Capítulo 14

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A manhã seguinte começou quase na hora do almoço e todos estavam em seus trajes de "férias na casa de praia", sentados em volta da mesa da sala esperando Tony ou James propor o que faríamos a seguir. Decidido que Jamie e Maddie iriam ao mercado, nós quatro ficamos responsáveis por limpar a casa, que não era utilizada desde o verão do ano anterior e depois do almoço iríamos à praia.

Fizemos o máximo que conseguimos para deixar a casa razoavelmente limpa para que nós a habitássemos pelos próximos dias e logo o casal voltava com sacolas de compras e já começavam a guardar as coisas nos armários da cozinha, que era dividida por uma bancada da sala. Almoçamos macarrão preparado em conjunto por todos que, aliás, e tenho certeza, não tinham experiência nenhuma na cozinha e saímos calçando chinelos para caminhar até a praia. Caminhar não era exatamente a palavra certa, pois a casa ficava na frente da praia e só precisaríamos atravessar a rua. À nossa direita, a cerca de duzentos metros, havia um píer de madeira, onde alguns barcos pequenos estavam ancorados e balançavam com o movimento das ondas. A extensão de areia da calçada até a água era povoada por algumas famílias, mas não eram muitas pessoas. Isso me deixa bem mais confortável com a situação toda.

Tony e James já estavam sem camiseta e todos carregavam os chinelos nas mãos, enfiando os pés na areia quente. Kath parou para tirar seu vestido e acabou caindo de bunda no chão, um tombo muito engraçado, que arrancou uma gargalhada alta do atleta mais novo e agora estava reclamando que tinha ficado coberta de areia. Tony a levantou e correu com ela nos braços até o mar, onde a soltou, atingindo a água com um barulho e soltando um grito que foi escutado por todos que descansavam entre eles e nós.

Larguei os chinelos na areia quando todos pararam, provavelmente definindo em silêncio que ali seria o lugar onde nós ficaríamos o resto do dia, e estendi a toalha na areia, fazendo o mesmo com as cangas das meninas e me sentando ali. James já havia se acomodado em uma cadeira de praia dobrável e assistia por trás dos óculos escuros a sua namorada se despir em câmera lenta, ainda segurando o celular. Aposto que ela dormia e tomava banho da mesma maneira. Não podia negar que havia um motivo para todo o teatro (quase striptease), ela realmente era muito bonita e tinha um corpo muito bonito e atlético e era claro que ela sabia de tudo isso. Broke se despia da camiseta branca e dos shorts e os guardava em sua bolsa, se sentando ao meu lado.

- Faz tanto tempo que não vou à praia e é estranho como isso tudo ainda é muito familiar.

- Sei como é. Acho que eu não pisava na areia há dois anos ou mais. Você não viajava muito? Pensei que as pessoas da cidade costumavam viajar sempre que possível – respondi, tentando não encarar seu corpo a mostra.

- Sim, mas essas "pessoas da cidade" de que você fala provavelmente seriam só os meus pais, que estavam sempre viajando a trabalho. Eu acabava ficando em casa ou com meus avós e eles não são muito divertidos.

- Avós são legais. Eu não tenho nenhum. Tanto por parte de mãe, quanto de pai, todos já morreram.

- Sinto muito. Avós são mesmo legais. Mas os meus não me levavam a praia no tempo livre – ela sorriu e pegou o protetor solar, despejando um pouco nas mãos e passando nas pernas, na barriga e nos braços. Estendeu o tubo para mim e então terminei o serviço de esfregar loção branca em suas costas. – Obrigada. Sua vez, vire-se. Ela passou protetor nos meus ombros e desceu as mãos até a minha cintura. – Ainda sobrou um pouco, posso?

Antes mesmo que eu pudesse responder, ela já havia espalhado protetor solar por metade do meu rosto, fazendo com que eu sentisse o gosto de química e rindo com a careta que fiz ao tentar me livrar daquilo.

Tony e Kath ainda tentavam se matar no mar, submersos até a metade das coxas, eles jogavam água um no outro e tentavam correr para longe para se proteger da revanche.

- Eles parecem estar mesmo se divertindo.

- Kath tem uma quedinha por ele, mas se recusa a admitir – Broke sorriu. – por isso sempre o responde mal. Parece que finalmente ela está demonstrando alguma coisa.

Sem saber o que responder, eu apenas continuei assistindo os dois agitando a água. O resto da tarde se passou dessa mesma maneira, observando o movimento e ocasionalmente sendo o movimento, entrando na água e tentando esquecer qualquer coisa ao meu redor.

Voltamos para a casa quando o sol já ficava fraco e o vento começava a ficar mais forte. As crianças já não brincavam mais de fazer castelos de areia e as poucas que ainda estavam na praia vestiam suas roupinhas com a ajuda dos pais e guardavam os brinquedos coloridos em sacolas transparentes. Os guarda-sóis eram fechados, um por um, clareando a visão e deixando a praia cada vez mais monocromática. O ar ficava cada vez mais úmido e aos poucos éramos praticamente os únicos ali.

- Vou tomar banho. Há outro banheiro no fim do corredor caso alguém queira ir também. Senão me aguardem – Tony corria em direção à porta branca. – Kath está convidada a entrar junto – ele se virou pela ultima vez e ela arremessou sua toalha cheia de areia nele. Fechou a porta e ligou o chuveiro.

Quando todos estavam trocados, o sol já tinha descido e o céu estava escuro. Jantamos e arrumamos as coisas antes de nos sentarmos na sala. Todos lado a lado, quase em roda, relaxados e corados de um dia na praia. Eu podia sentir meu rosto quente, provavelmente queimado e vermelho e a conversa que se seguia era aleatória. Isso era simples e eu estava gostando. Não havia pressão, não havia frases a serem lidas nas entrelinhas. Ninguém estava fingindo. Estavam todos de pijamas e ver que eles eram tão normais e tão estranhos quanto eu era confortante. Eu estava me sentindo acolhido dentre eles e pela primeira vez na vida. Era como se nos conhecêssemos há muito tempo e eu estivesse em casa.

Depois de algumas horas ali, conversando sobre nada, assistindo televisão e jogando jogos de tabuleiro, fomos para a cama quando já passava da meia noite.

E o dia seguinte seria igual e o outro também, intercalando momentos na praia com visitas ao centro da cidadezinha praiana, que não oferecia muito além de lanchonetes, bares, restaurantes, lojinhas temáticas de lembranças da viagem e feiras artesanais. Fazíamos tudo a pé e muito lentamente. Podíamos demorar horas para atravessar uma feirinha que continha meia dúzia de barracas que exibiam bugigangas locais. Já estávamos na metade da viagem.

Bloody KnucklesOnde histórias criam vida. Descubra agora