- O que? - pergunto aturdida, uma sirene muito alta soava em meus ouvidos. Tom se levanta de vem se sentar ao meu lado segurando minhas mãos.
- Pedi que fizessem mais testes, os resultados ainda irão demorar um pouco, mais o prognóstico é LMA. - diz ele suavemente.
- LMA? Da pra traduzir? - pergunto ainda em choque.
- Leucemia Mieloide Aguda. Um câncer raro em mulheres e mais raro ainda na sua faixa etária. Mais com o tratamento certo os resultados são animadores. - disse ele mais vi que parecia forçado.
- Que tipo de tratamento? - pergunto já na defensiva.- E que garantias eu tenho de que funcione?
- Bem, com a quimio e rádio combinadas com o coquetel de remédios poderemos lhe conseguir alguns anos à mais. É um bom prognóstico.- disse tentando soar animado.
- Mais não há garantias que funcione. - traduzo.
- Ao que parece você ainda está no estágio 1, se começarmos o tratamento em breve teremos grandes chances querida. - disse me confortando.
- Não entendo, eu estava bem, não tem nada de errado comigo. Como eu não percebi isso? - pergunto tremendo.
- Os sintomas demoram um pouco a aparecer, quanto mais avançado piores eles ficam. - diz ele.
- Quais são eles? - pergunto nervosa.
- Você pode apresentar diversos sintomas, dentre eles: febre, perda de peso, de apetite, sudorese noturna, fadiga. Tudo isso no inicio, depois do estágio 3 começam a piorar, aparecem hematomas por todo o corpo, fraqueza, vómitos, falta de ar, hemorragias. Mais você não precisa se preocupar, não iremos deixar chegar à isso. - disse me abraçando, deixei que as lágrimas fluíssem.
Eu iria morrer, isso estava claro para mim. O que eu fiz da minha vida além de trabalhar? Onde está aquela adolescente com planos malucos que queria viajar o mundo? No que foi que eu me transformei? Essas e outras questões rodavam em minha cabeça. A única certeza que eu tinha é que não iria morrer sem antes realizar todos os meus sonhos. Antes eu sempre deixava tudo para depois, afinal eu precisava focar na minha carreira e teria tempo para isso mais tarde. Agora eu estava sem tempo.
- Sem o tratamento, quanto tempo eu tenho? - perguntei depois de me acalmar um pouco.
- Um ano, um pouco menos, não se pode dizer com certeza. - diz ele triste. - Eu sei que você esta sobrecarregada agora, mais faremos tudo com calma, irei chamar o chefe da Oncologia e esclereceremos todas as suas dúvidas antes de iniciar o tratamento.
- Não irei fazer o tratamento Tio. - digo firme e ele me olha chocado.
- Como é? - perguntou aturdido.
- Isso mesmo que você ouviu. Não vou me sujeitar à isso e perder os últimos meses que me restam de vida numa cama. Não é esse o fim que eu quero. - digo convicta.
- Lyanna, quando seus pais souberem... - o interrompo.
- Eles não vão saber, você está aqui como meu médico, tudo o que dissermos aqui é confidencial. E eu estou dizendo que não quero que ninguém saiba. - o encaro séria e ele é obrigado a concordar.
- Uma hora ou outra eles vão acabar sabendo filha. - diz ele triste.
- Isso eu não posso negar, mais enquanto eu puder evitar isso eu o farei. - digo firme. - Agora, quero que você me dê todas as informações que eu preciso saber sobre o LMA e esqueça esse assunto.
E assim ele o faz, ficamos duas horas ali com ele me falando tudo o que iria acontecer e como eu poderia lidar com isso, me dizendo o que esperar e tentando me convencer a fazer o tratamento, confesso que eu estava quebrada por dentro, mais não iria desmoronar agora. Eu não podia. Depois dele ter me explicado tudo eu segui para a UTI afim de saber sobre Maia.
Dr. Steven estava por ali junto dos meus vizinho e me cumprimentou alegremente antes de eu adentrar o quarto da minha amiga. Me sentei ao seu lado e segurei sua mão.
- Vamos lá Frey, não me deixe sozinha aqui. Preciso de você.- digo acariciando seus cabelos. - Preciso mesmo de você agora. - deixo uma lágrima escapar. Alguém entra no quarto e eu me apresso em me arrumar.
