Capítulo um

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Ashley

Acordo com o som irritante da campainha, percorro as escadas ainda sonolenta e vejo que são 5h da manhã, me pergunto que diabos alguém faz acordado essa hora.

Caminho até a porta e quando abro deparo-me com o ser mais desprezível da face da terra, e vou logo lhe recepcionado como deve ser:

— O que você quer – digo o mais educada possível. Reparei que trazia com ela uma torta, até tenho pena dela, acha que com isso pode conquistar meu pai. Imagine.

— Bom dia querida, como você está? – diz com seu típico sorrisinho forçado. Argh. Me pergunto o porquê dela se esforçar tanto, até um idiota pode farejar aquela falsidade a quilómetros. Odeio gente hipócrita.

— Com sono – digo – portanto vou dormir – ignoro o que ela diz a seguir e fecho a porta. Mas para minha sorte meu pai aparece e, lá vem a bronca:

— Isso são modos mocinha –faz uma pequena pausa e abre a porta – por Deus Ashley é muito cedo para você destilar seu mau humor, a senhorita Helena pensará que não a ensino bons modos –  finaliza quase trincando os dentes. Revirei os olhos. Quem se importa com o que a bruxa de olhos verdes pensa.

— Não se preocupe Dom, eu estou acostumada com o mau comportamento de sua filha – diz tocando-o no ombro, como se realmente tivesse a capacidade de compreender alguma coisa. Descarada. Juro que se não estivesse com tanto sono eu responderia a altura e mandava os bons modos para o inferno.

Haja santa paciência!

— Bem – mas minha prioridade no momento é minha cama – peço imensas desculpas pelo meu comportamento senhorita Helena – finalizo fazendo questão de enfatizar as últimas palavras e vou directo para meu quarto antes que perca a pouca sanidade mental que me resta. Estava tudo pronto para recuperar meu sono sagrado, mas como de costume, nada me ocorre bem nesta vida...

— BOM DIA ASHLEY – diz Emily, gritando, sorridente como sempre. Nem sei como ela consegue acordar de bom humor. Como isso é possível?

— Só se for o seu – digo desanimada reprimindo a vontade que tenho de chorar. Que ideia é essa da Emy, em que mundo ela vive, tem a ousadia de incomodar meu precioso sono e ainda me vem com um "bom dia". Argh. Não sei como um ser humano consegue acordar cedo todos os dias, e pior, atormentar os que necessitam dormir.
Já é hábito para mim a minha "mãezinha" me acordar todos os dias, mas definitivamente, não consigo me acostumar. Até lhe sugeri a brilhante ideia de casar com meu pai – sei que ela tem um fraquinho por ele, não posso culpa-la por isso, definitivamente não posso culpar ninguém por isso – mas ela simplesmente recusou. Vê se pode, garota doida.

— Que mau humor Ash... Hoje é o último dia de escola – diz sorrindo pela carranca que fiz – temos nossa formatura e à noite, BAILE DE DESPEDIDA DOS VETERANOS.

—Como é? Como diabos eu me esqueci disso? – Sei que em condições normais eu devia saber disso mas... No mesmo instante começo a pular e gritar em alto e bom som – torcendo para que o quarteirão inteiro me escute, inclusive a bruxa – finalmente... finalmente.... finalmente irei me livrar da bruxelena – começo a cantarolar vezes sem conta, é o único que consigo dizer e com isso Emy, gargalha.

Bem, eu tenho meus motivos para não suporta-la, nem como directora e muito menos como amiguinha do meu pai. Além de ser hipócrita e extremamente insuportável, por algum motivo me odeia. Opha, que sorte a minha. Estava perdida em meus devaneios que nem tinha apercebido que Emily falava comigo:

— Ash... Entendeu o que eu disse -balanço a cabeça negativamente e ela prossegue – Como eu dizia, o que pensa em vestir? Um daqueles pedaços de pano que chamas de roupa – diz debochando.

Ela tem muita sorte de ser minha amiga e de meu humor ter alterado nos últimos minutos. Pensei.

Caso contrário não sei o seria dela, mas concerteza não sobraria muito para me importunar.

— Sim, porquê? Não há nada de errado com minha roupas –falo com destém – tem uma ideia melhor madame Emily.

— Você tem muita sorte de me ter como amiga – diz quase dando pulos de entusiasmo –vou dar um jeito para você estar deslumbrante hoje - finaliza confiante.

Sei que devia me importar por ela ter, literalmente, me chamado de brega e esfarrapada, mas hoje, nem ligo. Sei que ela veste bem e tal, mas acho ela muito Patty e pink para o meu gosto.
Bem, que comesse o espetáculo...

                        •••
A arrumação para formatura foi bem simples e menos 'torturante'. Graças a Deus a roupa erra a mesma para todos, menos uma preocupação. Foi um momento único, ver todos os finalistas reunidos, os convidados sorrindo para os seus da plateia e os discursos de despedida que cada representante de turma vez. Foi realmente único e inesquecível. Mas, como sempre, tudo que é bom dura pouco e passamos para fase não tão relaxante 2: a arrumação para o baile.

Nem sei por quanto tempo fui torturada pela madame Emily, mas podemos dizer que valeu a pena, só hoje, olho meu reflexo e, sinceramente, tenho que admitir que ela fez um bom trabalho. Mas ela tinha que estragar tudo se vangloriando e me enchendo com o típico discursinho barato de "estas tão linda" "irreconhecível" e blá blá blá...

Fala sério!

Na verdade me sinto estranha – não é para menos, estou todo enfeitada de rosa – pareço um projecto de Barbie roqueira – mas hoje não me importo, estou mandando tudo para o inferno.

Escutamos o som da buzina, Ethan deve ter chegado para nos buscar, descemos rapidamente as escadas, indo  para o bendito baile, mas antes tivemos que despedirmo-nos do meu pai. Para minha sorte encontro ele jogado no sofá vendo uma partida de football – pra variar –esse é seu maior passatempo ultimamente. Quando me vê arregala os olhos e diz:

— Wow, que feitiço ela usou em você?... Você está linda Ash, até parece uma adolescente de 16 anos, não uma velhinha mendiga e esfarrapada – graceja. Não me dou o trabalho de ligar para suas provocações, apenas digo um "tchau" e saio batendo forte a porta, deu até para ouvir sua gargalhada do lado de fora. Argh

                          •••
— Chegamos – diz Emy, animada – Estou indo, como membro da comissão organizadora do evento tenho que algumas tarefas por cumprir, vejo vocês depois – faz um sinal de beijos ao ar, abre a porta do banco do carona e sai apressada.

— Não se atreva a fazer piada, você também não, eu te proíbo – digo descendo do carro antes que ele abra a porta para mim – Não se atreva!

— Amor, eu jamais faria isso, você me conhece – diz saindo também, tranca o carro, dando a volta para me encontrar. Ele coloca a mão na minha cintura e me faz encará-lo – Eu te amo Ash e não me importo com suas tendências peculiares de moda – finaliza selando seus lábios aos meus, e eu fico sem argumentos para protestar, eu estava esquecendo de onde nós estávamos e o que fazíamos lá. Porque nada mais importava, só eu e ele.

A mestiça- entre Dark e Crystallis [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora