Capítulo 16

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Entramos e nos sentamos no sofá, ligamos a televisão e assistimos a previsão do tempo para hoje e para o resto da semana em todos os estados do país, enquanto terminávamos de beber o café.

- Você vai ficar com sono o resto do dia e a culpa é minha, sinto muito – falei após o ultimo gole de café.

- Temos o dia inteiro para dormir, não se preocupe. E a culpa não é sua e eu podia simplesmente ter voltado a dormir. Idiota.

Acho que nossa conversa foi um pouco barulhenta demais, pois às nove horas, Maddie já havia levantado e depois de vinte minutos no banheiro, veio até nós.

- Vocês já estão de pé? Tem café? – ela apontava para os copos de papel vazios em cima da bancada. Ela parecia estar pronta para sair, mas havia acabado de acordar.

- Não. Nós fomos comprar agora há pouco – Broke manteve os olhos fixos em mim.

- Por que você está de casaco e ele de touca? Está o maior calor – Maddie estava com a cara enfiada na geladeira, mas havia prestado atenção em detalhes demais.

- Dormi com ele e acho que me esqueci de tirar – ela ainda me olhava e agora sorria, tirando o moletom e colocando-o no sofá ao seu lado.

- Cabelo – expliquei o motivo da touca. Não era uma desculpa, era a realidade.

Maddie pegou uma maçã e se sentou na poltrona ao meu lado, nos encarando enquanto mordia a sua fruta.

- Então – ela começou, com a boca cheia. Era um milagre que ela não estivesse segurando seu celular – há quanto tempo vocês estão juntos?

- Não... – respondemos juntos. – Não estamos juntos – Broke completou.

Maddie nos encarou por algum tempo e sorriu, voltando a morder sua maçã. – Se vocês dizem...

O que ela queria dizer? Sorte que minhas bochechas já estavam vermelhas do sol, pois eu podia sentir meu rosto ficando quente. Cocei os olhos desejando poder chacoalhar meu cérebro para me livrar do pensamento que estava chegando perto demais de Anna.

- Bom dia! – Kath salvou minha vida e atravessava o corredor em direção à cozinha arrastando os pés. – O que vocês fazem acordados tão cedo?

Apenas sorrimos e desejamos bom dia de volta. Logo todos estavam de pé e o relógio já marcava onze horas. Jamie apareceu por último na sala e trazia a chave do carro pendurada no dedo.

- Tive uma ideia. Se vocês toparem, podemos ir até a cidade vizinha e fazer uma trilha – ergueu um dedo quando seu irmão mais novo tentou protestar e prosseguiu. – A trilha é curta, eu juro, e termina numa praia deserta. Que não é tão deserta assim, mas é mais vazia do que as que temos por aqui. O que acham?

Kath foi a primeira a concordar, pulando e se colocando de pé, pronta para sair. Todos os outros concordaram também, apesar de Tony estar um pouco contrariado, então enfiamos algumas coisas em mochilas e voltamos para o carro.

Era nosso último dia, porque amanhã à tarde retornaríamos da viagem e eu não queria pensar nisso agora. Ficar ali estava melhor do que eu imaginava.

Os lugares no carro foram tomados exatamente como na viagem de ida, eu e Broke nos sentamos sob o sol durante os vinte minutos na estrada. Então uma curva à direita e entramos em uma estradinha de terra, cercada por árvores que filtravam a luz que batia sobre as nossas cabeças. Mais dez minutos ali e Jamie parou o carro.

- Ótimo – exclamou ao fechar a porta. – Não tem mais nenhum carro por aqui, quer dizer que a praia deve estar vazia.

- Não precisamos de um guia para fazer isso? – Kath parecia questionar a própria decisão de se juntar a essa aventura.

- Normalmente sim, mas eu faço essa trilha desde que nasci, sei mais do que qualquer guia que trabalhe aqui. Vamos.