- Ao que parece Dr. Hart já falou com você.- diz Nina se colocando ao meu lado e eu acenti, não confiando em minha voz. - Vai ficar tudo bem pequena. - diz ela me abraçando e eu nego com a cabeça.
- Não irei fazer tratamento nenhum Nina, não quero terminar minha vida assim. - digo já chorando.
- Você é jovem! Tem muito o que viver ainda, não pode desistir assim. - me repreende ela suavemente.
- Não estou desistindo Nina, quero aproveitar o pouco tempo que me resta, não quero ficar presa em uma cama. - digo entre as lágrimas. Ela apenas acaricia a minha cabeça enquanto meus soluços de tristeza me consomem. Vinícius e Miguel entram no quarto algum tempo depois e nos olham desconfiados.
- Venha Anna, vou te levar ao seu lugar favorito. - diz ela me levantando gentilmente, eu nem tentei esconder as lágrimas ou minha aparência de derrotada dos dois. - Eu cuidarei dela e vocês monitorem a menina Maia. - ordena ela e eles apenas concordam meio confusos, afinal minha melhor amiga estava estável e eu estava me acabando em prantos.
Nina me guiou pelo hospital, eu não via para onde estávamos indo pois meus olhos estavam muito embaçados com as lágrimas para eu me importar com alguma coisa.
- Aqui, chegamos. - diz ela parando em frente à uma janela de vidro. Limpei minhas lágrimas e vi onde estávamos, uma paz começou a tomar conta de mim.
- Obrigada por me trazer aqui. - digo com a voz falha.
- Lembro de quando você fugia para cá. Passava horas observando os recém nascidos. - diz ela me abraçando de lado e olhando para os pequenos bebezinhos que estavam ali atrás do vidro.
- Eles são tão lindos, tem uma vida toda pela frente. Sempre me senti bem aqui. - fiquei ali olhando para eles por algum tempo, tão pequenos e cheios de vida. Depois de algum tempo ela recebeu um chamado da emergência e teve que ir, fiquei por ali mais alguns minutos tomando longas respirações e fortalecendo minha armadura. - Vamos lá Stark! Não é hora pra fraquejar.
Me arrumei da melhor maneira que pude e segui para a UTI, Maia ainda estava na mesma porém menos pálida. Os vizinhos ainda estavam ali, segui para eles já que os mesmos estavam em frente ao posto das enfermeiras.
- Você poderia verificar pra mim como estão os quatro agentes que deram entrada na emergência à umas 4h atrás? - pergunto a uma delas que acente e pesquisa algo no computador.
- Estão prestes à ser liberados. - disse ela sorrindo para mim.
- Obrigada. - digo suavemente.
- Como você está? Parecia abalada quando a enfermeira Nina te tirou daqui. - perguntou Miguel se aproximando com Vinícius.
- Estou bem. - digo séria. - Obrigado pela preocupação. - nesse momento o Dr. Steven vem apressado em direção à OR.
-Stark! Precisamos conversar, tenho uma cirurgia agora mais em algumas horas estarei livre. - disse ele praticamente derrapando em minha frente.
- Ainda estou de plantão, então não vai rolar. - digo fria e ele me censura com um olhar.
- Irei procura-la mais tarde, e garanto que a encontrarei. Teremos essa conversa hoje. - afirmou sério, me deu um beijo na testa e saiu antes que eu pudesse contestar.
- E-eu tenho pacientes para visitar. - disse Vinícius saindo de fininho.
- Ok, isso foi estranho. Eu tenho homens para liberar, meu chefe para lidar e um médico inconveniente para dispensar. - digo olhando para o corredor onde Vinícius acabara de desaparecer. - Nos vemos por ai. - Miguel parecia querer falar algo mais eu simplesmente segui em direção ao elevador rumo à emergência.
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Reaprendendo A Viver (Em Pausa)
ChickLitLyanna é uma mulher forte e decidida de 28 anos, delegada durona e orgulho dos pais. Sua vida é basicamente resumida em trabalho e casa. Apesar de vir de uma família rica ela se recusa a fazer parte desse circulo social. Apesar de não demonstrar ela...