Capítulo 11

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Ainda estou aqui.

Ainda estou aqui.

Ainda estou aqui.

Quero gritar, minha garganta parece fechada, algo respira por mim, passando o ar pelos meus pulmões, me fazendo inalar e exalar.

Silêncio.

Ouço gotas caírem. Ping. Ping. Ping. Ping. Se juntam umas as outras, me enlouquecem. Ping. Ping. Ping. Ping. O som perturbador de um relógio se junta na música enlouquecedora. Ping. Tic. Ping. Tac. Ping. Tic. Ping. Tac...

Ouço a melodia o tempo inteiro, não cessa, não para, não cansa. Se não sair daqui, eu vou ficar louca.

Algo arde na minha garganta.

A ponta dos meus dedos formiga. O formigamento vai subindo por todo o meu corpo, eu quero pular da cama, me sacudir, correr. Não posso. O formigamento continua, e o ar começa a me faltar. De repente, a escuridão que vejo se torna um clarão, branco, amarelo.

Meus olhos se abrem.

Por alguns segundos encaro o teto. Ele é branco, ele é vazio. Como eu.

Estou sonhando como muitas vezes já aconteceu?

Isso é real?

Eu estou morta?

Meus pulmões reclamam, não sei a quanto tempo estou deitada aqui, então eu movo, com esforço, minhas mãos, com elas arranco a máscara de ar que me ajudava a respirar. Ela não esta funcionando afinal.

Eu não estou funcionando.

Minha coluna se dobra um pouco para trás rapidamente enquanto meus pulmões retomam o fôlego com saudades. É como se eu estivesse me afogando e então respirasse novamente. É maravilhoso. Minha tosse sai seca.

Eu...eu estou acordada.

Eu estou viva!

Tiro um par de ventosas estranhas que estavam grudadas nas minhas têmporas e conectadas a um aparelho atrás de mim. Doi um pouco quando elas desgrudam.

Me sento na cama. Observando onde estou. O quarto tem paredes brancas, a cama é uma maca com lençóis finos, ao meu lado, há um suporte para bolsa de sangue ou soro. Mas nele não há nenhum dos dois, há um líquido estranho, escuro, arroxeado, quase preto, dele saem tubos finos que se ligam a uma veia em cada braço meu. Franzo a testa, pensando o que isso pode ser e por quê estavam injetando em mim. No quarto há também um espelho grande num canto e uma janela pequena, ela está aberta e posso ver a paisagem lá fora. Uma montanha bonita e cheia de neve se apresenta como num quadro.

Estou realmente longe de casa, penso.

Trocaram minhas roupas. Uso uma calça branca, uma camiseta também branca. Minha pele se destaca. Me viro lentamente por ainda estar meio grogue, e piso com os pés descalços no chão frio. Um arrepio me percorre a espinha.

Agarro o suporte e o uso para me ajudar a caminhar, é difícil, parece até que esqueci como andar. Dou um passo e me curvo, meus pulmões doem, dou um gemido baixo.

Para minha surpresa e temor, a porta se abre. Vejo um homem alto e de jaleco branco, me parece um médico, ele me fita com surpresa, fica estático, com olhos arregalados. Em seguida, bate e fecha a porta. Ouço o som dela se trancando, antes de me jogar nela.

- Espera! - minha voz sai frágil, trêmula, um sussurro inaudível. Bato o punho contra a porta trancada com toda a força que me resta. Xingo mentalmente todos os C-P's por me colocarem nessa. Além de balbuciar uma lista completa de palavrões.

As Crônicas de Rayrah Scarlett: Mistérios em Mondian [RETIRADA EM 25/01/22]Onde histórias criam vida. Descubra agora