEC, mas seria um pouco mais feliz se seus pés tivessem crescido proporcionalmente à sua altura.

Em seu rosto, Thomas sempre sustentava um sorriso tímido e um olhar atento. O sorriso constante era proveniente do orgulho de ser o mais jovem pesquisador a ter acesso ao Setor 6. Seu olhar atento capturava todo tipo de procedimento que ele pudesse aprender para continuar sendo um pesquisador de destaque.

— Você ficará bem no Setor 2 — Thomas disse com a voz calma.

Cris projetou os lábios para dentro da boca em agonia. Seu encontro com Charles havia sido mais devastador do que ela esperava. Não fazia ideia de quando se recuperaria do choque inicial de saber que ele estava se transformando em um monstro.

O mesmo monstro que ela já matou enquanto ele habitou o corpo de sua melhor amiga.

— Obrigado — ela respondeu com esforço enquanto seguia a passos lentos.

Délia a avistou por dentre os dedos, mas permaneceu distante. Não sabia como Cris iria reagir ao encontrá-la depois desses dois meses. E definitivamente, aquele não era momento para descobrir. Tinha algo mais importante a fazer.

Quando Thomas e Cris a ultrapassaram, Délia caminhou na direção dos dois e esbarrou no ombro de Thomas, deixando um pedaço de papel cair. Não olhou para trás ou pediu desculpas, afinal, não queira que Cris desconfiasse que ela estava tão perto.

O castanho curto de seus cabelos temporários pode ter enganado Cris, mas não a deixou irreconhecível aos olhos de Thomas. Ele sabia exatamente quem era a moça que acabara de esbarrar em seu ombro. E mais que isso: aquele pedaço de papel no chão não deveria parar nas mãos de outro alguém que não fosse ele.

Abaixando-se de prontidão, Thomas recolheu o pequeno pedaço de papel e o amassou, colocando no bolso como se fosse somente lixo despejado em lugar impróprio.

Durante todo o trajeto para o Setor 2, ele criou inúmeras expectativas sobre a mensagem que Délia havia deixado para ele.

— Aqui vamos nós — ele disse a Cris, ainda com os olhos baixos. — Não tenha pressa em explorar esse lugar. Você terá tempo suficiente pra isso depois. Agora eu gostaria de lhe convidar para um bom e longo banho...

Cris olhou para ele com os olhos arregalados.

— Espera, não, não — disse desconcertado. — Acho que isso não soou muito bem. Eu gostaria de sugerir que você, sozinha, sem a minha pessoa, tomasse um bom e longo banho — disse tentando desfazer o embaraçoso convite.