Capítulo 7

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Abri os olhos, devagar.

Não, não é isso que está pensando. Eu ainda estou aqui. Em coma, numa cama de hospital, aquilo foi bem diferente. Eu estava acordando depois do ataque.

Meus olhos demoraram para se acostumar com a luz, uma lâmpada azul grande me cegou assim que acordei. Minha mente era uma mancha. Não me lembrava, assim como na primeira vez em que fui ao Bunker.

Um barulho de um pequeno ronco chamou minha atenção. Ao lado da cama em que eu estava deitada, um Wei-Wei dormia pesadamente numa cadeira. Ele estava bem. Sorri. Ele era adorável.

Vi que usava roupas de hospital, fiz uma careta ao perceber, aquela bata azul esquisita me deixava quase exposta. Meus olhos focaram numa pilha de roupas em cima de um criado-mudo, minhas roupas.

Levantei da cama devagar, sentindo uma dor terrível na altura do tórax, o quarto tinha um cheiro agradável de lavanda, o chão estava gelado. Em passadas leves, cheguei ao criado-mudo pegando minhas roupas.

Certo, eu não poderia vestir aquilo. Ninguém se deu ao trabalho de lavar. As roupas estavam rasgadas em diversos pontos, e tipo, ainda tinha sangue na calça e nas mangas. Eu teria que continuar usando aquele tipo de pijama semi-aberto.

Caminhei até a porta, na esperança de abri-la, quando mãos entrelaçaram minha cintura. Dei um gemido de dor, acho que eu tinha uma costela quebrada. Wei-Wei me soltou ao ver que me machucara.

- Vai mesmo sair sem falar comigo? - ele sorriu. Me dando um abraço - Fiquei tão preocupado com você...

- Deus, você está bem! - o abracei mais forte, eu realmente queria abraça-lo antes, mas somente quando ele estivesse acordado.

Passamos um tempo dizendo e relembrando onde estávamos durante o ataque e tudo o que havia acontecido, como ficamos preocupados. Então ele me perguntou se eu me lembrava como fui parar ali.

Franzi o cenho. Cara, como eu fui parar ali?

- Tem idéia do que aconteceu? - ele segurou meu rosto entre as mãos. Balancei a cabeça em negativa.

- Eles estão vivos? - perguntei com medo.

- Estão inteiros. Você os salvou. Ray, mas você quase morreu. Eu não sou a pessoa mais indicada para te dizer o que houve ontem, mas eu sei o bastante. - ele me encarou com seus olhos achocolatados, pareciam tristes. Suspirei, indo me sentar, com uma forte dor no quadril.

- Sabe, quando a dor é forte demais para ser suportada, a gente desliga, como um celular descarregado. Foi isso que aconteceu com você, você os tirou de lá, mas não saiu. Ray, você podia ter morrido! - ele pôs as mãos na cabeça - Tudo desmoronou, e você estava lá. Você estava lá! Houveram buscas, três dias atrás, quando te encontraram, quando eu pensei que você estava morta, quando você estava, por um milagre, respirando! - uma lágrima rolou pelo seu rosto, sentado na poltrona ele desabava entre soluços e preocupação.

Eu não sabia o que fazer.

Consolar alguém sempre é difícil, principalmente quando você é a causa da tristeza. Eu aprendi isso há algum tempo, da maneira mais difícil.

Porque eu era tão egoísta, e ao mesmo tempo tão altruísta. Eu os salvei ficando para trás, sem pensar uma vez sequer em Wei-Wei. Ou em meu pai, Lucy, Carter, ou em qualquer outra pessoa que se importa comigo...

- Eu sinto muito - sussurrei, me aproximando. - Sinto muito mesmo.

- Eu sei como é difícil para você. Não entendo, mas sei que... sei que você não podia ver mais alguém morto quando você poderia ter feito algo - ele soluçou com os olhos marejados - Mas...oh meu Deus! Eu te amo Rayrah Scarllet, como pôde fazer isso comigo!?

As Crônicas de Rayrah Scarlett: Mistérios em Mondian [RETIRADA EM 25/01/22]Onde histórias criam vida. Descubra agora