Capítulo 17

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Às quatro horas Tony reclamava que estava com fome e todos concordavam que talvez já tivesse passado da hora de voltar.

Alguns minutos no carro, com os pés cheios de areia, e nós estávamos de volta. O sol já estava se pondo e enquanto os outros tomavam banho e se trocavam, resolvi andar pela casa. Era uma casa grande e cheia de janelas e quartos. Passando os quartos onde dormíamos, havia mais alguns, um com uma grande televisão, um com uma mesa de bilhar, uma mesinha e cadeiras e um cheio de armários e coisas espalhadas em prateleiras e em caixas pelo chão. Entrei no último e acendi a luz, demorando meus olhos por todas as prateleiras das estantes. Livros, roupas, brinquedos e ferramentas se misturavam em meio a uma fina camada de poeira.

No canto ao lado da janela havia uma poltrona que aparentava estar ali inutilizada desde antes de qualquer um de nós nascer e ao lado dela, um violão. Alguns passos e eu estava ao lado dele, avaliando se eu pegava ou não.

- Você toca? – Tony perguntou da porta.

- Mais ou menos – respondi, me virando em sua direção.

O atleta de um metro e oitenta se aproximava em passos calmos. – Eu nunca aprendi. Meu pai costumava tocar sempre e ficou de me ensinar, mas... bem, preferi o futebol – ele riu e ergueu o violão do seu local de descanso. – Vou levar para lá, você faça o que tiver que fazer e depois venha tocar, certo? – E ele já estava atravessando a porta de volta ao corredor.

- Certo – confirmei, sem muita esperança.

Depois do banho, ainda com o cabelo molhado, caminhei até a sala, onde todos estavam espalhados, sentados, de pé, conversando, andando, observando pela janela. E Broke estava sentada com o violão em seu colo e, tão concentrada quanto na prova de matemática, ela tentava tocar um acorde.

- Não consigo! – ela exclamou e suspirou em seguida, me enxergando ali, parado, então sorriu e estendeu o instrumento em minha direção. – Você sabe, não sabe?

Concordei com a cabeça e peguei o violão, me sentando ao seu lado – O quê?

- Não sei, toca uma que você goste primeiro, pra gente avaliar – ela riu e ergueu as sobrancelhas.

Pelos próximos minutos, afinei as cordas do violão, me decidindo quanto à música, e então o ajeitei na perna, retirei a palheta presa entre as cordas e respirei fundo, enquanto os outros se sentavam ou se viravam para prestar atenção. – Certo, vamos lá.

O ritmo era quase agitado e, de início, me senti enferrujado, como se nunca tivesse tocado violão na vida, mas alguns segundos depois já estava confortável tocando. Foquei os olhos na minha mão, a fim de evitar prestar atenção em quem estava me encarando e acabar me enrolando nas palavras.

I'm Low on Gas and You Need a Jacket ainda é uma das minhas músicas preferidas para tocar no violão, mas eu raramente, senão nunca, havia tocando ela para outras pessoas. Minha voz era quase tão aguda quanto à de uma menina cantando e, por mais que eu esperasse que isso fosse mudar com a puberdade, já estava convencido de que isso não iria acontecer.

Eu tinha certeza de que a letra daquela música dizia demais sobre mim. Não apenas pelo fato de o título idiota ter sido retirado de um filme tão idiota quanto, mas também porque eu expunha certo ciúmes e descrevia problemas de relacionamentos que eu só tivera dentro da minha própria cabeça. Eu acabei escrevendo essa música há algum tempo, em uma viagem de carro, mas esperava que ninguém notasse qualquer uma dessas coisas.

Cantei a primeira estrofe e ergui os olhos, esperando que a reação fosse de desaprovação total da minha falta de talento para aquilo, mas todos estavam prestando atenção, imóveis. O que acabou me deixando mais nervoso e nada certo do que eles estavam pensando sobre aquilo.

Bloody KnucklesOnde histórias criam vida. Descubra agora