Sem falar nada, seguimos o mais velho pelo início da trilha, descemos alguns degraus improvisados com pedaços de troncos e a trilha seguia levemente inclinada para baixo e cada vez mais estreita e escura por causa das árvores. Seguíamos quase em fila e raramente falando alguma coisa, apenas comentando sobre o próprio caminho. Andamos no meio da mata durante quinze minutos e logo a trilha começava a se alargar novamente e a areia começava a invadir a terra.

- Uau! – Kath gritou. Ela caminhava atrás de Jamie e Maddie e atrás dela vinha Tony, Broke e então eu. Claro, o último. Broke se virou e sorriu para mim com a reação da amiga.

A praia era realmente linda, como as que vemos em fotos na internet, era pequena e contornada pelo pequeno morro que tínhamos atravessado pela trilha. Era possível atravessar de uma a outra ponta em alguns passos. A água era transparente e muito calma, a areia bem branca. Não havia qualquer tipo de habitação em volta, nenhuma casa, restaurante, lanchonete ou estacionamento; e dava para ver uma pequena ilha no meio do mar, possível de ser alcançada nadando.

Jamie e Maddie já haviam montado dois guarda-sóis na areia, algumas cadeiras dobradas espalhadas e se despiam. Tony corria para a água. Ele provavelmente preferiria ser nadador a jogador de futebol ou tinha sido um peixe em vidas passadas. Kath chegava às cadeiras e estendia sua canga na areia, ao lado de Broke que repetia os movimentos da amiga enquanto as duas conversavam. Me sentei sobre a toalha novamente e observei Broke se juntar aos outros na água. Tinha me acostumado a ser assim, a me isolar do grupo, a estar sempre sozinho, observando. Eu nunca fazia parte e também não fazia questão, mas isso normalmente causava certo tipo de rejeição. As pessoas assumiam que eu era arrogante ou que me sentia bom demais para fazer parte de tal situação. O que era uma mentira gigantesca e o completo oposto.

Mas, por algum motivo não era assim que essas pessoas me viam. Os cinco ali na praia comigo me viam como parte, talvez um pouco estranho, mas não melhor nem pior que eles. Isso era novo para mim e era bom. Ser parte de algo pela primeira vez fazia eu me sentir bem. Eu não me sentia de fora por estar ali, eu não me sentia nada. Eu apenas estava ali.

Broke voltou correndo do mar em minha direção e atrás dela Kath e Tony, que pareciam nunca mais se desgrudar. Broke parou de andar mas continou se mexendo.

- Frio! A água daqui é muito mais gelada. Toalha, toalha – ela me pediu e então eu levantei para entregar a sua toalha. Quando me aproximei, segurando a toalha, Broke jogou os braços em volta de meu pescoço – Agora você também está molhado!

Meu corpo quente de tomar sol de repente entrou em contato com seu corpo gelado e molhado. De biquíni. Permaneci sem reação, os braços jogados ao lado do corpo, enquanto ela me abraçava. De biquíni. Então passei as mãos pela sua cintura e repousei as mãos em suas costas.

- Você está tão quentinho – ela dizia com o rosto próximo demais do meu, sua boca quase encostada em meu ouvido.

Passei a toalha pelas suas costas e a envolvi ainda junto a mim. Ela se soltou do meu pescoço e terminou de se secar com a toalha.

Depois de todos estarem suficientemente molhados de tanto ir e voltar da água, Tony e Kath desapareceram na trilha de volta. Os risinhos usuais começaram com Maddie e Jamie e logo eu também já tinha entendido o que eles estavam fazendo. O que me deixava um pouco sem graça e muito enojado. Eles estavam no meio do mato, entre a praia e uma estrada de terra. Não era o melhor jeito de fazer tal coisa. Mas quem sou eu para julgar?

Às quatro horas Tony reclamava que estava com fome e todos concordavam que talvez já tivesse passado da hora de voltar. 

Bloody KnucklesOnde histórias criam vida. Descubra agora