Figurante

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Naquele tempo eu não era mais do que uma ponta solta, algo não calculado

O sentimento de ser apenas mais um número, um número para aumentar nas estatísticas

Era agonizante, algo do qual já me sentia cansado

Mas nada podia fazer, eu tinha ficado com o papel de figurante em minha vida

Vivendo uma vida morta

De um lado, um pai manipulador, que a única coisa que adorava eram as suas mentiras

Do outro, uma mãe que ainda lutava para atingir as suas metas

Talvez eles fossem os personagens principais da minha vida

Nunca soube muito bem, se era em casa ou na escola que eu mais odiava

Eu vivia fantasiando, vivia fingindo que estava longe de todos e de tudo

Escola ou casa, não havia diferença eu apanhava de todos

Nem com aquelas palavras sobre Deus aos Domingos eu sentia conforto

Talvez não fosse suposto ajudar-me, ninguém me ouvia, não passava de um figurante morto

Apenas um menino feio, lento e gordo

Com quem todos gozavam, mal conseguia correr, mal conseguia defender-me

Eu já não mais rezava

As orações não surtiam efeito, as lágrimas não os faziam parar, era eu contra o mundo

E no meio de tudo isso, aturar uma velha gorda

Que passava o dia em frente ao quadro gritando que nem uma histérica

Sempre fedendo a álcool, nunca gostei dela, sempre gozando com a minha forma

Boatos diziam que o marido trocou-a com a melhor amiga, uma mulher negra e culta

E desde então ela havia embarcado com um bilhete só de ida a depressão

Eu era apenas um rapaz naquela altura, um rapaz procurando uma ilusão

Apenas mais um cálculo errado

Uma ponta solta, o figurante de um filme produzido com um mal orçamento.

As Minhas Notas( A Vida De Daniel Richard)Onde histórias criam vida. Descubra agora