[...] Eu tenho tudo para ser feliz
Mais acontece que eu sou triste.Vinícius de Morais.
Eu estava tranquila lendo quando um rapaz jovem, moreno, da minha idade mais ou menos se sentou ao meu lado.
- Com licença. - disse ele e eu apenas lhe dei um sorrisinho simpático e ele se sentou em seu lugar.
- Fique à vontade. - respondo voltando minha atenção para o livro que havia comprado à pouco, nele estavam todas as informações importantes sobre o LMA. Não era uma leitura fácil, e nem relaxante, mais era necessária. Eu estava ficando levemente temerosa, descobri que meu câncer basicamente transforma meu sangue em água. Legal. Realmente empolgante. Eu poderia tentar um transplante de medula óssea, mais as chances de achar um doador compatível eram quase nulas, e eu não estava disposta a enfrentar a quimioterapia.
Não entra em minha cabeça que eu estou morrendo, parece que eu sou apenas uma espectadora, assistindo tudo isso de perto mais sem interferir em nada. Ainda é surreal.
- Desculpe, não pude deixar de notar o conteúdo do seu livro, você é médica? - eu o olhei surpresa. - Que falha a minha, Dr. Natan Sullivan, muito prazer. - disse me estendendo a mão a qual eu prontamente aceitei.
- Delegada Lyanna Stark. - respondi com um sorriso vendo seu espanto.
- Eu, pensei. Eu, ah, me desculpe. - gaguejou ele apontando para o livro.
- Tudo bem, em que área você trabalha? - perguntei gentilmente tentando diminuir o embaraço do rapaz.
- Fiz minha especialidade em Hematologia. Por isso perguntei. - respondeu meio constrangido.
- Compreendo, comprei-o na intenção de entender todas as facetas do LMA, é uma doença complexa. - repondo pensativa.
- Realmente, um paciente precisa de pelo menos quatro especialistas cuidando de si, não é uma doença fácil de se levar, progride muito rápido e um diagnóstico precoce pode ser decisivo para o tratamento. - respondeu ele conciso, assumi que esse era o tom que ele usava quando estava falando de trabalho.
- Alguém que recuse tratamento, ou que o comece tardiamente, tem alguma chance de recuperação? - perguntei com calma não demonstrando meu real interesse. Nesse momento o piloto avisou que estávamos decorando e que deveríamos apertar os cintos.
- É complicado. - respondeu ele depois de algum tempo. - Se o tratamento começar muito tarde, terá de ser muito mais agressivo e tem a possibilidade de não surtir efeito, além de que precisariam de um doador de medula compatível pra ontem e um estoque grande de sangue, a quimioterapia seria muito agressiva, não teríamos certeza se o paciente aguentaria. - pausa. - Sem o tratamento, não há chance de sobrevivência. Posso perguntar de onde surgiu o seu interesse? - vi que ele estava realmente curioso sobre minha resposta.
- Minha Irmã foi diagnosticada com a doença. - minto. - Seu prognóstico é de um ano.
- Eu sinto muito. - respondeu ele ligeiramente triste. - Como ela está lidando com isso?
- Bem, eu acho. Ela está na fase de negação ainda. - isso não deixa de ser verdade.
- Ainda não aceitou nenhum tratamento? - perguntou gentilmente, uma pequena turbulência nos atingiu me fazendo segurar firme no banco. Odeio isso, sempre penso que essa coisa vai desabar. Vai saber a qualidade desse piloto.
- Não. - respondo assim que tudo fica mais calmo. - E creio que nem vá aceitar, ela escolheu viver. - sorrio.
- Entendo. - diz ele meio pensativo. Depois disso eu voltei minha atenção para o livro e ele também pegou um de sua mochila.
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Reaprendendo A Viver (Em Pausa)
Chick-LitLyanna é uma mulher forte e decidida de 28 anos, delegada durona e orgulho dos pais. Sua vida é basicamente resumida em trabalho e casa. Apesar de vir de uma família rica ela se recusa a fazer parte desse circulo social. Apesar de não demonstrar ela...